sábado, 26 de setembro de 2009

Crítica de filme: 12 Jurados e Uma Sentença (12 Razgnevannyh Muzhchin)

Com o Festival do Rio em andamento, não resisti e comprei alguns ingressos, apesar do pouco tempo que terei para dedicar aos filmes. Minha segunda escolha foi 12 Jurados e Uma Sentença, filme russo de 2007, dirigido por Nikita Mikhalkov, pois ele é uma refilmagem do brilhante 12 Angry Men (12 Homens e Uma Sentença) que comentei aqui e concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2008 (a 80ª Cerimônia).

No filme original, 12 jurados se sentam em uma sala para decidir se condenam ou não um jovem checheno pelo assassinato de seu pai adotivo, um militar russo. O caso é evidente: o garoto é culpado. A decisão deve ser unânime e, com toda a certeza do mundo, os jurados partem para a primeira votação mas um dele vota pela inocência. Começa, então, todo um delicado trabalho do dissidente para ao menos mostrar que nem tudo é o que parece.

O filme é fortemente calcado no original americano mas há um claro sabor russo e o diretor, que também é um dos roteiristas, usa o filme como uma ode contra a intolerância, racismo, guerra e a estupidez em geral. Não fica de fora, também, comentários sobre a ineficiência do antigo sistema comunista. Diferentemente do original, há uso de flashbacks mas nunca para mostrar como teria sido o assassinato, mas sim para mostrar a vida do garoto quando tinha 5 ou 6 anos, na Chechênia em plena guerra com a Rússia.

O filme, que é bem longo (159 minutos) é um palco para atuações brilhantes dos 12 atores. Cada um foi chamado por suas atuações passadas em filmes russos e cada um emprestou sua personalidade aos papéis. O diretor, muito inteligente, usa o tempo que tem para vagarosamente contar a estória da vida dos jurados e como elas afetam suas decisões e impulsionam a estória. Cada monólogo é de cortar o coração. Também muito inteligentemente, o diretor diminui a importância do jurado dissidente. No original, esse papel ficou com Henry Fonda e ele, em brilhante atuação, torna-se um verdadeiro detetive, apesar de confinado em pequena sala. No filme russo, o jurado dissidente é o gatilho que inicia a discussão, como se fosse a primeira peça de dominó que começa a derrubar as demais em uma reação em cadeia. No entanto, seu papel fica mais ou menos por aí. Os demais jurados, todos com personalidades diferentes, vão chegando às suas próprias conclusões.

Em um pano de fundo, vemos a crueldade da guerra, em tristes, mas belos flashbacks da vida do garoto checheno em sua terra natal. A cena da "dança da faca" com o garoto, reprisada mais tarde em dois momentos: uma na cela da prisão e outra na sala dos jurados (um ginásio de uma escola, na verdade) é lindíssima.

Mais para o final, o diretor resolve introduzir aspectos bem diferentes ao filme. Um deles é que a investigação dos jurados chega a ser quase que totalmente conclusiva sobre o assassino. Sidney Lumet, o diretor do original, não dá qualquer importância a esse aspecto, ficando, apenas, no conceito de "beyond reasonable doubt". Outro aspecto é a votação final dissidente que, na verdade, empresta um aspecto muito realista ao filme mas que, infelizmente, ao final, é estragada por um evento que é exageradamente "bondoso" e "feliz".

De toda forma, esse finalzinho não estraga o filme de maneira alguma. Cada minuto dos 159 valem a pena, ainda que cada minuto dos 96 do original americano valham ainda mais a pena.

Nota: 9 de 10

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