quinta-feira, 30 de julho de 2009

Crítica de show: U2 - 360º Tour no Stade France em Paris


Já tinha acertado toda minha viagem para o leste europeu quando o U2 anunciou sua turnê 360º. Só de curiosidade vi as datas dos shows e tinha um em Paris exatamente no dia que estaria voltando para o Brasil, exatamente via Paris. Não sou um grande amante do grupo irlândes mas era coincidência demais para eu simplesmente ignorar. Alterei minha volta para pernoitar na Cidade Luz e tratei de comprar um ingresso para o show, no dia 11 de julho desse ano. Faço logo de cara uma ressalva: as fotos e o vídeo foram tirados com celular e estão bem fraquinhos mas dá para o gasto.

A organização

Primeiro vale falar da organização. Lembram do fiasco organizacional do show do U2 no Rio de Janeiro lá pelos idos de 1998? Lembram da complicação que é pegar um transporte de volta de shows no Marcanã (o da Madonna foi um inferno nesse quesito). Lembram da desgraça que foi sair do show do Iron Maiden lá no autódromo de Interlagos?

Pois é, nada parecido com minha experiência no Stade France, em Paris. Cheguei no hotel, vindo do aeroporto, faltando 1h30 para o show. Fiz o check-in, troquei de roupa e arrumei troco para comprar os tíquetes do metrô. Peguei o metrô para literalmente atravessar a cidade. Eram umas 20 estações de onde estava e isso depois de uma baldeação.

Cheguei na estação final correta faltando 40 minutos para o show. Andei calmamente até o estádio, comprei um cachorro-quente e um chá gelado no quiosque imediatamente atrás do portão que entraria. Comi calmamente minha "refeição" do lado de fora e entrei pelas catracas. Nada de fila. Virei para o lado e vi a loja oficial do U2 vendendo camisetas e entrei na fila (a única que vi). Estava complicado comprar e faltavam 15 minutos para o show começar. Insisti um pouco, dizendo para a moça que pagaria em dinheiro e consegui dar uma "furada" na fila pois todo mundo queria passar cartão.

Botei os pés na minha cadeira (todas numeradas no assento, com fila e número da cadeira) faltando 5 minutos de show e, na hora EXATA, ele começou. O estádio estava entupido mas não peguei nem uma nesguinha de fila momento algum, com exceção da hora da compra da camiseta.

Achei que a volta seria um inferno. Duas horas depois, porém, estava andando calmamente - junto com a multidão, também calma - em direção ao metrô. Entrei em 10 minutos no trem e fiquei apertado por umas 10 estações. Depois, tudo normal, como se nada tivesse acontecido. Impressionante.

Nós, definitivamente, temos que evoluir muito para chegarmos nesse patamar.

O U2

Sou parcial. Já vi dois shows do U2 antes, acho que tenho todos os CDs mas, de uns anos para cá, cansei dos caras. Muita repetição, apesar de, a cada disco, o Bono dizer que vai "revolucionar" a música. Sinto muito pois, o disco atual - No Line in the Horizon - é mais do mesmo. Não que o U2 seja ruim, só não é tudo isso que falam.

De toda forma, fizeram um show correto, com uma boa mistura de músicas do disco novo e de clássicos. A formação sólida e inabalável do grupo ao longo de seus 34 anos de existência fica clara no show. Eles são muito bem sincronizados, quase como se um conseguisse ler o pensamento do outro. Bono ainda canta muito bem, The Edge tem controle absoluto de sua guitarra, apesar de não ser nenhum virtuose. Por fim, Adam Clayton e Larry Mullen também não decepcionam.

Quando tocam os clássicos como The Unforgettable Fire, Sunday Bloody Sunday e Where the Streets Have No Name, o grupo é imbatível. As músicas do disco novo, que abrem o show e, depois, são polvilhadas aqui e ali, são razoáveis e não detraíram da experiência.

Bono, no topo de seu trono Pop, foi humilde o suficiente para homenagear o verdadeiro Rei do Pop, cantando um medley de trechos de Don't Stop 'Til You Get Enough e Billie Jean. Nenhuma palavra foi dita mas a mensagem foi passada. O público adorou.

Mas aí começaram as chatices típicas do U2, que só foram mesmo equilibradas pelo quinto componente do grupo - o Palco - que comentarei mais abaixo.

Essas chatices basicamente são os momentos politicamente corretos, começando pela tentativa de mostrar que a música é universal e blá, blá, blá, com um vídeo gravado na Estação Espacial Internacional. Se fosse algo ao vivo, eu teria achado medianamente bacana. Mas Bono avisou que era um vídeo gravado "mais cedo", quando os astronautas estavam acordados. Foi uma espécie de "perguntas e respostas". Todos os astronautas falaram que gostavam muito do U2 (dã...) e um dos integrantes do grupo fez a pergunta mais cretina de todas: "A música soa diferente aí no espaço?". Deu vontade de ir embora de tão constrangedor que foi...

Depois desse momento gélido, algumas músicas se seguiram e o Bono passou, então, a fazer sua pregação social do ano: libertem uma fulana lá de Burma que está há 19 anos presa em casa pois ganhou a eleição presidencial (ou algo do gênero) e o governo de lá se recusa a deixá-la tomar posse. Ok, causa nobre sem dúvida. Mas precisa ser chato com isso, com imagens no telão, música para a mulher e uma galera entrando com máscaras do rosto da prisioneira? Sei que o Bono quer passar essa imagem de bom moço mas, às custas de meus Euros, preferiria que ele tocasse mais músicas e passasse sua mensagem rapidamente, sem perder 20 minutos...

Em outra hora, Bono, todo feliz, projeta no telão uma mensagem de otimismo do Reverendo Desmond Tutu. Mais momentos chatos...

Sei que, para fãs do grupo, provavelmente eu estou sendo injusto e eu entendo a reclamação. Acho que diria o mesmo se falassem mal do show do Iron Maiden. Mas é que, como disse, já me enchi um pouco do U2 mas reconheço que é um super-grupo que sabe fazer um excelente show.

Segue o set list do show que assisti, para quem se interessar:

07/11/2009 Stade de France - Paris, France
Breathe, No Line On The Horizon, Get On Your Boots, Magnificent, Beautiful Day / Blackbird (snippet), I Still Haven't Found What I'm Looking For / Movin' On Up (snippet), Desire / Billie Jean (snippet) / Don't Stop 'Til You Get Enough (snippet), In A Little While, Unknown Caller, The Unforgettable Fire, City Of Blinding Lights, Vertigo, Let's Dance(snippet) / , I'll Go Crazy If I Don't Go Crazy Tonight, Sunday Bloody Sunday, Pride (In The Name Of Love), MLK, Walk On / You'll Never Walk Alone (snippet), Where The Streets Have No Name / All You Need Is Love (snippet), One
encores: Ultra Violet (Light My Way), With Or Without You / Rain (snippet), Moment of Surrender

O palco

Agora é que vem o diferencial. Não é à toa que essa turnê se chama U2 360º Tour.

E por que 360º? Ora, a foto lá do começo explica tudo. O palco é uma estrutura redonda, sem frente, de forma que todo o estádio tenha a mesma visão do show. Além disso, as enormes "patas" do palco seguram uma estrutura de caixas de som, luzes e um telão sensacional.

Vejam uma foto mais de perto.

Reparem que as caixas de som são aquelas faixas prateadas que saem das extremidades esquerda e direita da parte de cima do palco. O telão é aquela parte preta "flutuando" bem acima do palco. Para se ter uma idéia melhor, vejam o telão ligado:

Ele projeta imagens em 360º, mas que se repetem para todos os espectadores poderem ver a mesma imagem completa e não o pedaço de uma só imagem. Vale apenas lembrar que, diferentemente do que um amigo fã do U2 me disse, não foi o U2 que teve essa idéia genial. Palcos assim são usados em shows de música há muito tempo. Eu mesmo vi dois show com palcos redondos: o do Prince no Staples Center em Los Angeles e o do Metallica em Long Beach. Claro que não eram palcos com a psicodelia desse do U2 mas o conceito era o mesmo, ou seja, permitir que todo mundo ao redor assistisse ao show sem barreiras.

Mas isso certamente não tira o mérito do U2. Quem quer que tenha projetado esse palco é um gênio. É o mais bonito que já vi, mais bacana até do que o já sensacional palco da Madonna, em sua última turnê. Reparem que, ao redor do palco principal, há, ainda, um anel em que os componentes do grupo podem andar, ficando bem próximos dos espectadores. Para chegar ao anel, eles fazem uso de duas pontes móveis, que andam ao redor do palco.

Reparem que o telão é o que mais me surpreendeu. Eu já tinha ficado muito bem impressionado com a qualidade do telão mas não sabia que ele se expandia em gomos, quase tocando o chão, e sem perder a capacidade de projetar imagens de videoclips ou mesmo imagens do show em si. É até difícil de explicar e, por isso, vale ver a foto abaixo, que ilustra o que estou tentando descrever.
Outro lance bem bolado foi que, no telão, tudo que o Bono dizia (não "cantava") em inglês aparecia vertido ao francês em legendas. Isso eu nunca tinha visto antes!

Foi por isso que disse que o Palco (com P maiúsculo mesmo) era o quinto componente do grupo. Ele realmente funciona como uma atração à parte e merece todos os elogios. Musicalmente, porém, fiquei pensando que um grupo que precisa disso tudo para fazer um show de pop/rock não deve confiar muito nas músicas que tem... Mas é só um pensamento. Sei que serei xingado, mas não resisti...

Fiquem com um breve vídeo da engenhoca funcionando:



Nota: 7 de 10

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