domingo, 22 de fevereiro de 2009

Corrida do Oscar: Frost/Nixon

Já tive boas surpresas antes no último filme que vi da lista de concorrentes ao Oscar de Melhor Filme. Lembro-me nitidamente quando fui muito a contra gosto assistir Field of Dreams (Campo dos Sonhos) com Kevin Costner, achando que seria uma porcaria e acabei achando-o o melhor concorrente de 1989 (os outros eram Driving Miss Daisy, que acabou ganhando injustamente, Born on the Fourth of July, Dead Poets Society e My Left Foot). 

Algo semelhante aconteceu agora com Frost/Nixon. Sabia que era um filme sobre política, sabia que era um filme dirigido por Ron Howard, um competente mas muito burocrático diretor, que nos trouxe o péssimo The Da Vinci Code e os tecnicamente bons mas não excepcionais Cinderella Man, Apollo 13, Ransom e A Beautiful Mind. Assim, estava esperando um filme fraco, documental, sem nenhum "tchan".

No entanto, acabei encontrando outro Field of Dreams.

Não que os filmes sejam semelhantes. Longe disso. Frost/Nixon é, de fato, um filme fortemente político, dependente de longos diálogos e um certo grau de conhecimento do governo de Nixon, especialmente do escândalo Watergate, que acabou levando-o a renunciar. Trata-se da estória da histórica entrevista que Nixon concedeu ao repórter David Frost, em 1977. Frost era um "show man", responsável por um programa televisivo na Austrália tão raso quanto piscina Tony. Algo clicou na cabeça dele algum dia e ele resolver correr atrás de uma longa entrevista de 4 dias com o ex-presidente Richard Nixon. Muito lutou e acabou conseguindo (mas não foi de graça já que Nixon cobrou regiamente por isso).

A estória tinha tudo para se arrastar desesperadoramente nas mãos de Ron Howard mas creio que o diretor achou sua verve e criou uma obra sensacional, que torna as entrevistas verdadeiros shows de suspense e tensão. Frost, completamente desacreditado e basicamente sem nenhum suporte financeiro para bancar o programa, inicia um embate épico com Nixon, pessoa extremamente inteligente, capaz de manipular cabeças. O que começa sendo um passeio no parque para Nixon, toma contornos mais complexos adiante.

David Frost é vivido por Michael Sheen, que viveu o Tony Blair em The Queen. Ele está muito bem como o repórter fanfarrão que se torna um entrevistador de grande naipe. No entanto, o filme é de Frank Langella, que faz o ex-presidente. Ele tem uma atuação sensacional, uma das melhores que vi nos últimos anos: primeiro, consegue espelhar Nixon sem ser caricato e, segundo, consegue dar nuances ao papel que, mesmo sem falar, passa o sentimento que quer passar. Sua maneira de andar, seus trejeitos, sua voz, tudo conspira para mostrar um grande ator em movimento. Por incrível que pareça, Langella nunca concorreu ao Oscar. Essa é a primeira vez e definitivamente merece.

Ron Howard caprichou nos close-ups, na câmera perfeitamente colocada e nas transições. Criou um filme do nada basicamente (era uma peça de teatro no original), algo que efetivamente deixa o espectador suando de tensão em sua cadeira (ok, talvez isso seja um exagero mas vocês entenderam o que quero dizer, não?). Será que Nixon vai "jantar" Frost? Será que Frost tem algo na manga para colocar o presidente de joelhos? Mesmo quem conhece a entrevista e quem sabe o que aconteceu vai ficar surpreso como Howard nos manipula e nos deixa vidrados na tela. Palmas para ele!

Ah, esqueci de dizer que Frost/Nixon concorre a 5 estatuetas douradas: Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Edição, Melhor Ator (Langella) e Melhor Roteiro Adaptado.

Nota: 9 de 10

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."