quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Crítica de cinema: Valkyrie (Operação Valquíria)

Valkyrie (Operação Valquíria) é um filme que tem contra si o fato de todos nós sabermos seu desfecho. Mesmo aqueles que não fazem idéia do que foi a tal Operação Valquíria e quem foi o Coronel Claus von Stauffenberg sabem que Hitler não morreu em atentado algum mas sim por seu próprio punho, covardemente, quando finalmente percebeu o que já era óbvio há um ano: havia perdido a guerra.

Assim, já começando com enorme desvantagem, Bryan Singer, um competentíssimo diretor, que nos trouxe The Usual Suspects, X-Men 1 e 2 e Superman Returns (esse último bem fraquinho mas tecnicamente muito bom), tenta compensar com a união de um elenco estrelar: Tom Cruise é von Stauffenberg, Bill Nighy é o General Olbricht, Tom Wilkinson é o General Fromm, Kenneth Branagh faz uma ponta como o Major-General von Tresckow e Terence Stamp é o General Beck. Outra maneira que Singer encontrou para criar suspense e tentar compensar pelo final já claro foi se concentrando nos preparativos técnicos para o atentado e, principalmente, no que acontece após o atentado. 

Aliás, vale destacar que o que vem depois da fracassada tentativa de se matar Hitler é o que torna o filme verdadeiramente tenso. Mesmo aqueles que já ouviram falar de von Stauffenberg, normalmente sabem apenas que ele tentou matar Hitler. Poucos conhecem de verdade o verdadeiro plano do militar, que não era simplesmente matar Hitller. Ele queria permitir uma transição de poder tranquila na Alemanha, usando um furo no próprio plano de Hitler para permitir a continuidade de sua Alemanha, em caso de sua morte. Assim, jogando com as operações militares relâmpago que se sucederam ao atentado, Singer é bem sucedido em emprestar suspense a um filme que seria bem diferente se ele tivesse se concentrado no atentado apenas.

E Cruise como o personagem título, como está? Bem, Tom Cruise é Tom Cruise. O cara é tão famoso que fica difícil para os espectadores se abstraírem da persona de Tom Cruise e verdadeiramente acreditarem que ele é von Stauffenberg. Facilita um pouco o fato do personagem ter algumas características marcantes como um tapa olho, uma mão a menos e 3 dedos a menos na outra mão. Tudo isso permite que vejamos um vislumbre de von Stauffenberg por detrás de Ethan Hunt ou de Maverick, mas é só. Os demais atores - bem veteranos - estão excelentes em seus respectivos papéis, com destaque para Bill Nighy (ele é sempre muito bom) e Tom Wilkinson. 

O maior defeito do filme, porém, é não deixar às claras as motivações das pessoas por detrás da Operação Valquíria. É lógico que todos eles concordavam que Hitler tinha que sair do poder de um jeito ou de outro e é claro que eles queriam acabar com a guerra. No entanto, essa tentativa de assassinato se deu apenas em 1944, quando a Alemanha nazista já estava moribunda. Fica bem mais "fácil" tentar um golpe quando o rumo da guerra já não está mais sendo aquele que se imaginava. Não estou aqui dizendo - até porque não sou especialista em história - que o grupo liderado por von Stauffenberg não tinha motivos nobres. Até deveriam ter mas não posso crer que os principais (von Stauffenberg, Beck e Olbricht pelo menos) eram tão rasos ao ponto de não terem conflitos internos. O que quero dizer é que os roteiristas e o diretor, talvez exatamente para não passar qualquer mensagem de ambiguidade, apagaram dos personagens qualquer contradição ou dilema moral. Também não estou dizendo que von Stauffenberg não foi um herói - claro que foi - mas ele fica parecendo um super-herói nas mãos de Singer, na linha do seu Superman, e a falta de dimensão do personagem distrái muito. 

No entanto, posso estar falando besteiras enormes sobre a ambiguidade moral e tenho que dar, portanto, um desconto a Singer. O filme é bom. Poderia ser melhor? Claro que sim, mas o que temos é um trabalho competente, que consegue criar suspense mesmo em uma situação que, em mãos mais inábeis, tornar-se-ia um filme com tom de documentário.

Nota: 8 de 10

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."