domingo, 26 de abril de 2009

Crítica de quadrinhos: The Dark Tower: The Gunslinger Born e The Dark Tower: The Long Road Home

Um pouco mais abaixo, aqui, fiz meus comentários sobre a série de livros de Stephen King chamada The Dark Tower (A Torre Negra). Como disse, demorei uns 5 anos para ler os 7 livros pois encontrei vários momentos chatos nesse longo caminho. Bem antes de acabar os livros, ouvi falar muito bem da adaptação aos quadrinhos da obra pela Marvel e resolvi colecioná-la. No entanto, tive que aguardar o término dos livros para começar os quadrinhos com medo de que esses últimos estragassem surpresas dos primeiros.

Demorou tanto, que a primeira série, chamada The Gunslinger Born acabou e outra, chamada The Long Road Home começou. Essa segunda acabou também e uma terceira, chamada Treachery, começou e acabou recentemente. Em maio, a quarta série, chamada The Fall of Gilead, começará. Como vocês podem perceber, as três primeiras séries foram um sucesso de público.

Vamos falar das duas que li.

The Gunslinger Born


A Marvel não queria correr riscos e decidiu, no lançamento da série em HQ de The Dark Tower, adaptar material previamente existente. Assim, pegou o melhor livro da série - Wizard and Glass - que conta a primeira missão do pistoleiro Roland Deschain e de seus amigos Alain Johns e Cuthbert Algood e o colocou no papel. 

O resultado, escrito por Peter David e desenhado por Jae Lee e Richard Isanove, é deslumbrante. Wizard and Glass já era um livro muito interessante mas a materialização em desenho do mundo de Roland é soberba. A estória, em 6 capítulos, foi meio que comprimida mas ficou igualmente interessante e, arrisco dizer, talvez até melhor que a obra em que foi baseada. Os diálogos são eficientes e a construção dos personagens bem cativante, com estória idem.

Porém, talvez por ser uma adaptação de uma obra reverenciada por um séquito de fãs, Peter David não se atreveu a escrever muita coisa diferente do que há no livro. Muito do texto é pinçado diretamente do livro e isso dá um certo engessamento à obra. Em determinados momentos, Peter David teve que dar uns pulos de continuidade, apenas para poder acabar sua obra em 6 capítulos e isso é sensível no resultado final.

De toda forma, é uma leitura prazerosa. A arte pintada de Jae Lee e Richard Isanove garantem isso.

Uma breve sinopse: a HQ conta como Roland Deschain ganhou o título de pistoleiro e sua primeira aventura junto com seus dois amigos de infância, na cidade de Hambry, onde encontra o amor de sua vida Susan Delgado. Os quatro têm que lutar contra o "homem de preto" e outros pistoleiros liderados por Eldred Jonas. Muito do que viria a ser o futuro solitário do pistoleiro é visto de relance nessa trágica estória, que acaba com nossos heróis em fuga.

Nota: 9 de 10

The Long Road Home


A segunda série começa exatamente onde a primeira acaba e mostra a volta dos pistoleiros à Gilead, sua cidade natal. 

O interessante dessa série e que ela representa a primeira vez que material original, não escrito por Stephen King, é criado em torno da saga da Torre Negra. Talvez por isso mesmo, essa segunda série seja ainda melhor que a primeira, apesar de seu roteiro bem mais limitado, por ser uma estória básica de fuga.

Nessa parte da estória, Roland está em coma e vivendo dentro de um bola de cristal rosa (explicar isso vai dar muuuito trabalho, portanto, apenas aceitem, por favor). Lá ele encontra o home de preto na forma de um corvo e tem que se deparar, pela primeira vez, com o Rei Rubro. 

Peter David, o roteirista, realmente pegou o jeito da coisa e nos apresenta uma estória instigante, conntada em dois turnos simultâneos: Roland dentro da bola e Alain e Cuthbert carregando o corpo inerte do amigo por paisagens inóspitas. As duas linhas de estória são muito bem amarradas e sua inevitável convergência ao fim é executada perfeitamente. 

Ficarei impressionado se Treachery, a terceira parte, mantiver essa qualidade.

Nota: 9,5 de 10

Crítica de filme: Punisher: War Zone (Justiceiro: A Zona de Guerra)

Sabem o último Rambo, aquele em que Stallone mata uma centena de asiáticos das formas mais sanguinolentas possíveis?

Sabem as refilmagens recentes de filmes terror/carnificina tipo Sexta-Feira 13, O Massacre da Serra Elétrica e The Hills Have Eyes?

Sabe os filmes violentos dos anos 80 tipo Comando para Matar, Cobra e coisas do gênero?

Pois bem, nenhum deles se compara ao grau de carnificina explícita que Punisher: War Zone contém. Muitos filmes estão lá em cima no panteão das obras absurdamente violentas, mas a diretora Lexi Alexander (sim, uma mulher!) junto com Ray Stevenson (o Titus Pullo de Roma) conseguiram barrar todos os seus antecessores.  Se foi essa a intenção, parabéns!

Para que não sabe, essa é a terceira encarnação do anti-herói da Marvel que anda por aí com uma caveira no peito matando criminosos em vingança ao assassinato de sua esposa e filhos. Na primeira, de 1990, o "expressivo" Dolph Lundgren viveu o papel título. Ele usava uma roupa de motoqueiro de couro, não tinha muita tecnologia e caveira mesmo só em suas adagas e na esperta maquiagem tipo "sujeira" que dava a impressão que seu próprio rosto era uma caveira. Foi um filme de baixíssimo orçamento mas que eu considero o mais eficiente dos três. 

Na segunda encarnação, de 2004, Thomas Jane viveu o papel título. A própria escolha desse ator foi ridícula para o papel e o inimigo "mortal" ser o John Travolta apenas terminou por estragar a estória.

Na nova encarnação, Ray Stevenson está perfeito como o Punisher (tão "expressivo" quanto Lundgren), usa uma caveira grande mas razoavelmente discreta em seu colete à prova de balas (peça de vestuário essencial na profissão do sujeito) e sai arrancando a cabeça de qualquer pessoa que passa pela sua frente. Literalmente! Acho que a diretora deve ter algum fetiche por cabeças pois elas são quebradas, cortadas ao meio, decepadas, explodidas, atravessadas por flechas e tiros, socadas até afundarem e tudo mais. Um festival de sanguinolência extrema e, tenho que morbidamente confessar, muito divertida.

Acontece que, mesmo dentro de um filme claramente caricato, em que o inimigo é um cara vaidoso e narcisista (Dominic West de The Wire) que tem seu rosto completamente desfigurado pelo nosso herói e passa a desfilar com horrendas cicatrizes e a se chamar de Jigsaw (literalmente Quebra-Cabeças mas, nos quadrinhos em português, Retalho), a diretora exagerou. Tem cenas completamente ridículas como a que o Punisher enfia um lápis no nariz para ajeitá-lo, outra em que os "vilões" são imbecis que fazem Parkour (aquele esporte de se usar o mobiliário urbano para malabarismos que ficou famoso na abertura de Casino Royale) e por aí vai. 

É verdade que o filme não se leva a sério mas essas e outras cenas me fizeram rir e distrações assim são irritantes e completamente desnecessárias. Uma comparação justa seria com o último Rambo. No filme, Stallone mata quase um país inteiro mas não vemos o cara fazendo gracinhas idiotas. É metralhadora .50 toda hora. Já em Punisher, um soco do nosso amigo atravessa o rosto de um bandido paspalho; ele explode um fulaninho do Parkour com um míssel em plena cambalhota pelo ar; um mero assalto a uma loja de conveniência é mostrado com um atendente com a cabeça rachada por uma espada (!!!); o irmão de Jigsaw é um canibal... Fala sério... Não dava para simplesmente colocar o Punisher carregando uma metralhadora igual aquela do John Matrix e uma faca igual à de Marion Cobretti? Precisava das papagaiadas?

Mas o filme tem seus momentos. A carnificina de abertura é muito divertida, especialmente quando o Punisher quebra o pescoço da mulher do chefão mafioso com as mãos sem nem pestanejar. Outro ponto bem interessante é o momento "escolha de Sofia" ao final do filme, que poderia ser ridículo mas não é, tendo uma resolução muito satisfatória.

Acho bom a Marvel deixar de licenciar esse personagem para filmes solo pois ninguém acerta a mão com Frank Castle (a identidade do Punisher). 

Eu me diverti pela quantidade de bobagens que vi mas não dá para dar nota alta para essa pérola.

Nota: 4 de 10 (para fins de comparação a versão de 2004 levaria nota 3 e versão de 1990 nota 5)

sábado, 25 de abril de 2009

Crítica de filme: [Rec]

Em 2007, [Rec] foi lançado na Espanha e no resto da Europa e foi um grande sucesso. Os americanos, ao invés de importarem o filme para colocar nos cinemas, compraram os direitos e o refilmaram, para lançamento em 2008. Recebeu o nome de Quarantine (Quarentena). Não vi a versão americana ainda mas já me disseram que é quase quadro-a-quadro o filme espanhol mas só que falado em inglês. Patético...

De toda forma [Rec] é uma espécie de irmão mais novo, mais inteligente, mais bacana e mais amedrontador do que Blair Witch Project e Cloverfield. A execução é idêntica nos três casos: câmera na mão + situação de horror e suspense. [Rec], porém, em toda sua simplicidade, oferece uma experiência que realmente assusta, diferentemente de seus similares, isso se você conseguir ignorar - ou suportar - o treme treme da câmera.

Tudo começa com uma repórter e seu câmera fazendo uma reportagen para o programa espanhol "Mientras Usted Dorme" (Enquanto Você Dorme) sobre uma noite no corpo de bombeiros de Barcelona. Em uma chamada aparentemente rotineira, os dois, junto com a equipe de bombeiros, ficam presos em um prédio residencial que foi lacrado sob suspeita de alguma estranha epidemia. Junto com eles estão dois policiais e os moradores. Logo a coisa começa a desandar e as mortes vão se avolumando. 

O filme tem apenas 75 minutos e a trama - muito simples - se desenrola com eficiência e sem deixar tempo para respirar. É entrar no prédio para as mortes começarem. Diferentemente de Blair Witch Project - e BEM diferente de Cloverfield - o senso de realidade é muito bacana e bem feito em [Rec]. Apesar das descobertas "sobrenaturais", o filme se mantém interessante e desesperador até o final. Aliás, vale dizer que os 10 minutos finais, quase que totalmente no escuro, são de roer as unhas. É perturbador o que vemos ou o que não vemos...

[Rec] mostra que não é necessário um orçamento milionário para se fazer um filme de terror acima da média. Basta vontade e originalidade na execução.

Nota: 8 de 10

Crítica de filme: RocknRola (RocknRolla - A Grande Roubada)


Guy Ritchie é um diretor  bacana mas é um mágico de um truque só. Seu filmes são todos parecidos não só na trama mas, também, na sua criação: movimentos de câmera, montagem, música. Tudo parece ser uma coisa só. RocknRolla, seu mais recente filme, parece ser uma continuação de Lock, Stock and Two Smoking Barrels (Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes) e Snatch (Snatch - Porcos e Diamantes).

Isso não é necessariamente ruim, apenas mais do mesmo. Talvez seja a estratégia do "em time que está ganhando, não se mexe". Ou talvez seja preguiça mesmo. De toda forma, como a fórmula de Ritchie é boa, não tenho muito que reclamar.

No filme, encontramos Lenny Cole (Tom Wilkinson, sempre muito bem), um golpista milionário, especializado em alvarás para construção de imóveis. O filme começa com ele enganando One Two (Gerard Butler, de 300) e seu parceiro Mumbles (Idris Elba, de The Wire). Em seguida, parte para um super golpe, dessa vez aplicado num bilionário russo Uri Omovich (Karel Roden) que, por sua vez, é enganado por sua contadora Stella (Tandie Newton de M:I:II) que, por sua vez, é amante de One Two. Nessa meiúca, temos o enteado de Lenny, Johnny Quid (Toby Kebell) que é roqueiro e finge sua morte para ter mais sucesso. É uma zona. Mas uma zona muito divertida.

São mortes violentas para todos os lados, uma perseguição hilária de dois russos indestrutíveis atrás de One Two e Mumbles, diálogos cheios de sub-texto e também muitas mortes violentas. Eu já disse que tem também muitas mortes violentas?

Estou muito curioso para ver agora Sherlock Holmes (com Robert Downey Jr.) pelo mesmo diretor, pois me parece ser uma mudança e tanto de curso para ele.

Vejam o filme e aprendar a estapear as pessoas corretamente!

Nota: 7 de 10

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Crítica de filme: Gomorra

Gomorra, de Matteo Garrone, foi um filme muito falado ano passado, com elogios do tipo "o Poderoso Chefão" do século XXI" e coisas do gênero. Foi até cotado para concorrer a melhor filme estrangeiro na cerimônia do Oscar mas, na hora "H", foi deixado delado. O filme, italiano, trata da máfia local sem glamour, chamada Camorra (o título é uma inteligente brincadeira com esse nome e o nome da cidade decadente bíblica), no sul da Itália.

De fato, o paralelo com o Poderoso Chefão existe mas quase que como uma antítese. Gomorra não tem os fraques, mansões, carrões, muito dinheiro, Vaticano e Cuba da trilogia de Coppola. É o Poderoso Chefão da favela, do conjunto habitacional, do lixo químico e nuclear, da pobreza mas é a realidade nua e crua. 

Baseado no livro homônimo do repórter Roberto Saviano, que foi jurado de morte pela Camorra e hoje vive em lugar incerto e não sabido, Gomorra se despe de qualquer sutileza para nos introduzir ao que há de pior em pleno fim da primeira década do século XXI. São 5 estórias não completamente explicadas que se tangenciam apenas mas que são capazes de mostrar os horrores da região italiana controlada pela máfia. Há brigas entre "famílias" mas não há códigos entre elas, apenas morte. Há o tráfico de drogas. Há o total desrespeito com os habitantes da região. Há a destruição do meio ambiente com aterros nada sanitários. 

O maior problema do filme é que ele não nos permite aproximar de nenhum personagem ao ponto de nos preocuparmos com ele. Tanto faz se eles morrem ou vivem pois não temos nem simpatia nem antipatia por eles. Esse distanciamento, talvez proposital, também faz o filme se arrastar em sua primeira metade, pois demoramos a nos "acostumar" com os personagens. No entanto, ele melhora bastante na segunda parte mas acaba muito de repente.

Pena que a máfica continue.

Nota: 7 de 10

Crítica de livro: The Dark Tower (A Torre Negra)

Stephen King é completamente maluco. O cara embarcou numa de escrever um épico em 7 volumes sobre um pistoleiro. O primeiro - e menor - volume foi lançado em 5 capítulos sob pseudônimo, começando em 1978 e acabando em 1981. No ano seguinte, o volume completo, batizado de The Gunslinger (O Pistoleiro) foi lançado. O volume 2, The Drawing of the Three (A Escolha dos Três) foi lançado em 1987 e o terceiro volume, The Wastelands (As Terras Devastadas), em 1991. 

Nesse ponto, King já havia se estabelecido como um conhecido escritor de terror e sua obra de mestre (como ele mesmo a denomina) ganhou um séquito de fãs. O quarto volume, Wizard and Glass (Mago e Vidro), só ficou pronto em 1997. 

E aí pareceu que King não queria mais escrever os últimos três volumes, para o desespero dos fãs. 

Mas o problema acabou entre 2003 e 2004, quando Stephen King finalmente fechou sua saga, lançando o volume cinco, seis e sete. São eles, respectivamente: Wolves of the Calla (Lobos de Calla), Song of Susannah (A Canção de Susannah) e The Dark Tower (A Torre Negra).

A editora Objetiva passou a publicar os livros no Brasil a partir de 2004 e eu caí na armadilha de comprar e ler o primeiro. Como sou um imbecil, se eu começo alguma coisa, eu acabo. Aí começou minha lenta marcha até esse mês, 5 anos depois, quando consegui acabar o último volume.

Para quem não sabe, uma breve sinopse: Roland Deschain é um pistoleiro solitário que atravessa um mundo pós-apocalíptico chamado Mundo Médio (qualquer semelhança com a Terra Média de Tolkien não é mera coincidência) com o objetivo de alcançar o centro dos multiversos, a Torre Negra. Durante sua busca, Roland se junta a um garoto chamado Jake Chambers, um drogado chamado Eddie Dean e uma negra sem as duas pernas e com distúrbios de personalidade que acaba sendo batizada de Susannah, todos de New York (a que nós conhecemos) Juntos eles formam um ka-tet, uma espécie de grupo com um só destino e passam por diversos perigos.

O primeiro livro, bem curto, é muito simples. Roland começa atrás do Homem de Preto e, no meio do caminho, encontra Jake. Não tem muita aventura e serve mesmo de introdução ao personagem principal e ao seu nêmesis. O segundo livro começa com Roland acordando em uma praia e sendo atacado por monstros que ele chama de "lagostrosidades". Elas arrancam alguns dedos do pistoleiro. Muito ferido, ele encontra portas para a New York que conhecemos mas em diferentes épocas: 1987, 1964 e 1977. De cada uma dessas portas, ele retira um dos componentes de seu ka-tet e, na terceira, um inimigo. Muito do livro se passa efetivamente em New York. O choque entre realidades torna esse livro bem interessante.

Já no terceiro volume, Roland se junta a Jake Chambers novamente e seu ka-tet está completo (junto com um bicho do Mundo Médio chamado Oi) e todos partem para Lud, através das Terras Devastadas. Lá encontram mutantes e o Homem do Tique-Taque (essa parte lembra muito The Road Warrior). O livro tem um bom teor de aventuras e perigo.

No quarto e melhor volume, Wizard and Glass, acabamos conhecendo parte do passado de Roland, quando ele era um jovem pistoleiro que acabara de receber suas armas. Junto com Alain Johns e Cuthbert Allgood - seu ka-tet da época - ele parte para sua primeira aventura no Baronato de Mejis, onde se apaixona por Susan Delgado. 

Nos três últimos volumes, os elementos sobrenaturais e estranhos da mente complicada de Stephen King acabam aparecendo de forma exacerbada e tudo começa a se desmoronar. Apesar de ter construído uma estória cativante com os 4 primeiros volumes, os 3 últimos meio que anulam os efeitos até então obtidos. 

Por exemplo, no quinto volume, o ka-tet de Roland tem que proteger os habitantes de Calla Brin Sturges de monstros que seqüestram seus filhos (a parte boa da estória) e, também, uma rosa vermelha em um terreno baldio da New York que conhecemos (a parte ruim da estória). Essa rosa é muito mal explicada mas, tendo em vista o tom sobrenatural da estória, até dá para deixar passar. Ah, não podemos esquecer que Susannah engravida de um demônio e uma nova personalidade toma conta dela, chamada Mia.

Mais para a frente, no sexto volume, o ka-tet se separa e Stephen King faz algo que me surpreendeu negativamente: ele se insere na estória como um personagem que está escrevendo o épico The Dark Tower. Realidade e ficção se confundem e eu fiquei pensando - e ainda penso - que o ego de King se inflou demais. As referências à outras obras do autor passam a se intensificar ao ponto do ridículo, com livros inteiros servindo de guias ao ka-tet. Esse volume é particularmente complexo e culmina com o nascimento do filhinho bonitinho de Mia/Susannah.

O último volume demora muito a decolar mas acaba decolando com um bom tiroteio num lugar chamado Dogan, onde psíquicos estão tentando destruir os feixes que mantém a Torre Negra (e, portanto, todas as realidades) em pé e acaba com uma longa jornada final até a Torre Negra, com um finalzinho que me agradou bastante, ainda que a batalha com o Rei Rubro (o grande inimigo por trás de tudo) seja ridícula.

Minha jornada até a Torre Negra foi basicamente de altos e baixos mas os baixos foram muito mais baixos do que os altos foram altos... 

Se eu tivesse que dar nota para cada livro, elas seriam mais ou menos assim:

Volume I - The Gunslinger: 5 de 10 (nada realmente acontece)
Volume II - The Drawing of the Three: 7 de 10 (interessante o choque entre mundos)
Volume III - The Wastelands: 7 de 10 (boa aventura)
Volume IV - Wizard and Glass: 9 de 10 (o passado de Roland dá de 10 em seu "presente")
Volume V - Wolves of the Calla: 6 de 10 (a boa aventura contra os tais lobos é estragada pela procura da rosa)
Volume VI - Song of Susannah: 4 de 10 (a entrada de Stephen King como personagem é ridícula)
Volume VII - The Dark Tower: 6 de 10 (a nota seria mais alta se não fosse a intensificação da participação de Stephen King e a briga patética com o Rei Rubro, que é descrito durante a série como um ser extremamente poderoso)

Nota final (não é uma média): 6 de 10

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Relembrando: Star Wars: Episode III - Revenge of the Sith

Desde que O Retorno de Jedi passou nos cinemas, no longíquo ano de 1983, eu e todos os fãs da trilogia Star Wars de George Lucas passaram a fazer greve de fome até que o "criador" decidisse partir para a filmagem da trilogia que antecedia a trilogia original. Essa greve durou até mais ou menos o começo de 1996, quando os rumores mais sólidos de que uma nova trilogia seria feita começaram a aparecer.

Três anos depois, em 1999, Lucas, como todos sabemos, lançou The Phantom Menace, mais conhecido como o filme que tem (1) o insuportável do Jar Jar Binks, talvez o pior personagem da história cinematográfica; (2) um moleque péssimo ator que gritava "yiiiippeeee", fazendo as vezes de Anakin Skywalker; e (3) midi-chlorians "explicando" a Força. Isso apenas para listar os problemas maiores. Foi um desapontamento para mim e para uma enorme galera de marmanjos barbados que colecionavam brinquedinhos dos filmes. Basicamente, o filme só tinha uma cena boa: a luta com Darth Maul.

Em 2002, Lucas, persistente em dirigir esses filmes, lançou Attack of the Clones, mais conhecido como o filme que tem (1) vários fragmentos de estórias sem explicação (Mestre Syfo-Dias? O morto Qui-Gon gritando? Um exército de clones baseado em um caçador de recompensas?); (2) um super-poderoso mestre Yoda que parece um camundongo sob a influência de crack e que só apanha de seus inimigos; (3) um Jango Fett que morre em 3 segundos de luta; (4) uma ridícula execução romano-cartunesca, com monstros e (5) cenas de amor idílico entre Anakin e Padmé que fazem trincar os dentes de tão horríveis. Novamente, apenas citei o que achei de mais insuportável.

Já sem esperanças, em 2005, assisti a Revenge of the Sith, o que sabia que seria o fim de meu sofrimento até Lucas decidir fazer outra trilogia. Achei o filme uma porcaria e acabei não o vendo novamente.

Isso mudou há pouco. Minha filha mais velha já havia visto a trilogia original e os episódios I e II. Sempre me cobrava assistir ao III pois ela queria saber como o Anakin se transforma em Darth Vader. 

Assim, coloquei meu DVD player para rodar. E..... vi um filme bem diferente daquele que vi em 2005.

Revenge of the Sith é quase um filme muito bom, apesar da raiva de Anakin inacreditavelmente crescer em pouquíssimo tempo, fazendo-o se transformar de Jedi que quase prende o Chanceler Palpatine em uma cena para, logo na outra, cortar as mãos de Mace Windu e, pior, trucidar criancinhas indefesas... 

No entanto, dá para vislumbrar o que George Lucas queria fazer mas que algum arroubo de exagero dramático o impediu. A segunda trilogia (ou primeira, dependendo de seu ponto de vista) tinha que contar a ascensão e queda de Anakin. Acontece que sua ascensão é muito lenta, alcançando o pico apenas no Episódio III, com uma queda quase que imediata. Se Lucas tivesse conseguido espaçar mais isso, teria feito uma boa trilogia, mesmo que ela contivesse imbecilidades como o Jar Jar Binks.

O terceiro filme está longe de ser uma redenção de Lucas em relação aos dois primeiros. Ele apenas conseguiu, aos meus olhos - e mesmo assim 4 anos após o lançamento - diminuir um pouco a angústia de ter visto alguém dilacerar uma propriedade intelectual impressionante.

Se eu tivesse que dar notas hoje para os seis filmes, ela seriam mais ou menos assim (na ordem de lançamento no cinema):

Episode IV - 9 de 10 
Episode V - 10 de 10 (esse filme é perfeito)
Episode VI - 9 de 10
Episode I - 5,5 de 10 (sim, a luta com Darth Maul o torna marginalmente melhor que o II)
Episode II - 5 de 10
Episode III - 7,5 de 10 (acho que, em 2005, eu teria dado 6 no máximo)

domingo, 19 de abril de 2009

Club du Film - Ano IV - Semana 14: Il Vangelo Secondo Matteo (O Evangelho Segundo Mateus)


Há três anos, no dia 28 de dezembro de 2005, eu e alguns amigos decidimos assistir, semanalmente, grandes clássicos do cinema mundial. Esse encontro ficou jocosamente conhecido como Club du Film. Como guia, buscamos o livro The Great Movies do famoso crítico de cinema norte-americano Roger Ebert, editado em 2003. Começamos com Raging Bull e acabamos de assistir a todos os filmes listados no livro (uns 117 no total) no dia 18.12.2008. Em 29.12.2008, iniciamos a lista contida no livro The Great Movies II do mesmo autor, editado em 2006. São, novamente, mais 100 filmes. Dessa vez, porém, tentarei fazer um post para cada filme que assistirmos, com meus comentários e notas de cada membro do grupo (com pseudônimos, claro).

Filme: Il Vangelo Secondo Matteo (O Evangelho Segundo Mateus)

Diretor: Pier Paolo Pasolini

Ano de lançamento: 1964

Data em que assistimos: 14.04.2009

Crítica: Por onde eu começo? Nunca tinha visto um filme de Pasolini por puro preconceito. Sempre o tive como autor de filmes para lá de cabeça e, com isso, fui deixando para trás a vontade de assistir alguma coisa dele.

Posso dizer que estava certo. "Evangelho" conta a estória de Cristo, de acordo com as palavras do apóstolo Mateus. O filme é uma leitura literal desse evangelho. Literal MESMO. São duas horas e tanto que parecem ser umas 8 horas. Os atores são todos amadores, recrutados ali mesmo, durante a filmagem ou um pouco antes. São todos péssimos. O filme é considerado como uma das melhores adaptações da estória de Jesus Cristo talvez por tratar do assunto de forma desapaixonada, sem tomar nenhum partido. 

Essa falta de paixão, porém, se traduz em um filme chato, sem o fogo que nos incentiva a assistí-lo. Não gosto de obras sem opiniões, por mais contrárias que elas possam ser às minhas opiniões. Pasolini conseguiu fazer quase que um documentário. Aliás, menos que um documentário pois documentário têm opiniões. Ele me fez sentir como se um câmera estivesse presente aos fatos históricos, só gravando-os. No entanto, é tudo muito chato, arrastado, metido a intelectual e com atores terríveis. Nunca tive tanta vontade de ver Cristo crucificado logo!

Nota: 

Minha: 0 de 10
Klaatu: 0 de 10
Barada: 2 de 10
Nikto: 1 de 10

sábado, 18 de abril de 2009

Crítica de filme: Gran Torino

Quando vi o trailer desse filme pela primeira vez, com um Clint Eastwood durão, portando armas para defender os mais fracos e com cara de poucos amigos, achei que estava diante de um novo Dirty Harry, a versão geriátrica de Harry Callahan. Esse pensamento durou apenas 3 segundos pois não dava para acreditar que Eastwood voltaria para filmes formuláicos a essa altura da vida, depois de ter se provado por várias vezes como um dos melhores diretores norte-americanos vivos.

E, de fato, Gran Torino, apesar de ter elementos de Dirty Harry, é um animal bem diferente. Eastwood, dessa vez, vive Walt Kowalski, um veterano da Guerra da Coréia que mora no Michigan, em um bairro quase que exclusivamente populado por Hmongs, um povo da Ásia que imigrou para os Estados Unidos. O preconceito de Walt é evidente, assim como o preconceito dos Hmongs mais velhos em relação a Walt. Walt vive uma vida pacata e sua mulher, companheira de uma vida, acabou de falecer, deixando-o apenas com uma cadela. Walt tem dois filhos que não ligam para ele.

Tudo muda quando seu vizinho - o garoto Thao - tenta roubar seu Ford Gran Torino 1972. Ele o impede e a gangue que havia mandado Thao fazer o serviço começa a espancar o garoto. Walt intervém e todos os Hmongs da rua ficam amigos dele, para seu desespero.

Com isso, Walt, muito a contra gosto, fica sendo a figura de pai para Thao, ensinando-o a ter uma carreira longe das gangues. Logo Walt percebe que tem mais em comum com seus vizinhos que com sua própria família. 

Mas, claro, o personagem de Eastwood tem camadas de complexidade. Além de se culpar por ter sido aparentemente um pai distante, Walt também se culpa pelos horrores que teve que perpetrar durante a guerra. Não acredita mais em religião e Thao, o garoto Hmong, acaba sendo uma forma de Walt expiar seus pecados e nisso ele vai até as últimas consequências. É a estória do nascimento de um homem e a salvação de outro.

A atuação de Clint Eastwood chega a ser cartunesca em sua amargura e "ódio" por todos à sua volta. Fala com os dentes cerrados e grunhe a cada momento. Mas fica visível, em seus olhos, a mudança do homem ao longo do filme. Já atuação dos atores asiáticos que, na verdade, são todos principantes, não está no mesmo nível e, às vezes, fica meio complicado ver as emoções fluindo como deveriam.

No entanto, o embate de gerações e a excelente construção dos personagens dá à Eastwood, também o diretor, mais um filme vencedor. Aliás, sobre isso, há que se dar destaque. O homem não pára de dirigir filmes no alto de seus 79 anos! Desde 2003, dirigiu o oscarizado e triste Mystic River (Sobre Meninos e Lobos), o super-oscarizado (diretor e filme, dentre outros) e super-triste Million Dollar Baby (Menina de Ouro), a dobradinha sobre a guerra no pacífico Flags of Our Fathers (A Conquista da Honra) e Letters from Iwo Jima (Cartas de Iwo Jima) e Changeling (A Troca). O cara é uma máquina de fazer filme bom! 

Que continue assim por muito mais tempo!

Nota: 8 de 10

domingo, 12 de abril de 2009

Crítica de Show: Kiss no Rio de Janeiro

Como banda de rock, o Kiss é um excelente empreendimento comercial.

Longe dos palcos desde 2004, o Kiss se juntou mais uma vez (ao menos Paul Stanley e Gene Simmons permanecem da formação original) para ganhar mais uns trocados tocando músicas clássicas do grupo. Nada errado com isso. O The Police, Iron Maiden e A-Ha fizeram o mesmo recentemente. 

Acontece que o Kiss eleva essa onda de "revival" à décima potência capitalizando naquilo que sabe fazer melhor: um grande show pirotécnico, tecnicamente muito bem feito e excitante mas que deixa a desejar em termos de conteúdo, especialmente se compararmos os nossos amigos maquiados com o Iron Maiden.

Aliás, essa comparação, ao mesmo tempo que é pertinente, é também injusta. Em primeiro lugar sempre fui mais fã do Iron do que do Kiss. Tenho todos os CDs da Dama de Ferro e uns 2 apenas do Kiss. Vi  cinco shows do primeiro e dois do Kiss (contando com esse comentado agora). Assim, obviamente, falo com muita parcialidade, mas opiniões são assim mesmo. 

O show do Kiss me fez apreciar ainda mais o Bruce Dickinson e sua trupe. Em dois shows em um intervalo de um ano, o Iron Maiden conseguiu equilibrar qualidade musical com pirotecnia, em um balanço perfeito. Já o Kiss tem músicas muito bacanas, de melodia cativante mas que não "lambem as botas" das músicas do Iron. Kiss é mais farofa; o Iron é mais "sério". Mas os dois são ótimos representantes de sua categoria musical: o rock 'n roll. 

O grande problema do Kiss é sua extrema dependência de sua bengala. Sem ela, o Kiss não fica de pé. A bengala do grupo é uma coisa só: o espetáculo circense. Temos a maquiagem pesada, os cabelos ainda estilo "grupo de rock da década de 70", roupas brilhantes pretas com prateado, sangue falso escorrendo pela boca, saltos plataforma, baixos em formato de machado, plataformas que fazem a bateria sair voando pelo palco, muita fumaça e muitos, mas muitos fogos de artifício, quase rivalizando com o revéillon de Copacabana...

O espetáculo circense é tão exagerado que às vezes atrapalham a música. Em Detroit Rock City, por exemplo, as explosões eram tão constantes que abafavam a música. Em Rock and Roll all Nite, a chuva de papel picado era tão impressionante que era mais vistosa que o clássico sendo tocado ao fundo. 

Não me levem a mal. Eu gosto do Kiss. Sabia que iria ver algo assim até porque já havia visto um show deles que antecedeu um do Aerosmith e havia saído desse outro show achando que o Kiss havia "jantado" a turma de Steven Tyler. No entanto, foi o show na Apoteose que me fez acordar para a razão: o Kiss é a Broadway dos shows de rock. O Aerosmith, Iron Maiden e outros são off Broadway, às vezes até off-off-Broadway.

De toda forma o lado positivo do Kiss é o mesmo do que o negativo. É um showzaço, muito divertido, com som extremamente alto (alto demais até, eu diria) que empolga. Mas não é verdadeiro rock 'n roll, mas sim um aperitivo para que os fãs comprem os apetrechos que Paul Stanley e Gene Simmons (esse, então, participa de uns 3 reality shows na TV...) vendem pelo mundo afora. Quase fiquei esperando, ao fim, passarmos obrigatoriamente por uma daquelas lojinhas que têm na saída dos shows da Broadway...

Outro ponto que me irritou bastante foi as enrolações entre uma música e outra. Não estou falando dos solos, claro. Esses são necessários e foram bacanas, especialmente o de bateria. Falo das canastrices setentistas de Paul Stanley que aconteciam a cada segundo. Da próxima vez, Paul, fale menos e cante mais (mas sugiro que faça um intervalo maior entre shows pois sua voz não aguentou dois dias seguidos de show).

O set list foi impecável, basicamente o Alive inteiro (não à toa, a desculpa para a reunião do grupo foi comemorar os 35 anos desse disco). Apesar de terem tocado uma música a menos do que o show em SP (Love Gun), talvez pela pouca voz de Paul Stanley, eles mandaram ver com:

1. Deuce
2. Strutter
3. Got to Choose
4. Hotter than Hell
5. Nothin' to Lose
6. C'mon and Love Me
7. Parasite
8. She
9. Solo de Tommy Thayer
10. Watchin' you
11. 100,000 Years
12. Solo de Eric Singer
13. Cold Gin
14. Let Me Go, Rock 'n Roll
15. Black Diamond
16. Rock and Roll all Nite

Bis

17. Shout it Out Loud
18. Lick it Up
19. Won't Get Fooled Again
20. Solo de Gene Simmons
21. I Love it Loud
22. I was Made for Lovin' You
23. Detroit Rock City

Em suma, Kiss é para consumo rápido, sempre foi. Mas o apoteótico show parece ter divertido quem estava lá. 

Eu achei meio exagerado e vazio.

Nota: 6 de 10

sábado, 11 de abril de 2009

Club du Film - Ano IV - Semana 13: The Treasure of the Sierra Madre (O Tesouro de Sierra Madre)


Há três anos, no dia 28 de dezembro de 2005, eu e alguns amigos decidimos assistir, semanalmente, grandes clássicos do cinema mundial. Esse encontro ficou jocosamente conhecido como Club du Film. Como guia, buscamos o livro The Great Movies do famoso crítico de cinema norte-americano Roger Ebert, editado em 2003. Começamos com Raging Bull e acabamos de assistir a todos os filmes listados no livro (uns 117 no total) no dia 18.12.2008. Em 29.12.2008, iniciamos a lista contida no livro The Great Movies II do mesmo autor, editado em 2006. São, novamente, mais 100 filmes. Dessa vez, porém, tentarei fazer um post para cada filme que assistirmos, com meus comentários e notas de cada membro do grupo (com pseudônimos, claro).

Filme: The Treasure of the Sierra Madre (O Tesouro de Sierra Madre)

Diretor: John Huston

Ano de lançamento: 1948

Data em que assistimos: 07.04.2009

Crítica: Sierra Madre não é uma estória sobre tesouros mas sim sobre a cobiça e como ela nos afeta. Humphrey Bogart faz o papel de Fred C. Dobbs, um cara que vive de esmolas na cidade de Tampico, México, em 1925. Logo ele encontra Bob Curtin (Tim Holt) na mesma situação e os dois se juntam para trabalhar temporariamente em uma construção. Depois de serem enganados pelo empreiteiro, Dobbs e Holt vão parar em uma estalagem bem simples, onde encontram o falastrão Howard (Walter Huston, pai do diretor) que conta sua vida de altos e baixos como garimpeiro de ouro.

Fascinados pelas estórias, Dobbs e Curtin decidem juntar todos os centavos que têm para, junto com Walter, partirem à procura do ouro. Assim como em The Maltese Falcon, o elemento principal do filme - o ouro - é um McGuffin. É apenas algo que dirige a estória. Logo os três - muito amigos - constróem toda uma estrutura no meio das montanhas de Sierra Madre para peneirarem o ouro e começam, assim, a juntar uma pequena fortuna. Com isso, logo vem a desconfiança e eles decidem, a cada final de dia, repartirem o que encontraram para cada um esconder seu quinhão dos demais. Dobbs começa a ficar paranóico, desconfiando de cada um de seus colegas.

A estória não é muito complexa. Trata-se de uma estrutura linear: homens acham ouro, homens deixam a ganância subir à cabeça, homens brigam pelo ouro. No entanto, é um filme de John Huston, um dos grandes diretores norte-americanos. Ele explora Humphrey Bogart ao máximo retirando dele o que talvez seja seu melhor papel. Dobbs é um homem frágil, que se mostra com princípios ao começo mas que, ao leve tilintar dos cifrões, se torna amoral, asqueroso. O porte físico de Bogart (que somente na época em que ele viveu poderia torná-lo um galã) ajuda muito nessa "transformação".

Os cenários e as filmagens em locação de Sierra Madre são uma estória a parte. O filme é basicamente, a estória de três homens apenas, que encontram os mais variados obstáculos na procura do ouro. No entanto, a cidade decadente de Tampico e as montanhas de Sierra Madre são outros dois personagens que não pode ser desconsiderados. Com construção minuciosa de cenários internos e o uso de externas excelentes, Huston dá vida aos dois ambientes: um é o ambiente podre, já corrompido pelos homens e o outro é o ambiente virgem, ainda a ser corrompido pelos homens. É interessante a preocupação de Walter, quando eles decidem partir das montanhas, em desmontar tudo o que eles fizeram de forma a deixar as montanhas da maneira como eles a encontraram. Isso contrasta fortemente com o que Dobbs e Curtin acham que deve ser feito mas os dois acabam concordando com seu amigo mais velho. A descida das montanhas de Sierra Madre - três homens e alguns burros cheios de sacos de ouro - é a descida ao inferno, onde os ânimos se exacerbam e as pessoas descobrem de vez seu lado negro.

É um dos melhores filmes de Huston e um dos mais belos exemplos de cinema que o sistema de estúdios de Hollywood (décadas de 40 e 50) já produziu.

Notas:

Minha: 9,5 de 10
Barada: 8 de 10
Nikto: 7 de 10

Crítica de filme (em DVD): The Big Hit (Tiro e Queda)

Um amigo meu queria comprar o filme The Big Heat de Fritz Lang, lançado em 1953 e acabou errando "por pouco" e adquiriu The Big Hit (Tiro e Queda) de Kirk Wong, lançado em 1998. Acabei pegando emprestado para ver o tal filme errado, que é estrelado por Mark Wahlberg (logo após Boogie Nights), Lou Diamond Philips e Christina Applegate.

The Big Hit é um filme de tiroteios insanos, stunts inacreditáveis e explosões absurdas, tudo isso envolvido numa atmosfera de comédia louca, mas com algum tipo de inteligência. Tudo bem no estilo John Woo em começo de carreira (que, não por acaso, é o produtor), e filmes orientais do gênero.

Melvin (Mark Wahlberg) e Cisco (Lou Diamond Philips) são parte de um quarteto de assassinos de aluguel, empregados por um poderoso chefão chamado Paris (Avery Brooks). Mel é o bandido bonzinho, explorado pelos colegas de profissão, pela mulher e pela amante (que o trai com um tipo latino dos mais estereotipados). Quando Cisco convence Mel de ganhar "um por fora", trabalhando no sequestro de Keiko Nishi (China Chow), filha de um milionário oriental falido, sua vida mais ou menos pacata desaba. Acontece que Keiko é a afilhada de Paris e o chefão não fica muito feliz com o sumiço da garota. Não sabendo que foram seus próprios empregados que a sequestraram, ele manda Cisco investigar e o vigarista tenta, de toda forma, acusar seus comparsas.

Não levava a menor fé no filme mas ele diverte muito. Muito mesmo. As cenas de ação extremamente exageradas são uma espécie de "comentário" malicioso das cenas de ação dos "filmes de ação" atuais. De tão inacreditáveis, elas são muito engraçadas, sem deixar de serem genuinamente bacanas e ágeis. Keiko é a típica oriental-fetiche, pois é sequestrada saindo do colégio e, portanto, vestindo aquela blusinha branca de botões com uma sainha plissada xadrez. Excelente! 

O pai de Keiko, Jiro, faliu pois resolveu produzir (e dirigir!) um blockbuster de Hollywood, que, obviamente, foi um fracasso. Mel é também perseguido pelo balconista de sua locadora de vídeo que toda hora liga pedindo que ele devolva o VHS de King Kong Lives que está com Mel há mais de 2 semanas. Enquanto isso, o filme (que, para quem não viu, é horroroso) foi furtado pela amante de Mel, já que seu amante latino adorou o filme.

Muita loucura, muita bobagem, muito tiro, muitas perseguições e muita, muita diversão! Não há porque não gostar desse filme.

Nota: 7 de 10

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Crítica de quadrinhos: Y: The Last Man

Há um ano mais ou menos eu li as primeiras quatro coletâneas de Y: The Last Man, publicadas pelo selo Vertigo da DC Comics. Por falta de tempo, acabei não lendo as demais. Agora, de uma tacada só, comprei e li as seis coletâneas restantes, perfazendo 60 números dessa revista em quadrinhos que acabou ano passado.

As 10 coletâneas contam um grande arco de uma única estória, sobre o último homem sobre a Terra. Não, não é o último humano sobre a Terra mas sim, de verdade, o único ser com o cromossomo Y sobre a Terra. Na verdade, tratam-se de dois seres assim: Yorick Brown, um rapaz de 22 anos e seu macaco capuchinho Ampersand (ampersand é o símbolo &, para quem não sabe). 

Logo nas primeiras página do primeiro número, uma praga dizima todos os homens, deixando apenas Yorick e Ampersand para desfrutarem da mulherada ávida por sexo que os cerca. Não, não. A estória não é idiota assim, estava apenas brincando. 

Ao contrário, a premissa é séria e muito interessante. Yorick é um rapaz imaturo mas inteligente, mágico amador (um "escape artist") que não consegue falar nada sem citar alguma referência da cultura "pop",  e que é perdidamente apaixonado por sua namorada Beth, que está passando uma temporada na Austrália no momento em que os homens são mortos por uma ameaça invisível. Yorick, então, é levado por uma agente secreta negra, chamada apenas de 355,  juntamente com a geneticista Allison Mann em uma fuga pelos Estados Unidos (e pelo mundo), para procurarem a cura do problema. Yorick, por outro lado, tem seu próprio objetivo, que é achar Beth.

No meio do caminho, eles encontram Amazonas, lésbicas, ninjas, cowgirls, o exército israelense, agentes inimigos, astronautas, cientistas e tudo mais o que se pode imaginar. O mundo em que Yorick vive, agora, é dominado pelas mulheres e muita coisa mudou. Muita coisa mesmo. 

Brian K. Vaughan, o roteirista e criador da série, deve ter feito uma inacreditável pesquisa para escrever Y: The Last Man. Ele deixa claro o que falharia, o que continuaria funcionando e o que melhoraria se, subitamente, todos os homens desaparecem, deixando as mulheres comandando o mundo. Por exemplo, aparentemente, a única marinha que aceita mulheres em submarinos é a marinha da Austrália e, por causa disso, na situação calamitosa descrita nos quadrinhos, elas se tornariam as rainhas dos sete mares. 

Mas, na verdade, a praga é um McGuffin, ou seja, é apenas um artifício, algo que move os personagens no caminho de uma cura mas que, na verdade, o mais importante é a jornada. Yorick amadurece a cada passo, aprende o que é o amor verdadeiro, descobre a dor profunda, vai de um suicida a um herói. 355, uma máquina de matar, descobre seu lado "mulher" e passa a apreciá-lo. Hero, a irmã de Yorick (reparem nos nomes Shakespearianos dos personagens) se deixa levar para o "lado negro" mas luta para se redimir. A Dra. Allison Mann, que se acha culpada pela praga, aprende que o mundo não gira em volta dela. É, sem dúvida, uma estória de crescimento, superação e auto-descoberta como poucas, pontilhada, claro, de memoráveis cenas de ação e excelentes piadas. As brincadeiras de Yorick com a cultura "pop" são impagáveis e têm que ser lidas umas três vezes cada para se apreciar inteiramente a inteligência do texto.

O desenho de Pia Guerra é simples e, ao mesmo tempo, detalhado. Ela não tenta ser uma artista radical abstrata nem uma realista ao extremo. Vemos que a preocupação é com os traços dos rostos, com as expressões, com modificações muito sutis - mas ao mesmo tempo sensíveis - de um quadro para outro. Às vezes, até dá para achar que os desenhos são simplórios demais mas, no "grande esquema das coisas", eles funcionam maravilhosamente bem.

Como nem tudo é perfeito, dois problemas me fizeram perder a atenção durante a série. O primeiro deles não é exatamente um problema (não para mim) mas certamente contribui para dar um tom um pouco artificial à estória: todas as mulheres são lindas e maravilhosas nessa série, sejam elas "do bem" ou "do mal", novas ou velhas. Não tem nenhuma mulher feia, gorda, flácida e, quando alguém com uma forma inferior à de uma top model aparece, ela não é definitivamente feia e, além do mais, aparece muito pouco.

O outro problema que lá pelo oitavo volume começa a cansar de verdade é a quantidade de vezes que os personagens principais se ferem, passam por intervenções cirúrgicas das mais variadas, e saem serelepes alguns instantes depois. A repetição dos eventos é para lá de irritante mas a série como um todo é tão boa que dá perfeitamente para perdoar essa overdose.

É uma pena que acabou. Mas Brian K. Vaughan, autor ainda da excelente graphic novel Pride of Baghdad e de outra série que quero muito ler (Ex Machina), certamente ainda tem muito a contribuir para o mundo dos quadrinhos. Que venham novas obras!

Nota: 9 de 10

terça-feira, 7 de abril de 2009

Crítica de DTV: Watchmen: Tales of the Black Freighter & Under the Hood (Contos do Cargueiro Negro e Sob o Capuz)

Definitivamente não podem acusar a Warner de ter economizado em Watchmen. Não sei se foi influência de Zack Snyder ou alguma paixão de um produtor pela obra original mas os caras não só fizeram um filme de super-heróis de quase 3 horas, não recomendado para menores de 18 anos, violento, de temática complexa, como, também, investiram na "estória dentro da estória" denominada Contos do Cargueiro Negro e, de quebra, em uma inteligente adaptação das páginas do livro Sob o Capuz, que aparece ao fim de alguns capítulos dos quadrinhos. Ambos foram lançados diretamente em DVD/Blu-Ray e eu não resisti aos impulsos e comprei.

Vamos, então, discutir cada um deles.


Tales of the Black Freighter (Contos do Cargueiro Negro):

Em um mundo onde os super-heróis existem de verdade, nada mais natural que os quadrinhos mais vendidos e lidos sejam os de piratas. Essa premissa simples mas inteligente é o que está por trás dos Contos. Em Watchmen, os quadrinhos, os Contos são "lidos" por um menino que fica a estória inteira sentado ao lado de uma banca de jornais. Nem toda a estória é mostrada em Watchmen mas o que não aparece em desenho, aparece em narração, que se mistura com a narração da estória principal. Contos do Cargueiro Negro comenta e encorpa  a narrativa de Watchmen, criando um mundo ainda mais real e próximo de nós.

Na estória, um único sobrevivente do ataque do Cargueiro Negro (um navio pirata) tenta desesperadamente voltar para casa, para sua esposa e filhas, antes que os amaldioçados piratas destruam sua cidade. Para voltar, ele faz uma jangada composta dos corpos de seus colegas de navio e sua descida ao inferno apenas começa aí. Não fica pedra sobre pedra, eu garanto.

São 26 minutos de um desenho animado estilo anime muito bem feito, que expande um pouquinho a estória original mas aborda todos os seus horripilantes detalhes sem deixar nada de fora. O personagem principal, vale notar, é muito bem dublado por Gerard Butler (o Rei Leônidas de 300).

A estória tem vida própria independentemente de Watchmen mas quem já leu os quadrinhos consegue fazer a ponte entre essa estória e a estória de Adrian Veidt, dentre outras. Sua futura re-inserção no filme poderá tornar a obra de Snyder ainda mais interessante pois certamente a tornará mais humana.

Nota: 8 de 10


Under the Hood (Sob o Capuz):

Under the Hood é o título do livro que, no mundo de Watchmen, Hollis Mason (o primeiro Nite Owl) escreveu contando suas peripécias como vigilante mascarado na década de 40. Holis Mason (vivido por Stephen McHattie), infelizmente, quase não aparece na versão para cinema de Watchmen mas, pelo que já li, sua participação integral foi filmada e está garantida na versão "do diretor" do filme. 

A transposição de Under the Hood para as telas não é direta. Zack Snyder e sua trupe imaginaram uma forma muito inteligente de trazer a obra para vida: um programa de jornal chamado The Culpeper Minute estáreprisando um documentário que preparou em 1975 sobre Under the Hood e é isso que vemos na tela. Temos o repórter estrevistando Hollis, a primeira Silk Spectre (Carla Gugino, que aparece no filme) e vários outros personagens que só vemos de soslaio na obra de Snyder. 

A reportagem nos conta a origem do primeiro grupo de super-heróis - os Minutemen - na década de 40, seu fim, o surgimento do Dr. Manhattan e seu impacto e, finalmente, o surgimento da segunda geração de heróis (a que vemos no filme). Muito interessante a execução da "reportagem" mas, claro, ela é intimamente ligada com os quadrinhos e com o filme, pelo que somente poderia agradar aos fãs, diferentemente dos Contos do Cargueiro Negro, que tem vida própria.

Nota: 7 de 10

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Crítica de filme: Yes Man (Sim Senhor)

Yes Man foi o filme que assisti no avião na volta da minha viagem. Mais um que estava arquivado na categoria "não assistir" mas que, em um avião, vale tudo. 

Diferente de O Dia em que a Terra Parou, Yes Man é um filme que é melhor do que imaginava ser.

O filme conta a estória de Carl (Jim Carey), um homem negativista e solitário que diz não para tudo. Ele esbarra em um antigo amigo que acaba convencendo-o a participar de um daqueles programas tipo lavagem cerebral, lecionado pelo guru Terrence Bundley (uma ótima ponta de Terence Stamp), chamado Yes Man. Como o título indica, trata-se de um programa em que o sujeito tem que dizer sim a tudo, não interessa o quão absurda é a pergunta/proposta. A promessa é de uma vida melhor, de experiências. Carl, então, começa dizendo sim quando um sem teto lhe pede carona para um fim de mundo e isso acaba levando-o a conhecer Allison (a bonita Zooey Deschanel), uma mulher que realmente aproveita a vida. Desse ponto em diante, a vida de Carl começa a melhorar e o filme passa a ficar mais açucarado.

De toda forma, até o romance engatar de verdade, o fime oferece boas risadas. Temos Carl dizendo "sim" para sua idosa vizinha que quer proporcionar-lher prazeres sexuais; "sim" para um site que oferece buscas de noivas iranianas; "sim" para a oferta de venda de colchões Tempur Pedic (daqueles que você pode colocar um taça de vinho tinto numa ponta e pular na outra e nada acontece); "sim" para bungee jumping; "sim" para a festa temática de Harry Potter a que seu chefe o convida e várias outras situações absurdas que aproveitam bem o único talento de Jim Carey, o de fazer caretas.

No entanto, exatamente pelo filme oferecer essas risadas é que ele sai daquela zona cinzenta que havia me levado a colocá-lo na minha lista de filmes para não assistir. A trama, claro, lembra muito Liar Liar, também com Jim Carey, e, de fato, é bem parecida. É um filme menos caricato que Liar Liar mas, por outro lado, é mais romântico pelo que os dois acabam de "anulando". 

Um último comentário. O título em português ficou ridículo. Sim Senhor, sem a vírgula, não tem o significado do título em inglês. O que o título em inglês significa é, literalmente, o Homem Sim. Poderiam ou ter traduzido literalmente, ou mantido o título original em inglês ou parado para pensar um pouco mais para arranjarem algo do tipo O Pensamento Positivo ou algo idiota nesse nível mas não exatamente ridículo...

Nota: 5,5 de 10

domingo, 5 de abril de 2009

Crítica de filme: The Day the Earth Stood Still (2008) - O Dia em que a Terra Parou (2008)

Meu irmão, que vai muito pouco ao cinema, ligou-me um dia desses para perguntar se eu havia visto O Dia em que a Terra Parou. Disse para ele que o original de 1951, dirigido por Robert Wise, eu havia visto algumas vezes mas o remake que estava no cinema não e que não queria ver. Ele nem sabia que havia um "original" mas foi categórico ao afirmar que o filme era um porcaria e que não era mesmo para eu ver.

Do que eu havia ouvido falar do filme, só uma coisa se salvava: a presença da belíssima Jennifer Connely no papel da Dra. Helen Benson, que havia sido originalmente de Patricia Neal. O resto, eu sabia que não podia ser bom. O diretor, Scott Derrickson, só havia dirigido um filme digno de nota na vida, que foi The Exorcism of Emily Rose. Um filme nada brilhante mas com um tema interessante. Keanu Reeves fora de Matrix é só Keanu Reeves, totalmente dispensável. Eu sabia também que a trama havia mudado da mesma forma que a trama do remake de The Hitcher mudou em relação ao original, ou seja, só trocaram o pano de fundo da Guerra Fria pela trama ecologicamente correta. Isso e mais os efeitos especiais de hoje em dia.

Assim, meu plano era deixar esse remake passar completamente em branco em minha vida. Até, claro, eu ter me deparado com esse filme como uma das escolhas possíveis no meu mais recente vôo. Como só costumo ver na telinha do avião filmes que não tenho nenhum plano de assistir, mesmo em DVD, escolhi a maravilhosa obra acima, já sabendo o que me esperava.

E não estava enganado. O filme é completamente descartável.

Assim como no filme original, a trama conta a estória da chegada de um alienígena - Klaatu, vivido por Keanu - e seu robô (Gort) à Terra. O objetivo é ver o status da humanidade em relação ao planeta e, se for o caso, livrar a Terra da praga dos humanos. A explicação é que a Terra é um dos poucos planetas do univero capazes de sustentar vida complexa e a federação de alienígenas que Klaatu representa não pode permitir que o planeta pereça por nossos desmandos ecológicos. 

É claro que Klaatu chega em NY (onde mais?) e é claro que os americanos o recebem da pior forma possível. Assim, resta à Dra. Helen Benson mostrar a Klaatu que os humanos podem sim mudar. 

A estória é até razoavelmente interessante mas sua execução é sofrível. Klaatu é a versão alienígena do Múcio, aquele personagem do Jô Soares altamente influenciável que concordava com tudo. Chega o espião extra-terrestre (plantado na Terra há 60 anos) para conversar com Klaatu e relata que os humanos não têm jeito. Esse diálogo de 3 minutos é suficiente para converser Klaatu que a raça humana tem que ser aniquilada. Aí, 30 minutos depois, sem nenhuma demonstração particularmente interessante, a não ser o amor de Benson por seu enteado (vivido por Jaden Smith), Klaatu muda completamente de opinião, mesmo com todo o exército norte-americano fazendo as maiores barbaridades contra ele. 

Aí, sai Klaatu para desligar Gort que, nesse momento da trama, já havia se transformado numa nuvem de nanobots gafanhotos (em uma ridiculamente óbvia alusão bíblica). Ele faz uns gestos inexplicáveis e pronto, tudo acabado. É tudo tão simples que em momento algum o filme passa aquela sensação de perigo imediato, de que algo horrível está para acontecer. Se ele passa alguma coisa é a vontade de jogar os tais gafanhotos nas casas dos produtores que estupraram o original. E olha que com um pouquinho mais de esforço eles poderiam ter feito uma refilmagem bastante interessante.

Fica aquela pergunta: se a raça de Klaatu é tão avançada, como é que ele deixou a Terra chegar ao estado que está? E mais outra pergunta: ele não poderia AJUDAR os terráqueos a melhorar, no lugar de aniquilá-los? 

E o pecado capital: a frase "Klaatu Barada Nikto" não é falada no filme!!!

Façam um favor a si próprios: aluguem o original e corram desse remake.

Nota: 3 de 10 (sendo os 3 pontos integralmente em razão da presença de Jennifer Connely que bem que tenta mas fica longe de salvar o filme)