terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Crítica de filme: Bolt



A animação da Disney há muito andava enferrujada. Estórias requentadas. Desenhos fraquinhos. Parecia que todo o glamour da casa do Mickey havia acabado. Talvez muito tenha sido em razão da Pixar, empresa associada à Disney em um primeiro momento e que, depois, em um movimento certíssimo, foi comprada pela casa do camundongo.

A Pixar vinha lançando um brilhante longa de animação atrás do outro, começando com (o fantástico) Toy Story em 1995 e não parando mais até o mais recente (e também fantástico) Wall-E. Parecia que a Disney sozinha, sem a Pixar, não conseguia produzir mais nada decente pelo menos desde Lilo & Stitch, de 2002.

No entanto, com a aquisição da Pixar pela Disney e pela colocação de John Lasseter da primeira como chefe de criação de animação das duas empresas, a coisa mudou. O primeiro resultado da era Lasseter na Disney propriamente dita é Bolt. O filme, lançado em cópias 2D e 3D, tinha tudo para dar errado, por parecer apenas mais uma estorinha bobinha de bichinhos fofinhos. Não sei se Lasseter deu palpites durante o desenvolvimento do filme ou se sua presença foi suficiente para inspirar os artistas que trabalhavam com o cachorrinho mas Bolt é bem mais do que uma estorinha bobinha. Lembra muito a Disney dos áureos tempos.

Diferente de Chicken Little e de Meet the Robinsons, essa animação computadorizada da Disney é ótima. Está longe ainda dos padrões Pixar mas não é isso que se espera da Disney, na verdade. Da Pixar queremos o nirvana da animação. Da Disney queremos desenhos família de qualidade. São propostas diferentes e Bolt cumpre a que lhe cabe muito bem.

O filme conta a estória do cachorrinho Bolt que é astro de uma série de TV em que vive o papel de um cachorro com super-poderes (igualzinho ao Krypto, do Superman, só que com mais personalidade). O "lance", porém, é que os produtores fazem Bolt acreditar que ele realmente tem super-poderes e ele, por acidente, ao parar em Nova Iorque, tem um choque de realidade quando percebe que as coisas não são bem assim. Aí passamos a ter um "road movie" sobre Bolt e seus dois recém-feitos amigos (uma gata vira-lata cínica e um hamster debilóide que vive numa bola de plástico) tentando voltar para Los Angeles. Além dos dois parceiros de Bolt, temos vários outros personagens interessantes, com destaque absoluto para os pombos de Nova Iorque, que são de morrer de rir (e a dublagem brasileira, que carregou no sotaque paulistano, está muito boa).

A estória do filme até lembra a de Cars, quando o hotshot Lightning McQueen tem que aprender que o mundo não gira ao redor dele durante uma viagem pelo interior americano. Talvez Lasseter tenha feito sua mágica aí e criado um fac símile de uma das melhores obras da Pixar. Mas, se fez isso, não foi de má fé. Bolt é um filme familiar, que lembra Cars e, portanto, tem boa estória e com uma animação que pode ser enquadrada nos mais altos padrões da computação gráfica (e olha que esses padrões são bem altos hoje).

O filme, porém, tem como melhor cartada em seu vasto baralho o fato de fazer uma forte crítica ao sistema frio e mercenário hollywoodiano, com exploração de sentimentos baratos, a busca de lucro à qualquer custo, exploração de atrizes mirins e animais, agentes e produtores que só vêem cifrões e um total desapego à criação, na acepção original da palavra. Nota 10 pela coragem dos roteiristas em inserirem Bolt nesse contexto (será que foi mais uma jogada de Lasseter?).

Ah, eu mencionei aí em cima que a Disney lançou Bolt em cópias 2D e 3D. Essa é a tendência atual dos estúdios e devo dizer que esse é o primeiro filme 3D que vejo que não foi feito para ser 3D. Não me entendam mal: vale muito à pena assistir Bolt em 3D e foi o que fiz. No entanto, Bolt não é escravo do uso barato do 3D. A estória vive sozinha seja 2D ou 3D. O uso do óculos dá apenas mais um "tchan" ao filme, mas não é essencial.

Bolt, certamente, está entre as melhores animações do ano, ainda que não se compare à Wall-E, seu irmão mais velho e concorrente direto dentro da mesma empresa.

Nota: 7 de 10  

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