sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Crítica de filme: X-Men Origins: Wolverine

Wolverine é um personagem de quadrinhos da Marvel, mutante, canadense, baixinho, com alto grau de irritabilidade, um fator de cura que o permite aguentar os mais absurdos ferimentos e retarda seu envelhecimento (o cara nasceu no século XIX e parece ter ainda uns 30 e muitos ou 40 e poucos, dependendo de quem o desenha). Tem, ainda, um esqueleto indestrutível de adamantium, um metal fictício e, como marca registrada, além do corte de cabelo, digamos, incomum, é o orgulhoso detentor de garras de metal que saem de suas mãos e dilaceram inimigos.

Wolverine é uma máquina de matar e uma das propriedades mais valiosas da Marvel, sendo protagonistas de diversas revistas da editora e “astro convidado” em tantas outras. Tamanho é seu sucesso que os três filmes dos X-Men (grupo de super-heróis mutantes da Marvel) mais parecem filmes que poderiam ter como título “Wolverine e Aqueles Outros Mutantes que Aparecem Vez ou Outra”. No desenho animado mais recente, os produtores não se deram como rogados e mandaram mesmo o título Wolverine and the X-Men, em clara demonstração do valor da criação de Len Wein e John Romita Jr. na década de 70 (ele apareceu pela primeira vez como coadjuvante em um número da revista do Hulk em 1974).

Ah, já ia me esquecendo. Outra característica marcante do personagem é que ele não se lembra do passado, apenas que se chama Logan. Esse mistério em volta do personagem perdurou por décadas, com pequenas revelações aqui e ali. Somente muito recentemente, a partir de uma ótima minissérie em quadrinhos chamada Origin, cada detalhe do passado de Wolverine foi sendo revelado pela Marvel em uma coleção que não li nem quero ler pois acho que desmistifica o personagem, além de eu ter lido resenhas arrasadoras das estórias.

Por quê estou escrevendo isso tudo?, vocês perguntarão. Simplesmente por que, quando soube que os filmes dos X-Men ganhariam um spin-off sobre a origem de Wolverine, dois pensamentos me passaram pela cabeça. O primeiro foi que era óbvio que, com o sucesso dos filmes do grupo mutante, era natural um spin-off dessa natureza. O segundo foi: que péssima idéia!

O filme estreou e fez mediano sucesso depois de algumas refilmagens e a famosa polêmica do vazamento de uma cópia ainda sem efeitos totalmente finalizados na internet. Eu disse para mim mesmo que esperaria o DVD pois tinha certeza que o filme seria ruim tanto sob o ponto de vista de alguém que gosta de quadrinhos como eu como por uma pessoa que apenas gosta de cinema.

Assim, estava em minha locadora quando me deparei com o Blu-Ray nacional de Wolverine à disposição. Era tentação demais e acabei alugando.

O filme começa na linha de Origin, mostrando Wolverine quando criança, no momento em que descobre que tem garras de osso saindo das mãos. Esse rápido intróito é seguido de uma abertura (com os créditos) mostrando Wolverine (Hugh Jackman) e seu meio-irmão Victor Creed, o Dentes de Sabre (o sempre ótimo Liev Schreiber) lutando juntos na Guerra Civil americana, na 1ª Guerra Mundial, na 2ª Guerra, na Guerra da Coréia e na Guerra do Vietnã. Acabada essa abertura, já vemos Logan e Victor como agentes especiais em um grupo de mutantes assassinos comandados por Stryker (Danny Huston).

Posso dizer que a melhor parte do filme é a abertura e isso é obviamente, um péssimo sinal. No lugar de explorar o desenvolvimento do personagem e sua relação com o irmão, os roteiristas partiram logo para colocar Logan contra seu grupo de mutantes e para dentro do programa Arma X, onde ganha a cobertura de adamantium sobre seus ossos.

Depois que ele consegue as garras de metal é que o filme realmente vai ladeira abaixo. Nada mais faz sentido e os furos no roteiro são abissais, risíveis e patéticos.

Mas os problemas não param por aí. Os efeitos especiais são absolutamente mal feitos, dando a entender que estamos efetivamente assistindo a um filme inacabado, sem os retoques finais. Em determinada cena, em que Logan está com a família “Kent” em um rancho (só vendo para entender o quão ridícula é essa cena), ele corta a pia do banheiro com as recém adquiridas garras de metal. Depois, olha para elas que nem um idiota. As garras parecem de papelão pintado (sim, é nesse nível). Se acham que estou exagerando, vejam o filme procurando pelos problemas e vocês verão que eles estão lá.

E eu realmente não entendo a necessidade de se colocar na estória dezenas de mutantes diferentes. Wolverine já tem estória suficiente para segurar sozinho um filme nas costas. Para que colocar Agent Zero, Deadpool (ou uma versão de Deadpool), Wraith, Blob, Gambit, White Queen, Silverfox e outros no meio? Tem até Cyclops e Professor X!!! Fica tudo muito forçado e imbecil. É só pelo fator geek de ver mutantes na tela do cinema mesmo.

Por exemplo, a entrada de Gambit na estória é uma das coisas mais desnecessárias do mundo, em clara “forçação de barra” para mostrar esse herói que é querido da galera (eu, particularmente, nunca vi nada demais nele). Seria muito melhor se Wolverine tivesse que lidar com o “mundo real” e perseguições por soldados do exército e não por seres super poderosos.

Apenas para ilustrar o tamanho das besteiras feitas nesse filme, listarei, abaixo, apenas um punhado das incongruências absurdas que achei no filme, sendo que nenhuma delas parte de uma comparação do personagem nos quadrinhos e no cinema pois uma coisa é uma coisa é outra coisa é outra coisa, se é que vocês me entendem. Para isso, porém, terei que revelar vários pontos importantes da trama pelo que sugiro que, quem não viu o filme – e ainda quer ver – pule essa parte.

Novamente, há SPOILERS abaixo. Leiam apenas se já viram o filme ou se não se importam em saber detalhes do que acontece.

Vamos lá:

- Logan é por vezes chamado de Logan e outras de Jimmy (apelido de James, seu nome verdadeiro) sem que haja qualquer explicação para o uso de Logan no filme. Só quem leu Origin sabe que Logan é nome do personagem que o jovem Wolverine mata no começo do fime;

- Silverfox finge estar morta e Victor joga sangue por cima dela para parecer que é dela. Wolverine chega e acredita que ela morreu apesar de ter olfato ultra sensível e poder muito bem dintinguir uma coisa da outra. E nem me venha dizer que o poder de sugestão de Silverfox é a explicação para isso pois ela está drogada, quase efetivamente morta nessa cena;

- Stryker cria uma elaboradíssima trama, que demora uns 6 anos para ficar pronta, apenas para colocar adamantium nos ossos de Wolverine e ver se ele agüenta a fusão. Não faz o menor sentido em querer apenas esse resultado. Por que não apagar logo a mente de Wolverine (sem dizer que vai apagar que nem o idiota faz) e usar Wolverine e não Wade (o coitado do Deadpool) como cobaia para o Weapon XI???

- Em luta, Victor quebra as garras de osso de uma mão de Wolverine. Logo em seguida, no Projeto Weapon X, Logan recebe o banho de adamantium que reveste – vejam bem, REVESTE – seus ossos e ele aparece com as garras inteirinhas;

- Depois de transformá-lo em um ser basicamente indestrutível, o idiota do Stryker manda Agent Zero matar Wolverine com um rifle de sniper e balas comuns!!! Como assim? O cara não acabou de ter os ossos revestidos de adamantium???

- Weapon XI, a super arma secreta de Stryker, que ele leva muitos anos para completar, é o inimigo mais fácil do mundo de derrotar;

- Na fuga dos mutantes, Cyclops começa a receber mensagens telepáticas do Professor X. Ora, se o Professor X sabia que eles estavam presos, por que não foi lá antes resgatá-los. Por quê esperou até o limite para fazer isso?

- Nessa mesma fuga, se o Professor X pode comandar a vontade de milhares de pessoas, como vimos nos filmes dos X-Men, por que ele simplesmente não manda Stryker soltar os mutantes? A presença do Professor X, para criar o “fator cool”, estraga qualquer tentativa de “realidade” que se pode esperar de um fime desses. Magneto, em X-Men, tem que usar um capacete para evitar que o Professor X o controle mentalmente. Mas Stryker não precisa de nada, claro;

- Que jaulas são aquelas que prendem os jovens mutantes? São de ferro comum, para prender passarinhos? Sério, algum mutante ali tem que ter o poder básico de destruir a grade. Ora, mesmo sem poder algum dava para fazer isso...;

- Gambit odeia Stryker. Ao ver Wolverine e Victor - que ele acha que são agentes de Stryker - caindo no pau, no lugar de deixar um matar o outro, ele interfere. Para que? Para mostrar seus poderes bacanas?

- Ainda sobre Gambit, ele parece ser o fugitivo mais fácil do mundo de achar: em pleno cassino de Las Vegas!

- Stryker tem mais uma brilhante idéia: usar um revólver com balas de adamantium não para matar Wolverine mas sim para apagar sua memória. Com assim??? Quer dizer então que é só dar um tiro na cabeça de alguém para automaticamente essa pessoa perder a memória? Bem científico isso...

- Ainda sobre balas de adamantium, por que raios Stryker não dá um rifle equipado com elas para o Agent Zero liquidar Logan já que, aparentemente, o poder mutante de Agent Zero é sempre acertar no alvo?

- Se Silverfox consegue hipnotizar através do tato, porque ela não hipnotizou Logan para ele aceitar o adamantium, evitando a trama complicada montada por Stryker?

- Melhor que isso, se Silverfox faz o que faz porque Stryker tem sua irmã presa, era só ela hipnotizar Stryker para soltar as duas, não é mesmo?

- Stryker, quando Wolverine acaba de ter seus ossos revestidos, sussurra ordem para que apaguem a memória do mutante. Ora, por quê esperar torná-lo indestrutível para fazer isso? Não era mais lógico começar exatamente por essa etapa?

E por aí vai o show de horrores. São tantos furos absurdos que é impossível levar esse filme a sério, mesmo considerando que filmes de super heróis, em geral, não são para ser levados tão assim a sério. No entanto, estou confiante em dizer que esse é o pior filme do gênero, pior que os odiados Elektra e Daredevil e pior até mesmo que qualquer uma das três versões de Punihser. Wolverine é um personagem tão bom que qualquer um escreveria um roteiro razoável para um filme sobre ele. Todos menos, aparentemente, os roteiristas David Benioff e Skip Woods, autores dessa coisa amorfa que infelizmente assisti.

Esse verão norte-americano eu vou te contar... Devo ter perdido uns 15 pontos do meu Q.I. entre Transformers 2, G.I. Joe e Wolverine...

Ah, já ia me esquecendo. O Blu-Ray brasileiro do filme é triste. Não pela imagem mas pela falta de tudo, inclusive de menu. Não dá nem para ver o filme em inglês sem legendas ou em inglês com legendas em inglês. Somos forçados a escolher dentre as rígidas opções da tela inicial que é uma tela vagabunda dublê de menu. E o pior de tudo é que o som não é sem compressão, de forma a permitir o melhor uso do Blu-Ray. Deve ser por que acham que os brasileiros não fazem nem idéia do que é som sem compressão. Espero - ainda que essa não seja uma justificativa aceitável - que esse seja o Blu-Ray específico para locação.

Nota: 1 de 10

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