segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Mais um diretor que volta das cinzas...

Logo abaixo eu escrevi sobre Black Book, o filme que marca a volta de Paul Verhoeven. Agora é a vez do mestre que nos trouxe a trilogia The Godfather (cujas partes I e II estão entre as maiores obras-primas do cinema mundial), Apocalype Now ("O" filme de guerra), The Cotton Club e Tuker: the Man and His Dream. Há 10 anos ele não dirigia. Seu último filme foi The Rainmaker, de 1997, que foi bem mais ou menos, mas nada comprometedor.

Em 2007, depois desse longo jejum, Coppola voltou, dessa vez com Youth Without Youth. Esse filme está passando agora no Festival do Rio 2008 mas eu o encontrei numa locadora de filmes Região 1 e não tive dúvidas em alugá-lo. Arrependi-me amargamente... 

O filme conta a estória de um romeno de 74 anos chamado Dominic (vivido por Tim Roth), em 1938. Ele alcançou essa etapa da vida sem ninguém ao seu lado e sem completar sua obra de vida, um ambicioso livro sobre a origem da linguagem. Ele decide se matar mas, ao atravessar a rua, é eletrocutado por um raio mas não morre. Ao contrário, ele rejuvenesce para seus 40 anos, uma espécie de segunda chance para terminar o que começou. Ao mesmo tempo, ele adquire uma memória impressionante e a capacidade de aprender apenas olhando livros e mentes. Os nazistas se interessam por ele e a estória, então, se desenrola como uma espécie de thriller de espionagem mas sem o "thriller" e sem a "espionagem" e, como se isso não bastasse, tudo em câmara lenta...

Lá pelo meio do filme, depois de torturantes 60 minutos e cronologicamente pela década de 50, o filme muda completamente - mas não para melhor - quando Dominic encontra uma moça chamada Veronica (Alexandra Maria Lara) que basicamente é a reencarnação de sua amada Laura, há muito falecida. Um raio cai na cachola da mulher (êta coincidência arretada, sô...) e ela passa a falar sânscrito, depois egípcio e outras línguas perdidas... Os dois passam a viver juntos em Malta pois Dominic começa a usá-la para acabar a obra de sua vida, aquela sobre a origem da linguagem (conveniente, não?).

Uma boa forma de resumir o filme é seguinte: estava torcendo primeiro para os nazistas matarem Dominic, ou que outro raio caísse na cabeça dele e, depois, que Veronica se afogasse no Mediterrâneo. 

E o pior de tudo foi Coppola exagerar nos ângulos idiotas e completamente sem originalidade. É filmagem de cabeça para baixo, na diagonal (que nem aquele seriado do Batman dos anos 60), virada de lado completamente e outras sandices, tudo com o objetivo de passar aquela sensação de sonho versus realidade, algo que já foi explorado de forma muito mais eficiente por vários diretores, de forma quase corriqueira. 

Não me considero um cara burro e acredito que todo diretor empresta um significado a cada detalhe que põe na tela, especialmente em um filme de autor como esse. No entanto, dessa vez todo e qualquer significado passou ao largo da minha capacidade de captá-lo.

Não sei o que Coppola tinha na cabeça ao fazer esse filme. Talvez um raio tenha acertado a cabeça dele, com efeitos bem diferentes dos causados em Dominic.

Nota: 3 de 10

domingo, 28 de setembro de 2008

Dead or alive, you're coming with me.


Paul Verhoeven é um diretor surpreendente. Começou sua carreira internacional (fora da Holanda, onde nasceu) com o ótimo mas violento Flesh + Blood, de 1985. O filme seguinte, de 1987, pode ser considerado ainda como um dos melhores filmes de "quadrinhos" já feitos, apesar de não ter sido baseado em quadrinhos: Robocop (uma verdadeira sinfonia de violência que a MGM, infelizmente, quer refilmar). Três anos depois, em 1990, lançou Total Recall, com o Governator e Sharon Stone e foi um sucesso tremendo. Depois, 1992, aproveitando o sucesso, transformou Sharon Stone em um dos maiores símbolos sexuais do cinema moderno, com o intrigante e sensual (quase explícito) Basic Instinct. Talvez alucinado por três grandes sucessos seguidos, em 1995 lançou Showgirls, um grande fracasso de público e de crítica (merecidamente, aliás). Dois anos depois voltou à ficção científica com o filme dos baratões espaciais, Starship Troopers, que foi bem mediano. Em 2000, nos brindou com o terrivelmente ruim Hollow Man, com Kevin Bacon.

Seis longos anos de silêncio se seguiram. Talvez Verhoeven tenha tirado esse tempo para se despoluir de Hollywood.

Black Book (Zwartboek, no original) foi o resultado desse "tratamento". E Verhoeven parece ter novamente encontrado seu tino para a direção.

Ele nos apresenta uma estória de espionagem, traição e amor, passada nos últimos meses da 2ª Guerra Mundial, na Holanda, que envolve fuga de judeus, a resistência holandesa e o alto-comando nazista. É a estória de Rachel Stein (Carice van Houten), uma sobrevivente judia que se torna uma espiã da resistência holandesa infiltrada no centro de inteligência dos nazistas. O filme é cheio de reviravoltas e mantém o mistério até o final. A ambientação é perfeita e passa a sensação exata da dúvida tanto da resistência, entre salvar os holandeses ou os judeus, quanto dos nazistas, em defender o Reich em seus momentos finais ou aproveitar-se da situação para fazer uns trocados às custas das vidas de outros. 

A manipulação da imagem por Verhoeven é sensacional e suas marcas registradas continuam lá: violência às vezes ao extremo e cenas de sexo ou relacionadas ao sexo jogadas de forma bem despudorada. É o nosso velho conhecido voltando à forma, depois de fracassos retumbantes. 

Espero que seu próximo filme, Azazel, a ser lançado em 2009, confirme o ressurgimento desse grande diretor.

Nota: 8 de 10


sábado, 27 de setembro de 2008

Mais um dos grandes que nos deixa

Paul (Leonard) Newman foi e sempre será conhecido, para mim, como o ator preferido de minha mãe (talvez junto com Steve McQueen). Ele faleceu ontem, após meses de luta contra um câncer no pulmão, aos 83 anos.

Viveu longamente e viveu bem. Nos deixou obras memoráveis como Cool Hand Luke, Butch Cassidy and the Sundance Kid, The Sting, Towering Inferno, The Hustler, The Verdict, The Color of Money (repetindo o papel que fez em The Hustler) e The Hudsucker Proxy. Suas duas últimas obras para o cinema foram o excelente Road to Perdition em 2002 (foto) e a voz de Doc Hudson em Cars, de 2006, talvez o mais bacana dos personagens do desenho. Ganhou o Oscar de melhor ator por The Color of Money, uma premiação que, com certeza, chegou muito atrasada.

Durante sua vida, Paul Newman não contribuiu apenas para o cinema mas também participou fortemente de campanhas humanitárias, culminando, em 1982, com a criação da linha Newman's Own, de molhos de salada, que logo foi ampliada para pipoca, limonada, molhos de massas e vários outros ítens gourmet. Todo o lucro da venda desses produtos é automaticamente revertido à caridade. Para se ter uma idéia do tamanho da empreitada, até 2006, mais de 200 milhões de dólares já tinham chegado às mãos dos mais necessitados.

Uma grande perda mas, com certeza, sua vida e obra permanecerão vivas nas mentes e corações de todos.



sábado, 20 de setembro de 2008

Do (doe) - a deer, a female deer...

A Noviça Rebelde - o musical de teatro - estreou por aqui com grande estardalhaço. Fiquei com um pé atrás (os dois para dizer a verdade). Não foi pela obra em si, pois adoro o clássico filme de 1965, estrelando Julie Andrews e Christopher Plummer (eu sei, eu sei, A Noviça Rebelde, antes de ter sido filme, era um musical da Broadway mas a peça montada no Brasil sem dúvida é uma adaptação do filme e, além disso, foi com o filme que Maria, o Capitão e as crianças von Trapp ficaram conhecidas mundialmente). Estava era receoso com a versão para o português das imortais canções de Rodgers e Hammerstein.

Assim, achando que não iria gostar do espetáculo, fui assisti-lo.

Ainda bem que, dessa vez, eu estava completamente errado. E vamos às razões:

1. O cenário:

Os produtores - Charles Möeller e Cláudio Botelho - aparentemente fizeram de tudo para colocar o que há de melhor nos cenários. O efeito dos alpes austríacos ao fundo é muito bem feito, o convento tem detalhes impressionantes e a mansão dos von Trapp é perfeita em tudo, seja o quarto de Maria, seja o terraço ou o salão principal.

E os produtores também não economizaram nos efeitos especiais, projeções em telão e iluminação. Todos esses fatores colocam essa montagem de A Noviça Rebelde no mais alto nível Broadway-sytle.

2. Os figurinos:

Fidelíssimos ao filme, os figurinos são muito eficientes, detalhados e correspondentes à época em que se passa a estória (1938).

3. O elenco:

Nenhuma peça é perfeita e, ainda que eu tenha muitos elogios ao elenco, vou começar pelas minhas implicâncias.

A primeira delas é a escalação de Herson Capri para o papel do Capitão Von Trapp. Não que ele não tenha o tipo necessário para o papel. Isso ele tem e evoca bem Christopher Plummer. O problema é quando ele abre a boca para cantar. Os produtores e os diretores da peça tomaram uma sábia decisão ao impedir que ele tivesse muitos números e, quando tem, é logo acompanhado em coro pelas crianças e por Maria. Isso diminui o efeito do serrote atravessando seu cerébro, que é o que senti quando ele entoou as primeiras notas...

O outro problema é Fernando Eiras, que faz Max, o produtor musical que quer levar as crianças para cantar no festival. No filme, Max é, digamos, excêntrico mas não um cara que solta plumas e paetês por todos os lados. Não estou cobrando fidelidade total ao filme mas é que essa "modernização" ficou forçada e não agrega absolutamente nada à peça. É aquele velho ditado: para que consertar algo que está funcionando?

Bom, minhas reclamações acabaram. Os demais do elenco - a Madre Superiora, as crianças, as freiras, a Baronesa, para citar alguns - são todos muito bons e cumprem bem o seu papel.

Mas o destaque mesmo vai para Kiara Sasso. Além de bonita com Julie Andrews era, ela sabe cantar e atuar perfeitamente, com uma presença de palco emocionante. Obviamente, ajuda o fato de ela ter o melhor papel mas isso não desmerece sua capacidade de atuar e de se tornar, sem esforço, o centro das atenções mesmo quando está compartilhando o palco com quase todo o elenco ao mesmo tempo.

4. A adaptação;

Pode ser que essa peça acompanhe os atos e a ordem da peça que antecedeu o filme e eu não saberia afirmar isso. De toda forma, adaptação é adaptação e, como tal, tem várias cenas abreviadas, colocadas fora de ordem e bem alteradas em relação ao filme. Isso não é um problema. Na verdade, dou parabéns aos produtores e roteiristas por fazerem isso. A pior coisa que tem é uma adaptação que tenta ser literal demais em relação à sua fonte.

Algumas das modificações mais claras são as que seguem: (1) a Baronesa não acaba com o Capitão por conta de ciúmes mas sim por desentendimentos políticos; (2) a cena da tristeza das crianças com a ausência de Maria, que no filme é representada por um malicioso jogo de bola "contra" a Baronesa, na peça é um melancólico ensaio com Max; (3) a cena de convocação do Capitão para fazer parte da marinha nazista, sua tentativa de fuga frustrada e sua decisão de cantar junto com a família no festival é uma coisa só, em um cenário só, sem uma real tentativa de fuga e, finalmente, (4) Rolf, o namorado de Liesl, revela-se leal à ela no final, e deixa a família fugir.

Em minha opinião essas alterações, que podem ser consideradas "mais drásticas", e outras menores como trocas na ordem das músicas, enxugamento de cenas e a inclusão de dois números musicais que não fazem parte do filme (mas sim da peça original) para permitir que Max e a Baronesa façam duetos, não atrapalham a estória. Ao contrário, elas muito contribuem para a fluidez do texto. A única pequena cena do filme que eu colocaria de volta na peça é a dos "pecados" cometidos pelas freiras ao final, quando retiram peças dos carros dos nazistas. Mas eu entendo que sua inclusão necessitaria mais cenários e a manutenção de Rolf como um nazista fanático.

5. As canções:

E o meu grande medo sobre a peça se dissipou quando vi os atores cantando suas canções. Sempre detestei dublagens e versões para línguas não originais. E não era só da língua original para o português mas também vice-verso. Se o filme é coreano, eu assisto em coreano com legendas em português ou inglês mas ver dublado nunca. Quando minhas filhas passaram a ter idade para ir ao cinema, fui forçado a assistir versões dubladas de desenhos nos cinemas e em DVD e meu preconceito foi reduzindo. No entanto, canções dubladas eram o fim da feira e, até hoje, um tabu.

Esse montagem de A Noviça Rebelde me fez mudar novamente e descobrir que uma versão bem feita é tudo que é necessário para tornar as canções bem aceitáveis. É bem verdade que "Do-re-mi" - talvez a mais icônica canção dessa obra - é extremamente complicada de se verter para outra língua. Mas, apesar da versão em português não fazer exatamente muito sentido, ela ficou bem simpática. Vejam só o refrão com meus comentários entre parêntese:

DO é pena de alguém (essa passa)
RE eu ando para atrás (forçado mas vai)
MI assim eu chamo a mim (no limite)
FA de fato eu sou capaz (menor sentido)
SOL que brilha no verão (essa passa e é bem óbvia)
LA é lá no cafundó (hummm, sei não)
SI indica condição (indica que o tradutor se esforçou)
e de novo vem o dó oh oh oh

O mesmo se dá com as demais canções da peça. Todas muito bem traduzidas e bem cantadas.

Em suma, uma grande peça, que definitivamente merece ser vista por quem gosta do filme de 1965.

Nota: 9 de 10

domingo, 14 de setembro de 2008

Comédia montanha-russa

Ben Stiller dirigiu e atuou em Cable Guy e Zoolander. O primeiro é muito ruim e o segundo arranca algumas risadas boas. A terceira tentativa de Stiller fora da TV é Tropic Thunder, em que ele também atua ao lado de grande elenco.

O filme conta a estória de três atores mimados, cada um com suas características, que, ao estilo de Peter Sellers em The Party, estragam um cenário-chave do filme Tropic Thunder, que estão fazendo. Com isso e seguindo a sugestão do autor do livro que está sendo adaptado para o cinema, o diretor leva o elenco para filmar no meio de uma selva de verdade, sem saber que ela é tomada por uma guerrilha fabricante de heroína.

A estória é inverossímil mas isso não interessa. Para começar, é uma comédia escrachada e a estória é só uma desculpa para as piadas. No entanto, Tropic Thunder é um pouco mais que isso pois tem personagens excelentes: Ben Stiller é Tugg Speedman, ator de filmes de ação descerebrados que está em fim de carreira; Jack Black é Jeff Portnoy, ator de comédias em que faz vários papéis ao mesmo tempo e que dependem de piadas escatológicas e Robert Downey Jr. é Kirk Lazarus, ator sério, que mergulha em seus personagens. Cada um desses papéis, é claro, é uma fac-símile de papéis verdadeiros de Hollywood. Os nomes óbvios que vêm à mente são Sylvester Stallone, Eddie Murphy e Sean Penn.

O bacana de Tropic Thunder é exatamente essa crítica feroz aos atores e ao sistema de Hollywood. Do lado dos atores, há a demonstração do quão vazios eles são, do lado dos agentes dos atores (Matthew McConaughey faz Rick Peck, o agente de Speedman), mostra-se a briga por coisas idiotas que estão no contrato como Tivo no meio de uma floresta vietnamita. Finalmente, do lado dos produtores (Tom Cruise vive o papel de sua vida como o desbocado Less Grossman, produtor de Tropic Thunder), mostra-se a frieza e o quanto o dinheiro fala mais alto. E não pára por aí. Tropic Thunder esculhamba os diretores estreantes metidos a sabichões, os especialistas em efeitos especiais, que são verdadeiros maníacos por pirotecnia e até os escritores de livros que são todos eles chamados de mentirosos. Isso sem falar, claro, na sátira à diversos filmes, começando por Apocalypse Now e Platoon, seguindo por I Am Sam e aí por diante.

Mas as cerejas no bolo são mesmo Robert Downey Jr. e Tom Cruise. Kirk Lazarus, o personagem de Downey Jr. passa por uma cirurgia para se tornar negro, de forma que ele possa entrar no papel. Fala o tempo todo - mesmo fora do personagem - com o mais estereotipado sotaque de guetos americanos. O diálogo dele com um ator negro de verdade sobre estereótipos é excelente. Less Grossman é um asqueroso produtor hollywoodiano vivido por Tom Cruise (com excelente maquiagem). A quantidade de palavrões por segundo que ele fala é uma coisa de louco e até nos faz esquecer daquela patetada cientóloga puritana do ator de verdade.

Mas Tropic Thunder tem seus defeitos e o principal deles é a irregularidade do roteiro, que hora é comédia sem limites, com ótimas tiradas mas, em outros momentos, vira filme de ação. Seus altos e baixos lembra uma montanha-russa. Isso torna o filme meio estranho de se ver mas nada que realmente o estrague. Poderia ser sem dúvida mais curto pois aí o roteiro teria coesão, sem parecer gags separadas. No entanto, hoje em dia virou mania fazer filmes mais longos que o necessário como se fosse pecado colocar na lata filmes de 90 minutos (Thunder tem 107).

No todo, Tropic Thunder agrada bastante, especialmente se imaginarmos a quantidade de porcarias que Ben Stiller já fez.

Nota: 7 de 10

Diabo maneiro

Hellboy é uma ótima estória em quadrinhos escrita por Mike Mignola. Conta as peripécias de um demônio conjurado por nazistas durante a 2ª Guerra Mundial e salvo por pesquisadores americanos, que acaba se bandeando para o lado dos mocinhos. Ele carrega a maldição de um dia ser o destruidor do mundo mas ele não está nem aí para isso. Quer é distribuir sopapos para tudo quanto é lado.

Para minha surpresa, em 2004, os quadrinhos viraram filme e um bom filme. A primeira versão cinematográfica, dirigida por Guillermo del Toro, era muito fiel à sua fonte e centrada em Hellboy.

Acabei de assistir à continuação: Hellboy II: The Golden Army.

Posso dizer que aquele antigo adágio de que as continuações são sempre piores que os originais está se tornando obsoleto. Spider-Man 2 foi melhor ou pelo menos equivalente ao primeiro, The Dark Knight foi muito melhor que Batman Begins, Fantastic Four 2 foi tão bom quanto o primeiro (o que não quer dizer muita coisa, é verdade) e aí por diante. E isso só para ficar na seara das adaptações de quadrinhos.

Hellboy II segue a mesma tendência e, ainda que fuja completamente dos quadrinhos e conte uma estória (quase) independente, é uma ótima diversão, certamente no mínimo equivalente à sua primeira encarnação. Dessa vez Guillermo del Toro, claramente inebriado pelo sucesso bem merecido de sua obra El Laberinto del Fauno, partiu para aloprar de vez com criações de monstros de todo o tipo e uma estória em que o foco é a briga entre o mundo do conto-de-fadas e o mundo "real".

O Príncipe Nuada resolve reunir as três peças de uma coroa que controla um poderoso exército de soldados mecânicos dourados, há muito sem uso tendo em vista um trégua entre os humanos e os seres fantásticos. Nuada ressente-se que o ser humano está destruindo a Terra e quer acabar com essa raça inferior. Aí entra Hellboy, Abe Sapien (o amigo submarino de Hellboy que tem a mesma (in)utilidade do Aquaman nas estórias da DC), Liz (o amor da vida de Hellboy, que é bem "esquentadinha") e um novo personagem trazido dos quadrinhos: Johann Krauss, um ser composto de ectoplasma e que adora mandar na equipe.

Tem muita pancadaria mas Del Toro não se esquece de dar profundidade aos personagens e à batalha entre nosso mundo e o mundo da fantasia. Não se trata de uma briga vã mas sim um duelo de valores. Isso é certamente mais do que podemos esperar de um filme baseado em quadrinhos. Del Toro também não se esquece de dar pinceladas sobre o destino macabro que espera Hellboy, fazendo uma ponte entre o primeiro e segundo filmes.

A película acaba em um gancho escancarado para um Hellboy III. Espero que alguém tenha coragem de produzir o terceiro episódio pois, por uma estratégia idiota da Universal, que lançou o filme uma semana antes de Dark Knight nos EUA, Hellboy II fez até agora só 127 milhões no mundo todo, tendo custado 85. Ou seja, está longe de se pagar. De toda forma, com Del Toro ocupado com os dois filmes baseados em The Hobbit, não veremos tão cedo uma continuação (pois não imagino a parte três dirigida por outra pessoa).

Nota: 7,5 de 10 (dou a mesma nota para o primeiro filme)

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Renascimento das cinzas

A primeira temporada teve 24 episódios e, basicamente, revolucionou os seriados modernos de TV, pegando ganchos em séries de mistério como X-Files. O final foi fantástico e eu mal podia esperar pela segunda temporada. Ela veio e, com seus 23 episódios, não desapontou, apesar da existência de alguns episódios que não necessariamente impulsionavam a trama. Aí veio a terceira temporada, com 22 episódios e a série começou a fazer água, com um grau de enrolação muito grande, poucos mistérios resolvidos e muita lenga-lenga.

Do que estou falando? De Lost, claro. Acabei de ver a quarta temporada e posso dizer que os roteiristas finalmente perceberam o que tinham em mãos e não deixaram a peteca cair como na temporada anterior.

*** SPOILERS LEVES NOS PRÓXIMOS PARÁGRAFOS! ***

Como todos sabem, Lost se passa em uma ilha deserta (mas não tão deserta) em que um grupo de sobreviventes de um acidente de avião tenta se virar. A primeira temporada tinha muitos mistérios (Urso polar em uma ilha tropical? Um monstro espreitando os sobreviventes?). A segunda temporada aprofundou nos mistérios, sem se preocupar nem um pouco em resolver os mistérios anteriores. Mas, ok, ainda era empolgante. A terceira temporada continuou sem resolver os mistérios e resolveu dar uma guinada meio religiosa, meio messiânica, que tornou a série uma verdadeira porcaria. O que a salvou foi seu sensacional último episódio que, diferente dos demais, que apresentavam flashbacks sobre os personagens, terminou com um excelente e originalíssimo flashforward.

A quarta temporada usa esse gancho magistralmente e já inicia na pancadaria. Com uma temporada reduzida, já que os criadores determinaram que a série teria apenas mais 3 temporadas, cada uma de 16 episódios (sendo que a quarta teve 14 devido à greve dos roteiristas de Hollywood no final do ano passado e começo de 2008), cada episódio tornou-se extremamente relevante para o desenrolar da estória. Piscou, perdeu alguma coisa importante.

Alguns mistérios são explicados, outros são parcialmente explicados mas, em linhas gerais, ainda há muita coisa sem qualquer traço de lógica mas que começam a funcionar como um quebra-cabeças funciona quando você passa da sua metade e já começa a delinear o todo. O uso de flashforwards é misturado com outras ótimas formas de flashes que não vou listar aqui para não estragar as surpresas e uma das maiores suspeitas que os fãs tinham sobre a misteriosa ilha é confirmada (fiquem tranqüilos, não vou contar). O legal dessa revelação é que todo mundo já esperava e os roteiristas não deram uma de Agatha Christie, inventando uma explicação completamente desconectada com a linha geral da estória.

E, nesse ritmo frenético, a quarta temporada termina exatamente onde a terceira começou, criando um círculo perfeito e bem bolado, que mostra que os criadores de Lost, apesar de terem tentado esticar a estória com a fraca terceira temporada, sabiam aonde queriam chegar.

Em suma, com a quarta temporada a séria volta à sua forma total e merece ser conferida. O problema vai ser esperar pelas duas temporadas finais!

Nota: 8 de 10 (para comparação, diria que a Primeira Temporada é nota 8,5, a Segunda é nota 7,5 e a Terceira é nota 5)

domingo, 7 de setembro de 2008

Desenho japonês

Sem dúvida pode-se dizer que a produção japonesa de animação é uma das mais prolíficas e originais da atualidade. Filmes como A Viagem de Chihiro (Spirited Away), Howl's Moving Castle, ambos do mestre Hayao Miyazaki são verdadeiras e magníficas demonstrações disso. Tokyo Godfathers é outra obra de destaque, essa de Satoshi Kon. Há muitas outras mas pararei por aqui pois é sobre a mais recente obra de Kon que quero falar: Paprika.

A premissa da estória é interessante: uma máquina experimental que permite a monitoração e manipulação de sonhos - chamada de D.C. Mini - é roubada de um laboratório e os cientistas correm atrás do prejuízo para evitar que o mundo dos sonhos acabe destruindo o mundo real. Uma das cientistas é a séria e reservada Chiba Atsuko que, no mundo dos sonhos, torna-se a alegre e expansiva Paprika, uma espécie de super-heroína desse território de Morfeu. Outro cientista, o mais brilhante do mundo e inventor da D.C. Mini, é um obeso mórbido que costuma ficar entalado em elevadores. O terceiro é um senhor baixinho com ar de Yoda.

No entanto, essa premissa interessante descamba para uma espécie de desculpa para colocar as mais malucas imagens na tela. Até faz sentido em se tratando de sonhos mas esse artifício é usado várias vezes, tornando o filme uma verdadeira competição de quem cria o personagem ou poder ou imagem ou seja-lá-o-que-for mais estranho possível.

A trama acaba sendo completamente esquecida nesse emaranhado de sonhos e o desenho se perde completamente. Faltou tempero.

Nota: 4 de 10

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Crítica de filme: Superbad (Superbad - É Hoje)

Assisti Superbad ontem e o filme - uma comédia - é bem legal. Seu maior pecado é ser longo demais, mas esse pecado está cada vez mais comum nos dias de hoje.

De toda forma, o filme conta a estória de dois adolescentes (Seth e Evan) que estão nos últimos dias de escola. Eles são amigos desde os 8 anos de idade e se separarão na faculdade pois eles foram aprovados para faculdades diferentes. Um é gordo (Seth, vivido por Jonah Hill), o outro é magro (Evan, vivido por Michael Cera, do hit Juno), os dois são completamente nerds, e só pensam em sexo - que nunca fizeram - o tempo todo.

O diferencial é que o filme, apesar de estereotipar os nerds, não estereotipa as garotas bonitas. Elas, na verdade, sabem pensar e efetivamente gostam dos nerds que, por sua vez, não conseguem acreditar nisso. A oportunidade maior para os dois vem com o convite de uma das meninas para uma festa na casa dela. Seth logo mente dizendo que tem uma carteira de identidade falsa e a garota o encarrega de trazer as bebidas da festa. Começa, então, a odisséia de Seth, Evan e de um terceiro amigo, Fogell, para conseguir as bebidas.

Outro diferencial do filme é o roteiro co-escrito pelo brilhante Seth Rogen (o ator do ótimo Knocked Up) que tem uma excelente verve para o humor. O diálogo em que Fogell apresenta aos amigos a carteira falsificada é sensacional (só para vocês terem uma idéia, o garoto escolheu um nome fictício rídiculo sem sobrenome - McLovin - por achar bacana e decidiu que, no lugar de ter 21 anos, que seria a escolha óbvia, indicou que tem 25 anos. Mas tudo tem uma hilária explicação. Os diálogos politicamente incorretos e sexualmente pervertidos de Seth são de chorar de rir.

Mas o melhor é a dupla de policiais que aparece no meio do filme para complicar a vida dos três. São dois completos idiotas - um deles vivido pelo próprio Seth Rogen - que bebem, fingem que suas lanternas são sabres de luz na inevitável brincadeira com Star Wars e outras coisas piores, beeem piores.

É uma ótima comédia da safra mais nova que vale ser conferida.

Nota; 7 de 10