sábado, 28 de fevereiro de 2009

Crítica de livro: My Last Sigh de Luis Buñuel

Luis Buñuel é um brilhante cineasta, um de meus diretores favoritos. Pouco conhecia de sua vida e, quando achei o livro My Last Sigh em meus passeios virtuais pela loja Amazon.com, tratei de comprá-lo. Não creio que exista um versão em português, o que é uma pena. 

A obra foi escrita por Buñuel em 1982 e seu título - Meu Último Suspiro - parece uma macabra previsão do futuro, já que o artista veio a falecer, com 83 anos, em 1983. Trata-se de uma autobiografia mas não uma autobiografia comum. Buñuel segue por alto uma determinada cronologia, mas ela não é determinada a ferro e a fogo. O autor dá pulos de algumas décadas e volta para falar de épocas passadas com grande facilidade: é como se fosse alguém lembrando de seu passado de maneira natural.

O livro tem uma característica importante: a franqueza. Normalmente, em autobiografias, o autor costuma repaginar sua vida e dificilmente fala mal - ou só o que efetivamente pensa - sobre pessoas de seu convívio. Não é o caso aqui. Buñuel descasca vários grandes artistas contemporâneos, com especial destaque a Salvador Dali que basicamente o traiu, chamando Buñuel de comunista em pleno Mcartismo nos Estados Unidos. Buñuel não fala mal de Dali por vingança; apenas retrata-o como um vendido, um homem fundador do movimento surrealista mas que largou suas raízes para se vender para quem oferecesse mais dinheiro. 

Outro destaque é o que Buñuel fala de Garcia Lorca. Lorca é adorado por Buñuel mas como pessoa, não como autor de peças de teatro. Ler o diretor falando mal de peças consagrada de Lorca é muito interessante pois pouca gente tem coragem de atacar obras reconhecidamente adoradas pela crítica especializada.

O mesmo acontece com as obras de Breton, com a pessoa de Jorge Luis Borges, com as obras de Hemingway e por aí vai. 

No entanto, há que se frisar que Buñuel não faz isso por mal ou por inveja. São apenas suas opiniões sinceras e é extremamente divertido lê-las. Outra característica interessante do livro é que, apesar de ser a autobiografia de um cineasta, ele não fala muito de seus filmes. São pinceladas aqui e ali apenas, normalmente falando dos defeitos e do quanto ele não gostou de determinada obra que fez, e só. Seu foco é no movimento surrealista, nas memórias de infância e suas experiências com a Espanha pré-Franco e durante a ditadura franquista. 

Não faltam momentos engraçados, como quando indagado por dois repórteres se ele achava que ganharia o Oscar de melhor filme estrangeiro por O Discreto Charme da Burguesia, ele respondeu: "É claro. eu já paguei os 25 mil dólares que eles queriam. Os Americanos podem ter suas fraquezas mas eles cumprem suas promessas." A afirmação (uma brincadeira), claro, foi para as manchetes e escandalizou a todos, especialmente a Academia. No entanto, o filme acabou mesmo ganhando a estatueta dourada.

Trata-se de um livro imperdível.

Nota: 9 de 10

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