sábado, 28 de março de 2009

Crítica de Buñuel: Le Journal d'une Femme de Chambre (O Diário de Uma Camareira)

Como já mencionei em comentários anteriores, Buñuel e Kurosawa são meus diretores favoritos. Tento, na medida do possível, assistir a todos os filmes dos dois mestres, tarefa essa bem complicada no Brasil, já que a filmografia dos dois não é lançada em boa qualidade. 

O Diário de uma Camareira é 11º de Buñuel que assisto. Cheguei, afinal, a completar um terço de sua obra. 

Esse é, também, o filme mais direto do diretor espanhol, filmado na França em 1964. A obra conta a estória de Céléstine (Jeanne Moreau), uma camareira parisiense que vai trabalhar para uma família rica e decadente, no interior da França. Seus hábitos sofisticados contrastam com os hábitos rasteiros da família rica metida a besta. Mais para a frente no filme, com o devido tempo para nos adaptarmos aos personagens, um horrível assassinato acontece e a camareira parece ser a única que se importa e, do seu jeito, vai ao encalço do assassino.

Mas o que interessa não é exatamente o assassinato. A família decadente - ou a riqueza decadente - parece ter sido o foco de Buñuel. O patriarca é tarado por mulheres calçadas em botas sujas de couro e salto alto. A filha do patriarca, uma velha chata encalhada e frígida, compensa sua vida insuportável regendo a casa com mão de ferro e se preocupando com detalhes absurdos. O marido da filha só quer saber de ciscar as empregadas e de caçar, além de brigar com o vizinho que tem mania de jogar o lixo por cima do muro, bem no terreno deles. 

Os empregados da família rica, porém, também não escapam aos olhos de Buñuel. Ele mostra a fofocagem que eles fazem dos patrões, a maldade de uns em determinados momentos e a fascinação que têm pela sofisticada camareira, vinda da cidade grande. 

Por fim, os métodos "investigativos" de Céléstine também são detalhados e vê-se ao ponto que ela pode chegar para colocar o culpado atrás das grades. 

Buñuel filma tudo isso em um notável preto-e-branco cheio de nuances, com uma decoração de interiores impressionante, bem diferente de outros filmes dele que, por questões de orçamento, sofreram nessa área. Também faz uso de uma cãmera frenética, que acompanha os personagens.

O filme, no entanto, demora a decolar e o assassinato acaba ocorrendo em momento adiantado demais na trama, deixando pouco tempo para Céléstine pegar o bandido. Além disso, várias situações simultâneas, como a briga dos vizinhos perante um Juiz, a paixão do coronel vizinho pela camareira e outras, acaba meio que "atrapalhando" o desfecho do filme que é para lá de pessimista e frio (o que, definitvamente, não é um ponto negativo, diga-se de passagem). 

Não é, de fato, uma das melhores obras do mestre mas mesmo uma de suas obras mais fracas ganha de braçadas de qualquer porcaria feita hoje em dia...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."