sábado, 10 de janeiro de 2009

Paris Episódio II: Texas


Wim Wenders é um diretor que merece aplausos por se manter fiel à arte do cinema e do seu modo de dirigir. Faz filmes contemplativos que discutem com profundidade a condição humana, sem deixar descambar para a obviedade ou chatice. 

Um grande exemplo de sua arte é Paris, Texas. Só a delicada explicação para esse título inusitado já nos mostra muito do personagem de Travis Henderson: sua mãe nasceu na cidade de Paris e seu pai sempre fez questão de dizer isso, para depois explicar que era Paris, no Texas. O filme, vale dizer, é centrado nesse personagem, vivido magistralmente por Harry Dean Stanton, talvez em seu melhor papel em sua enorme carreira.

Wenders nos apresenta a Travis imediatamente e vemos alí um homem perdido, sem rumo e sem memória, que desmaia em um posto no meio do deserto do Texas. Logo descobrimos que ele está há 4 anos longe de sua família, tendo deixado seu filho - Hunter - com seu irmão Walt (Dean Stockwell). Aí começa uma belíssima estória de expiação de pecados e redenção, com Travis tentando aos poucos se reaproximar do filho e descobrir o paradeiro de sua esposa, Jane, vivida por Nastassja Kinski (antes de ficar feia). 

O diretor não se apressa e não tenta usar diálogos para explicar o que está acontecendo, o que poderia levar à uma transformação radical demais do modo de ser de Travis, que mal sabia quem era seu irmão no começo do filme. Uma analogia possível é com aparelhos movidos à válvula, de antigamente. Travis é "ligado" quando seu irmão o resgata do meio de deserto e, aos poucos, vai "esquentando" ao ver a vida que deixou para trás, até efetivamente estar funcionando bem ao ponto de tomar uma decisão crucial: procurar sua esposa, mãe de seu filho. Ele é um homem que chegou ao fundo do poço e, meio que sem querer, começa a voltar à vida quando se reencontra com a família.  

Mas o filme realmente é focado na excepcional atuação de Harry Dean Stanton, que brilha a todo momento. O diálogo tocante que ele tem com sua esposa, sem vê-la (vejam o filme para entender) é sensacional e um show de atuação dos dois lados e olha que Harry só aparece na penumbra, muito na linha do chiaroscuro que Coppola usa ao fim de Apocalypse Now!, ao focar no Coronel Kurtz.

Nota: 9 de 10

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