segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Um fenômeno de 50 anos

Não sou nem muito fã da Madonna. Resolvi assistir ao show só "por onda". Até gostava das épocas áureas dela, no começo da carreira, com Like a Virgin, Papa don't Preach, Borderline e outras clásssicas. Quando ela começou a fazer músicas dance, com hip hop, música eletrônica e outros gêneros que não gosto, larguei Madonna de lado. Assisti ao show dela no Maracanã há 15 anos e detestei, escutei o mais novo disco dela Hard Candy e detestei. Em outras palavras, tinha tudo para detestar o show dela mas, como sou um cara teimoso, resolvi tentar novamente.

O primeiro obstáculo foi a famosa dificuldade de se comprar ingressos pela internet. De fato, tentei, tentei e tentei por horas, mas acabei conseguindo, não exatamente o ingresso que queria mas algo suficientemente próximo (queria arquibancada central e acabei com a lateral - nada de pista para mim para esse tipo de show). Depois foi a dificuldade dos (des)organizadores para me entregar os ingressos. Paguei uma nota preta, aturei diversos telefonemas e e-mails de confirmação e, depois de quase uma eternidade, eu os recebi em casa.

No dia do show, nada de táxi ou carro. Caí na besteira de ir de táxi ao show do The Police e fiquei horas na volta tentando arrumar algum taxista que não estivesse querendo se aproveitar do momento para cobrar os tubos. Minha esposa teve a idéia de contratar uma van e assim fizemos. Ótima idéia.

Na hora do show, localizamos a entrada correta e começamos a procurar o final da fila. Quase demos uma volta inteira no Maracanã para achá-la. A desorganização era total, com policiais somente preocupados em se esconderem da chuva e nenhuma indicação pela (des)organização do evento...

Dentro do Maracanã, tudo cheio mas conseguimos um lugar debaixo do teto, para fugir de uma eventual chuva, que acabou chegando (fomos no domingo, dia 14/12). Na nossa frente, um bando de tietes imbecis...

Meu estado de raiva por ter entrado nessa roubada era indescritível.

Como se isso não bastasse, toma daquele DJ da Madonna de mandar músicas bate-estaca por intermináveis 40 minutos. E, para coroar tudo, a geriátrica Madonna se atrasou um bocado.

Dito tudo isso, estava, como podem imaginar, absolutamente pronto para odiar o show. E quebrei a cara...

Pode ser exagerado mas o show da Madonna foi o melhor espetáculo musical que já assisti. Não estou falando aqui da qualidade das músicas. Esse é o menor dos problemas. Estou falando de espetáculo com E maiúsculo. E olha que já assisti a muitos shows na minha vida...

Para começar, as músicas: ela conseguiu montar um set list que mesclou, de forma extremamente competente, as porcarias atuais com os clássicos de outrora ao ponto das porcarias ficarem boas. Mandou Spanish Lesson, do disco novo, juntamente com La Isla Bonita, um de seus clássicos. Tocou Vogue com a melodia de 4 Minutes do disco atual. Mandou um Borderline em estilo roqueiro trash. Arrrasou com Liike a Prayer que perdeu o viés católico de antes para abraçar uma celebração das religiões do mundo. Madonna ainda pediu para um fulaninho lá da fila do gargarejo escolher uma música para ela cantar mas avisou que só cantaria se ela gostasse da música. O cara, claro, escolheu errado e ela passou a bola para outra pessoa, que pediu Express Yourself. Acertou. Madonna cantou sem acompanhamento musical, junto com o público.

Tenho certeza que muitos leram que Madonna cantou algumas músicas com playback. Errado. Madonna cantou TODAS as músicas com playback (com exceção de Express Yourself, claro). A música de abertura, Candy Shop, já foi cantada com playback, sem a menor justificativa. No entanto, a pergunta é: isso estragou o espetáculo? A resposta é certamente não. Madonna não é uma roqueira. Canta músicas pop que, necessariamente, têm que ser acompanhadas de números de dança. Não tem como ela não usar playback, mesmo que tivesse 20 aninhos. O bacana é que ela não escondeu que usou playback pois toda hora abaixava o microfone para fazer algum passo e a música contiuava como se ela estivesse em estúdio. Há que se repetir: o show da Madonna transforma a música em um detalhe (se isso é bom eu não sei mas o que posso dizer é que não estava lá para um show intimista).

O palco do espetáculo parecia bem básico e tradicional, com a parte central, dois telões laterais e mais uma passarela que entrava na pista vip e terminada em um círculo. No entanto, de básico e tradicional esse palco não tinha nada. A passarela tinha uma esteira quase imperceptível. O círculo ao seu fim tinha iluminação no chão e tinha toda uma parte hidráulica para sua subida e descida. Acima desse círculo, havia uma estrutura que baixava um telão redondo, todo de LEDs, que criava sensacionais imagens em combinação com o telão atrás do palco.

O figurino de Madonna e de seus dançarinos também era muito bem pensado, assim como a coreografia. Dava para ver que a equipe criativa da auto-intitulada Rainha do Pop gastou muito neurônios - e muito dinheiro - na super-produção. Até carro antigo no palco tinha...

E a própria Madonna, costumeiramente fria e pouco comunicativa em seus shows, falou bastante com a platéia, muitas das vezes para reclamar da chuva, que foi inclemente.

De toda forma, o conjunto da obra do show de Madonna me fez esquecer todo o processo até a entrada no Maracanã e me fez apreciar a cinquentona de uma forma que jamais imaginei possível: ela realmente sabe o que está fazendo e realmente oferece aos seus fanáticos fãs um show de extrema qualidade, que consegue disfarçar suas fraquezas como cantora.

Espetáculo é isso: sensacional mesmo para uma pessoa como eu que não é fã, não gosta da fase atual da moça e detestou o último disco.

Nota: 10 de 10

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