domingo, 26 de julho de 2009

Crítica de filme: Public Enemies (Inimigos Públicos)


Vamos falar agora de um outro diretor chamado Michael: Michael Mann (bem diferente de Michael Bay). Ele dirigiu, dentre outros, Manhunter (que, com exceção de Silence of the Lambs, é o melhor filme com Hannibal Lecter já feito), Heat, The Insider, Collateral e Miami Vice. Em outras palavras, só filme de bom para excelente.

Desde Miami Vice, Mann partiu para o uso de câmeras digitais, muitas vezes "handycams" para dar um tom mais de documentário a seus filmes. Em Collateral, ele conseguiu um perfeito equilíbrio e a câmera digital ajudou muito na definição das cenas noturnas (todo o filme, na verdade). Duvidei muito da utilização dessa tecnologia de ponta em um filme de época como Public Enemies mas Mann é o cara e o filme é mais um bom exemplo de como se filmar.

John Dillinger (o sempre excelente Johnny Depp) é o Inimigo Público no. 1 dos Estados Unidos nos anos 30. O nascente FBI tenta capturá-lo mas, quando consegue, ele foge. Dillinger é um ladrão de bancos comum, adorado pela população pois é visto como uma espécie de Robin Hood. Do outro lado, temos o agente especial Melvin Purvis (Christian Bale, também excelente) empossado pessoalmente pelo sensacionalista diretor do FBI, J. Edgar Hoover (Billy Crudup, que aparece poucos minutos mas brilha). Purvis é um agente à moda antiga, quase um cowboy, que se vê envolvido em um caçada humana tendo todo o FBI por trás para ajudá-lo.

Dillinger, enquanto isso, vive a vida numa boa, desfrutando do bom e do melhor e apaixonando-se por Billie Frechette (Marion Cotillard, sem sotaque), uma humilde trabalhadora. Dillinger é, talvez, o último dos ladrões sofisticados, o representante de uma espécie em extinção. Em seu lugar, máfias de jogos e de crimes altamente sofisticados, começam a aparecer. Assim como Purvis, Dillinger representa o passado, o charme de algo que está desaparecendo. Em uma cena isso fica muito claro: Dillinger tenta descobrir porque não mais recebe ajuda de outros bandidos e dá de cara com o chefão da máfia de jogos local, que está na sala onde as apostas são recebidas ao telefone. Ele claramente diz a Dillinger que ele faz em um dia, apenas com telefonemas, aquilo que Dillinger fatura a cada roubo de banco. Em outra cena, o mesmo mafioso fica preocupado quando percebe que o governo, por causa de Dillinger, está tentando fazer passar lei que determina que é crime federal qualquer crime que ultrapasse a barreira de um estado americano. Os ladrões modernos não querem mais chamar a atenção da mídia como Dillinger. Para eles, Dillinger é um problema e deve ser eliminado.

O mundo vai se sofisticando e Purvis tem que se adaptar. No entanto, mesmo assim, ele acaba em diversos tiroteios, bem no estilho velho oeste, com Dillinger e sua gangue. O ataque à estalagem onde Dillinger está hospedado após ser ferido em uma tentativa de roubo é uma típica cena que veríamos em filmes de Sam Peckinpah, mas tudo no estilo digital e tremido de Mann. Não se preocupem, porém, aqueles que acham que Mann se vale o tempo todo de câmera na mão. Ele só o faz em situações de extrema ação, para dar um efeito de "correspondente de guerra" ao filme. O resultado é muito interessante e a câmera digital permite que o diretor faça uso de pouca luz, criando excelentes contrastes e contra-luzes.

Uma outra cena que vale destaque é a fuga de Dillinger de uma prisão em Indiana. Armado apenas com um revólver de brinquedo, Dillinger dá um show e sai mansamente dirigindo o carro do xerife local e isso tudo é verdade, exatamente como ocorreu. Mann, claro, não perde a oportunidade para inserir suas próprias idéias sobre Dillinger e o quanto ele se acha invencível. Nenhuma outra cena demonstra isso mais do que o momento em que Dillinger, sem disfarces, simplesmente entra no andar do esquadrão designado para capturá-lo, chegando a perguntar o placar de um jogo do baseball aos agentes que se amontoam em cima de um rádio. Isso certamente não aconteceu na vida real mas Mann, com sua câmera natural, nos faz acreditar naquilo ou, ao menos, torcer para que tenha sido verdade.

Não há glorificação do gângster no filme mas também Mann não deixa uma mensagem muito positiva do FBI. Vê-se um órgão dirigido ditatorialmente por Hoover, com agentes que a qualquer sinal de problema partem para medidas extremas e covardes. Purvis, o "herói", é visto quase que como um Dillinger do lado da lei, ou seja, nada para se orgulhar.

Mann, no entanto, certamente tem muitas razões para se orgulhar de seu filme.

Nota: 8,5 de 10

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