domingo, 27 de setembro de 2009

Crítica de filme: District 9 (Distrito 9)

Neil Blomkamp era o nome mais cotado para ser o diretor de Halo, a versão cinematográfica do videogame blockbuster da Microsoft. O projeto acabou se tornando caro e complicado e Neil Blomkamp não tinha nenhuma (quase nenhuma, na verdade) experiência como diretor. Jogar no colo dele um pepino do tamanho de Halo não seria justo. Outro nome que estava e ainda está por trás de Halo é o de Peter Jackson, esse sim um diretor que qualquer estúdio gostaria de ter dirigindo seus filmes. No entanto, Peter Jackson meio que "adotou" Neil Blomkamp e District 9 foi o que saiu dessa adoção. E fiquei muito feliz em descobrir que esse filme seria um dos 300+ do Festival do Rio.

O filme é uma ficção científica muito inteligente, feito com meros 30 milhões de dólares (num mundo em que G.I. Joe custa 175 milhões e Transformers 2 custa 200 milhões, com Avatar na casa dos 300 milhões, 30 é troco). Por esse valor, eu esperava um filme com poucos efeitos especiais mas me deparei com algo que usa pesadamente efeitos e todos parecem estar integrados ao filme, diferentemente, por exemplo, dos efeitos constrangedores das roupas "aceleradoras" de G.I. Joe.

A premissa por si só é ótima. Uma enorme nave extraterrestre apareceu na Terra há 20 anos e ficou flutuando em cima não de cidade óbvias como Nova Iorque, Washington ou Paris, mas sim de Johannesburgo na África do Sul. Três meses se passam e nada acontece. Os humanos, então, decidem entrar na nave para ver o que está acontecendo e encontram milhares de ETs muito feios e famintos, logo apelidados de "camarões". Todos os camarões são, então, realocados para acampamentos provisórios que, com o passar do tempo, se tornam favelas onde tudo acontece: venda de armas, prostituição, furtos e assassinatos.

O filme mistura um tom de documentário no começo. O diretor usa cenas da chegada dos extraterrestres em estilo montagem da CNN e vai contando os eventos que desaguam no começo efetivo do filme: o despejo dos camarões do Distrito 9 para o Distrito 10, 200 quilômetros mais distante da cidade. Chefiando essa enorme operação está Wikus Van De Merwe, um burocrata completamente iditota da empresa Multi-National United (MNU), que cuida da relação entre os camarões e os humanos. Obviamente, a operação dá muito errado e Wikus acaba se envolvendo, digamos, de forma bem próxima, com os camarões.

Sem estragar a estória para quem não assistiu, Blomkamp conseguiu reunir vários elementos batidos de filmes de ficção científica em uma trama coesa, original e muito fácil de se assistir. Esses elementos são, dentre outros, (1) a empresa "humanitária" que não é tão humanitária assim; (2) armas que só funcionam com o DNA dos seres que a fizeram; (3) manipulação genética e cobaias vivas; (4) exposição de personagens à biotecnologia alienígena; (5) transformações nojentas; (6) armas bacanas; (7) um design de alienígenas no nível de Alien; (8) o soldado bandido durão e (9) mais armas bacanas.

District 9 é um alívio ao meio de um "verão americano" de filmes fraquíssimos, especialmente os de ficção. Tem tudo para agradar os fãs de ficção científica em níveis que há muito não se via. Mas o filme também agrada por outro lado: sua denúncia social. No meio de todo aquele aparato tecnológico e efeitos especiais, há uma forte estória de intolerância, genocídio e ganância que resume muito bem o que vem acontecendo no mundo nas últimas várias décadas.

Independente da mensagem mais profunda, District 9 agrada, também, àqueles que só querem saber de pancadaria. Não falta sangue e vômito nesse filme, além de sensacionais cenas de pura tensão. A briga final do exoesqueleto estilo Aliens com os soldados da MNU é uma dos melhores usos de efeitos especiais que já vi. Quero ver é James Cameron desbancar esses efeitos com seu absurdamente caro Avatar...

Mas District 9 não é um filme sem defeitos. O primeiro deles envolve as coincidências sobre o "líquido preto" criado por um dos ETs. Não vou falar demais para não estragar mas basta dizer que o ET levou 20 anos para conseguir juntar o suficiente do líquido e justamente no DIA que a MNU entra no Distrito 9 para fazer a mudança dos camarões é o dia em que o ET acaba de juntar líquido suficiente. O outro ponto que me incomodou é que District 9 é, todo ele, uma preparação para District 10. Não é que fique uma pontinha para uma continuação. Não. Blomkamp devia saber que tinha ouro em suas mãos pois passou o filme inteiro deixando claro que  a estória só fica completa com pelo menos mais um filme. Não é exatamente algo ruim mas espero que o diretor (que também é o roteirista) esteja no barco da próxima vez também e que ele tenha a liberdade para fazer algo ousado como District 9 e não pasteurizado como Transformers 2.

Nota: 9 de 10

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