segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Crítica de filme: Paranormal Activity (Atividade Paranormal)

Dizem que Paranormal Activity foi feito pela bagatela de 15 mil dólares. E é bem possível pois ele só tem dois atores, quase nenhum efeito especial e basicamente se utiliza de câmera na mão. No entanto, até agora, conseguiu fazer 103 milhões de dólares só nos Estados Unidos. Talvez entre para a história do cinema como o filme mais lucrativo.

E será que ele merece esse sucesso todo ou foi só uma campanha de marketing bem feita?

A resposta é: os dois. O marketing de Paranormal Activity, feito pela Paramount foi para lá de inteligente. O trailer é uma montagem não do filme mas da reação verdadeira de platéias vendo o filme em cinemas. Brilhante a idéia pois ao mesmo tempo que não conta nada, mostra que o filme assusta, diferentemente dos filmes de terror e suspense que vemos por aí hoje em dia. Em segundo lugar, a Paramount fez lançamento bem limitado do filme, pedindo que os fãs de cinema enviasse e-mails para a produtora pedindo para que o filme estreasse em sua cidade. Isso criou um hype incrível que eu testemunhei quando estive em Nova Iorque no fim de semana de lançamento do filme. Foi impossível comprar ingressos!

O filme em si é bem simples e objetivo. Um casal se muda para uma casa aparentemente assombrada. Eles compram uma câmera e resolvem filmar os acontecimentos. O filme é um crescendo em que o diretor Oren Peli vai mostrando sua habilidade em construir o terror sem se utilizar de sustos baratos. O grande tchan do filme é a tensão que uma câmera parada com visão noturna consegue criar. A cada noite a situação piora até seu climax, nos últimos segundos do filme. É tudo feito em estilo mockumentary, parecendo que as imagens são verdadeiras e foram achadas depois dos acontecimentos do filme, muito na linha de Blair Witch Project e [Rec]. Como o que vai acontecendo no filme é sutil, a sensação de horror é bem maior do que nesses outros dois filmes e vale a pena assisti-lo no cinema para ficar cercado dos barulhos de medo das pessoas ao redor. É uma experiência incrível.

Paranormal Activity é mais um exemplo de filme que vem para mostrar que não se precisa gastar muito para se fazer bom cinema. Basta uma boa idéia e um tino de direção. O filme, claro, não é sem defeitos e o maior dele é a duração. Apesar de não ser muito longo em termos absolutos, apenas 86 minutos, ele parece que demora mais. O diretor realmente vai incrementando o terror de pouquinho em pouquinho mas poderia ter feito isso um tanto mais rápido, evitando repetições. Outro ponto que irrita um pouco é a insistência do casal em ficar na casa, apesar de tudo o que eles vêem na câmera no dia seguinte a cada noite que dormem lá.

O filme é altamente recomendado mas os fracos de coração devem evitá-lo. O filme é composto de sustos ma não sustos baratos com aquela trilha sonora bem forte e um monstro correndo atrás. É um terror psicológico realista que dá nos nervos.

Nota: 8,5 de 10

domingo, 15 de novembro de 2009

Crítica de quadrinhos: Wolverine: Old Man Logan (Wolverine: O Velho Logan)


A Marvel, influenciada por dois nomes quentes do momento, Mark Millar e Steve McNiven, resolveu, de uma hora para outra, parar a cronologia normal da revista Wolverine, no Estados Unidos, e começar uma estória que se passa no futuro do Universo Marvel, focada em Logan. Tudo começo no número 66 da revista, em junho de 2008 e foi seguindo até o número 72. Os números 73 e 74 voltam para a cronologia normal e, do 75 em diante, Wolverine deixa a revista (!!!) para dar lugar a seu filho sinistro, Daken, em Dark Wolverine.

Acontece que a série Old Man Logan só foi mesmo acabar em setembro de 2009, quando foi lançada a Gian-Size Wolverine Old Man Logan. E por que eu estou falando dessa estória.

Ora, ela foi "vendida" como sendo o The Dark Knight Returns (O Cavaleiro das Trevas) de Wolverine, o personagem Marvel mais cool e do momento. Além disso, figura Mark Millar, o roteirista mais quente da Marvel, que inventou o Universo Ultimate e escreveu Marvel 1985 e Kick-Ass (que será lançado no cinema em breve), além de ter revolucionado o Universo Marvel com a saga Guerra Civil (junto com Steve McNiven, aliás). O cara vale ouro para a Marvel e se ele quisesse escrever uma estória revelando que Logan, na verdade, é homossexual, acho que a Marvel teria deixado.

Agora fica a pergunta: Old Man Logan é mesmo comparável a The Dark Knight Returns?

A resposta eu já digo e é um retumbante NÃO. Qualquer comparação fica limitada ao ambiente das duas publicações. Ambas se passam em um futuro em que os heróis não mais existem e o personagem título pendurou as chuteiras. O mundo é dos vilões. Mas as semelhanças realmente acabam por aí. The Dark Knight Returns é um irretocável trabalho de Frank Miller, tocando em assuntos como o papel do herói e a fronteira entre o bem e o mal, além de conter fortes críticas sociais. Old Man Logan é um banho de sangue. Divertido? Sem dúvida! Mas não esperem algo nem próximo da obra máxima de Frank Miller.

A estória abre com um Logan envelhecido, 50 anos no futuro. Ele está casado e com dois filhos, morando em uma fazenda no deserto da California. Ele tem que pagar aluguel para a família Hulk que comanda a região como um bando de caipiras violentos. Há muito tempo Logan tornou-se um homem de paz e não utiliza mais suas garras. Falta dinheiro para o aluguel mas, por sorte, Clint Barton, o Hawkeye dos Vingadores (Gavião Arqueiro, no Brasil), cego mas ainda excelente arqueiro, passa por lá para recrutar Logan para uma viagem através dos Estados Unidos para entregar uma preciosa carga em New Amsterdam (algo como Washington D.C.). Logan aceita pois o dinheiro é bom mas vai logo avisando que não vai usar de violência. Clint diz que está bem e os dois partem para a aventura.

É mais do que óbvio que só teremos violência daí em diante. Logan tentará evitar mas não consegue completamente ser pacato. Há banhos de sangue, especialmente no último episódio, quando Logan chega de volta na Califórnia. A estória é simples e vai nos mostrando esse futuro sem heróis imaginado por Millar. O Caveira Vermelha é o presidente e o país foi dividido entre os vilões (a família Hulk comanda a Califórnia pois tomou o território do Abominável). É bacana ir descobrindo o que aconteceu com todos os heróis e há sacadas muito interessantes como colocar Las Vegas como a "Meca" de peregrinação de quem ainda tem esperanças que os heróis voltarão e a explicação do nome de um local chamado "Pym Falls".

No entanto, a estória e simples e linear, com um final bastante óbvio. Aliás, todo o desenrolar é bastante evidente e sem surpresas muito grandes mas a arte de McNiven, aqui bem exagerada, ficou muito bacana e chama atenção.

Para quem gosta de Wolverine em seu estado feral sem barreiras, vai gostar de Old Man Logan. Quem espera uma estória inteligente, cerebral, por favor vá ler novamente The Dark Knight Returns. Old Man Logan é diversão exagerada, histriônica e sanguinolenta do tipo blockbuster sem sentido.  Vale a leitura casual.

Nota: 7 de 10

Crítica de TV: Battlestar Galactica - Temporada 4.5


Comprei o Blu-Ray contendo os 10 (11 se considerarmos que o último é duplo) últimos episódios de Battlestar Galactica, série que, como sabem, eu adoro, bastando ver meus comentários sobre a Temporada 4.0. Fiquei olhando para a embalagem fechada por uma semana, sem coragem de abri-la. Finalmente, quando abri, passei a assistir um epísódio por dia, não porque a série seja ruim, longe (muuuuito longe) disso mas sim porque estava triste que ela estava acabando. A série The Wire, comentada aqui, aqui, aqui e aqui, é a mais brilhante série dramática que já vi. Battlestar Galactica é pau-a-pau com The Wire e seu fim significa o fim do que havia de melhor na televisão nos últimos 5 ou 6 anos.

Não mencionarei spoilers pois prezo muito essa série para dar chance de alguém estragar o prazer de assisti-la lendo meus comentários. O fim da primeira metade da quarta e última temporada nos mostra um final derradeiro, sem esperanças. 11 dos 12 modelos de Cylons foram revelados. Parecia que nada mais poderia acontecer. No entanto, os últimos 10 episódios mostram que eu estava errado.

Vamos falar logo sobre o final. A série acaba exatamente como eu, quando pequeno, achava que a série da década de 70 deveria acabar. Por isso, fiquei extremamente feliz e satisfeito com o que vi. Isso não quer dizer, porém, que o final é perfeito.

Daybreak, episódio rodado junto e divido em três partes, nos conta o destino final dos sobreviventes da guerra entre os Cylons e as 12 Colônias de humanos. A essa altura, pouco mais de 36 mil humanos sobrevivem às duras penas em várias naves lideradas pela astronave de combate Galactica e por seu almirante Adama (Edward James Olmos). Daybreak mistura cenas do passado de vários personagens em seus planetas natais com cenas do presente, na luta pela sobrevivência. Não fica muito claro o porquê desses flashbacks pois eles pouco impulsionam a estória, parecendo, na verdade, "encheção de lingüiça". A primeira parte da trilogia final lida com a última missão da Galactica, com seu grupo de voluntários suicidas; a segunda parte lida com a batalha final entre Cylons e humanos e a terceira com a resolução, o fechamento da estória para cada um dos personagens.

A primeira parte é boa, emocionante, mas poderia ter sido executada mais rapidamente. A segunda - a batalha - é sensacional mas rápida demais. Faltou dinheiro? A terceira parte é interessante, revela o tal final que eu sempre quis mas deixa um pouco a desejar em termos de execução e uso de um didatismo exagerado, algo ausente na série como um todo.

No meio dessa meia temporada há uma tentativa de motim em Galactica. Esses momentos, na verdade, são os pontos altos desses 10 episódios. Vemos Apollo e Starbuck lutando novamente lado-a-lado, vemos Adama tomando decisões radicais como no começo da série e vemos os Cylons tomarem decisões de alianças. Esses momentos aliados às revelações de um dos cinco Cylons finais e a revelação de quem é o 12º Cylon (escolha interessante, que surpreende mas não choca) fazem da temporada 4.5 uma ótima temporada.

O tema polêmico da religião está cada vez mais presente e o fim é fortemente religioso, com uma clara interferência de um deus ou de entidades divinas para explicar o que acontece. Isso enfraquece a série? No meu entender, não. O elemento religioso em Galactica foi uma das grandes jogadas dos criadores que contrapõem ciência e religião, tornando Baltar, o traidor, Baltar o cientista, em Messias. Fica evidente a discussão sobre o papel da tecnologia e o bem - ou mal - que ela nos traz. A tecnologia é um deus para nós hoje em dia? Ou foi um deus que criou a tecnologia?

Mesmo com um final perfeito executado de forma menos do que perfeita, Battlestar Galactica continua em meu coração como uma das duas melhores séries de televisão já feitas. Parabéns aos realizadores pela coragem de mostrarem que ficção científica pode ser mais do que armas laser e alienígenas monstruosos.

Nota da temporada 4.5: 9 de 10

Nota da série completa: 10 de 10 (não é um média)

Crítica de videogame: Batman: Arkham Asylum


Acho que os dias dos videogames porcarias baseados em personagens de quadrinhos está chegando ao fim. Certamente teremos muitos outros jogos ruins com base nesse material mas o que está acontecendo agora é o aparecimento de jogos efetivamente muito bons e com uma certa frequência. Wolverine foi um desses exemplos: um jogo muito divertido, ainda que repetitivo.

Agora é a vez de Batman ganhar o tratamento definitivo e meus comentários se referem à versão em PS3.

E o mais legal é que não seguiram o caminho fácil, que seria simplesmente pegar The Dark Knight, um excelente filme, e convertê-lo para um jogo. Não. O pessoal da Rocksteady e Eidos se baseou de forma livre na clássica graphic novel Arkham Asylum de Grant Morrison e Dave McKean para criar o que talvez seja o melhor videogame de super herói de todos os tempos e um que certamente merece menção entre os melhores já feito e ponto.

A premissa é a seguinte: o Coringa é preso mais uma vez e levado ao sombrio Arkham Asylum, manicômio judiciário onde ficam enjaulados os piores vilões de Gotham City. Lá, o Coringa põe em funcionamento um plano complexo para criar seres mostruosos e prende Batman lá dentro, junto com os bandidos. Cabe então a você, controlando o herói mascarado, acabar com os planos do tresloucado Coringa e sua gangue.

Os controles e a mecânica:

O jogo é em terceira pessoa, o que significa que você vê Batman de costas o tempo todo. Nesse jogo, o personagem que você controla fica mais próximo que o normal da tela e, por isso, os produtores o deslocaram um pouco para a esquerda o que, no começo, dá uma sensação estranha.

Os controles são os mais simples possíveis, apenas com a utilização dos botões com as figuras geométricas. No entanto, essa simplicidade é apenas na superfície pois os botões, para se ter a máxima eficiência, devem ser apertados com alguma cadência,  acompanhando-se sinais no jogo e com a utilização do joystick da esquerda. É difícil explicar pois você até consegue ganhar uma briga só martelando o mesmo botão o tempo todo mas, para a luta ficar realmente bela e fluida, há que se ter alguma calma e reflexos rápidos pois cada golpe correto serve para você somar "combos" e quanto mais golpes certos forem dados em seguência, mais interessante ficam os "combos". Com algum treino, é possível chegar facilmente a combos de 20 golpes sucessivos corretos mas não há dúvidas que os "combos" de 40 ou até mais são os mais impressionantes (ainda que eu os tenha visto apenas uma ou duas vezes, por total incompetência minha, admito).

Fora isso, você tem os gadgets de Batman, claro. No começo tem-se apenas os batarangs simples e um gancho (grapple gun) que permite que Batman suba mais facilmente em alguns obstáculos. Depois, com o desenrolar do jogo, você vai ganhado outros aparelhinhos interessantes, alguns deles essenciais para se completar o jogo todo.

Tudo o que você faz, inclusive os combos especiais, faz com que o vigilante mascarado acumule pontos de experiência (XP). A partir de um determinado número, você consegue escolher um entre diversos upgrades para Batman. Não demora para conseguir o primeiro e, dentre as várias escolhas, pegue logo o inverted takedown, que essencialmente permite que Batman se dependure de gárgulas de pedra como um morcego e pegue um coitado pelo pescoço e o deixe pendurado. Brilhante!

Além disso tudo, há o modo "detetive", que permite que Batman saiba quanto inimigos estão na sala, se estão armados ou não e também permite que Batman desvende as 240 charadas que o Charada deixou espalhadas pelo Asilo. As charadas não são essenciais para se terminar o jogo mas sua resolução permite acumular mais XP para upgrades mais rápidos, permite o destravamento dos desafios (abaixo), além de serem muito divertidas.

O jogo:

Batman tem que percorrer os corredores mais sombrios do Asilo para derrotar o Coringa e seus asseclas. Isso significa dizer que não basta sair correndo e estapeando os bandidos. Assim Batman não sobreviverá por muito tempo. Há que se usar de alguma estratégia e de movimentos furtivos, como chegar por trás de um bandido e fazê-lo desmaiar. Há que se subir em obstáculos e atacar por meio de tubos de ventilação. Há que ficar pendurando em uma beirada, esperar o bandido passar e puxá-lo para baixo, jogando-o lá de cima. Arkham Asylum é um jogo inteligente mas que não deixa a ação de lado. Às vezes, é paulada pura mas outras vezes há que se fazer as coisa com mais calma.

A roupa de Batman vai se rasgando ao logo do jogo e sua barba vai crescendo. É de um realismo impressionante.

Outro aspecto importante do jogo é o tempo investido pelos programadores em criarem situações que envolvem fases inteiras mas que não são realidade. Explico: em determinados momentos, Batman está sob a influência do Espantalho e começa a vivenciar seus piores medos. Coisas começam a acontecer que poderiam mesmo acontecer mas depois descobrimos que tudo está na mente de Batman. Em outro momento, há a luta com o Killer Croc nos esgotos do Asilo e vemos, novamente, o incansável trabalho dos programadores em apresentar o melhor trabalho possível.

Arkham Asylum não é o jogo mais difícil do mundo. Joguei em dificuldade "normal" e mesmo os chefes de fase foram medianos para fáceis. Mas eu não considero isso algo negativo. Sou jogador casual que quer apenas uma experiência bacana, com surpresas aqui e ali. Ficar horas na frente da televisão para aperfeiçoar um movimento específico para ganhar de chefes de fase é coisa que está além de minha capacidade e de minha paciência. O jogo é andar, lutar, resolver charadas, usar o modo detetive, lutar novamente, observar e por aí vai, sem nenhum obstáculo intransponível. Aliás, o bacana é que todo o mapa do Asilo é livre, ou seja, você pode voltar a qualquer ponto sempre que quiser.

Os desafios:

Mas os produtores não esqueceram de quem gosta de coisas difíceis. Na medida em que avançamos no jogo, destravamos "desafios" que são para serem jogados fora do jogo mas no ambiente e em fases específicas do jogo. São dois tipos de desafio: Combate e Predador.

O primeiro é só luta, o lugar perfeito para se aperfeiçoar táticas de luta e aumentar sua contagem de combos. Eu acabei com o jogo mas não consegui nem arranhar a superfície dos desafios pois são muito difíceis. Para se chegar a 100% do jogo, porém, os desafios são essenciais.

Os desafios do tipo Predador nos ensinam a lutar sem aparecer, pegando bandido por bandido, na maior tensão para não ser localizado pelos demais. A dificuldade é, também, extrema.

No PS3, esses desafios, depois de um download gratuito, podem ser jogados controlando o Coringa. São exatamente os mesmos mas a lógica de combate do Palhaço do Crime é diferente e exige um novo treinamento do zero. Coisa para quem gosta de perder horas a fio em frente à uma televisão para se tornar o Mestre dos Mestres.

Conclusão:

Batman: Arkham Asylum é uma obra-prima. A atenção aos detalhes é impressionante e, apesar de não enfrentarmos todos os vilões clássicos de Batman, eles estão todos lá presentes de alguma forma. É jogar para acreditar. Foi uma maravilha zerar o jogo e achar as 240 charadas. Pela primeira vez na vida tive vontade de jogar um jogo todo novamente, em dificuldade maior, algo que acho que farei nos próximos meses.

Esse jogo é altamente recomendável mas, apesar de Batman não matar ninguém, há muita morte e o uso de palavrões aqui e ali. Não é recomendado, assim, para crianças pequenas.

Nota: 9,5 de 10

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Club du Film - 4.26 - In Cold Blood (A Sangue Frio)

O 26º filme do ano IV do Club du Film foi A Sangue Frio, assistido em 22.09.09. Trata-se de um clássico em preto e branco de 1967, dirigido e roteirizado por Richard Brooks (Cat on a Hot Tin Roof), com base na obra literária de mesmo nome de Truman Capote. 

Quem assistiu ao mais recente Capote com o sensacional Philip Seymour Hoffman no papel título e gostou, simplesmente precisa assistir A Sangue Frio pois Capote conta a estória de como Truman Capote mergulhou na vida de dois assassinos para escrever seu possante livro. Quem não gostou de Capote ou não o assistiu, faça um favor e vá para a locadora agora e alugue A Sangue Frio. É indispensável.

Dois bandidos - Perry Smith (o ótimo Robert Blake de Baretta) e Dick Hickock (The Right Stuff entre vários outros) - assaltam uma casa e tudo dá errado, acabando com o brutal assassinato da família que lá reside. O filme se concentra no antes e no depois, ou seja, na construção dos personagens até a execução do roubo e, depois, com os dois presos e na fila para serem executados. Não é nenhuma surpresa que eles são presos mas certamente, para quem não viu, será surpresa o pouco destaque que se dá ao roubo em si. O diretor preferiu, para um ótimo efeito dramático, cortar o filme exatamente quando o roubo vai começar e nos mostra o que acontece depois, com os dois fugindo, sendo presos, sentenciados e, finalmente, esperando a morte.

A fotografia em preto e branco é belíssima e Robert Blake particularmente dá um show em sua atuação contida mas profundamente perturbardora. Sua carreira pelos anos seguintes foi tão complicada que não duvidaria que seus problemas tenham sido causados pelo trauma desse papel. Mas, para nós espectadores, é sensacional ver o desenvolvimento desse homem, basicamente um caipirão, com poucas aspirações na vida, sendo usado, reagindo e afundando.

Não há dúvidas que é um filme contra a pena de morte, mas não que os assassinos não mereçam ser presos mas sim pela constatação por Truman Capote que essa pena não traz nenhum benefício para a população. O filme não nos pede para torcer pelos bandidos e não passa uma mensagem que glorifica o crime. Ao contrário: os bandidos são mostrados como seres amorais, até mesmo idiotas, sem redenção. Mas esse realismo todo é torturante e mesmo assim, ao final, por mais que se defenda a pena de morte e que se espere algo assim vindo de tão brutais assassinatos, é difícil não sentir alguma pena dos personagens.

O filme tem um grande defeito: Brooks decidiu usar uma narração ao final que é completamente desnecessária e explica o óbvio, meio que estragando a dramaticidade da obra. Mas não é nada que condene o filme que, ao contrário, é altamente recomendado.


Sobre o Club du Film:

Há pouco mais de três anos e meio, no dia 28 de dezembro de 2005, eu e alguns amigos decidimos assistir, semanalmente, grandes clássicos do cinema mundial. Esse encontro ficou jocosamente conhecido como Club du Film. Como guia, buscamos o livro The Great Movies do famoso crítico de cinema norte-americano Roger Ebert, editado em 2003. Começamos com Raging Bull e acabamos de assistir a todos os filmes listados no livro (uns 117 no total) no dia 18.12.2008. Em 29.12.2008, iniciamos a lista contida no livro The Great Movies II do mesmo autor, editado em 2006. São, novamente, mais de 100 filmes. Dessa vez, porém, tentarei fazer um post para cada filme que assistirmos, com meus comentários e notas de cada membro do grupo.


Notas:

Minha: 9 de 10
Barada: 8,5 de 10
Nikto: 7,5 de 10

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Club du Film 4.25 - Tonari no Totoro (Meu Vizinho Totoro)


O 25º filme do ano IV do Club du Film foi Meu Vizinho Totoro, assistido em 10.09.09. Trata-se de um belo desenho animado do mestre Hayao Miyazaki que criou, dentre outros, Princess Mononoke, Spirited Away e Castle in the Sky.

Totoro pode não ser o melhor desenho de Miyazaki mas, certamente, é um dos mais belos. Na verdade, é de uma beleza tal que eu o colocaria entre os melhores de seu gênero. A beleza de Totoro não vem particularmente dos desenho - que definitivamente, são muito bons - mas sim do fato de a estória não ter um antagonista, um vilão. Trata-se, "apenas", da linda estória de amizade de duas irmãs, Satsue e Mei que se mudam para o interior com seu pai para ficarem mais próximas de sua mãe, que está hospitalizada. Na nova casa, as duas logo fazem amizade com "Totoros", bicho mágicos que as levam em várias aventuras.

A reação das meninas a cada descoberta é sensacional. Miyazaki conseguiu capturar, com perfeição e linhas simples, os traços da inocência das crianças. Mostra a felicidade da descoberta e a tristeza da perda de maneira soberba, que por si só já faz o filme ser obrigatório em qualquer videoteca. Pena que não encontrei esse filme em DVD no Brasil, pois queria mostrá-lo para minhas duas filhas.

Como eu disse mais acima, não há vilões no filme. Nada é preto ou branco como na maioria dos filmes. Mas nem por isso o desenho se torna chato ou sem conflitos. Há o desaparecimento inicial de Mei, que encontra os Totoros, há a alegria de explorar a nova casa, a aflição quando Mei desaparece novamente, a tristeza quando as meninas descobrem que sua mãe não vai sair tão cedo do hospital. Todos esses elementos tornam o filme muito movimentado e original. Afinal, Myiazaki é conhecido por suas maluquices visuais e, se você sempre quis ver um  gato-ônibus e nunca conseguiu, esse é seu filme. Mas do que isso, se você tem filhos, esse filme é essencial.


Sobre o Club du Film:

Há pouco mais de três anos e meio, no dia 28 de dezembro de 2005, eu e alguns amigos decidimos assistir, semanalmente, grandes clássicos do cinema mundial. Esse encontro ficou jocosamente conhecido como Club du Film. Como guia, buscamos o livro The Great Movies do famoso crítico de cinema norte-americano Roger Ebert, editado em 2003. Começamos com Raging Bull e acabamos de assistir a todos os filmes listados no livro (uns 117 no total) no dia 18.12.2008. Em 29.12.2008, iniciamos a lista contida no livro The Great Movies II do mesmo autor, editado em 2006. São, novamente, mais de 100 filmes. Dessa vez, porém, tentarei fazer um post para cada filme que assistirmos, com meus comentários e notas de cada membro do grupo.


Notas:

Minha: 8 de 10
Barada: 6 de 10

Crítica de filme: Michael Jackson's This Is It


Michael Jackson certamente deixou o sucesso subir à cabeça, foi claramente manipulado por seus irmãos, advogados e agentes. Era um louco completo, que passou por processo de branqueamento da pele e sei-lá-quantas operações plásticas que o deixaram deformado. Teve filhos de maneiras, digamos, pouco convencionais, chegando até a pendurar um do lado de fora da janela quando bebê. Em sua instabilidade, criou sua própria Xanadu, em que até parque de diversões tinha. Passou por forte acusações de pedofilia, algo que simplesmente o marcou pesadamente. No meio disso tudo, queimou sua fortuna angariada com a venda do que sem dúvida são os melhores discos de música pop do mundo. Isso e muito mais era a vida degenerada e triste de Michael Jackson, o Rei do Pop.

Mas nada disso apaga o fato que ele era um gênio, o melhor naquilo que ele fazia: música e dança. This Is It mostra isso de forma evidente.

Falei tudo de ruim que consegui me lembrar de MJ para já deixar esse assunto de lado. Eu sei que ele tinha milhares de defeitos graves mas This Is It não comemora os defeitos, não é uma biografia equilibrada, mostrando o lado positivo e negativo do cantor. É um presente aos fãs e aos não fãs também.

O filme - mais um documentário musical, na verdade - tinha tudo para dar errado, muito errado. Foi montado às pressas a partir de imagens tiradas dos ensaios para o show que Michael Jackson inauguraria em Londres na O2 Arena em junho desse ano. As imagens vão da qualidade boa até a baixa resolução em formato 4x3. Kenny Ortega, o diretor, estava mais lá para criar um DVD de extras sobre o show de Michael do que para fazer um filme. No entanto, com os fragmentos que filmou, conseguiu um feito impressionante. Montou um filme bom que nos mostra o que poderia ter sido o show de MJ se ele não tivesse falecido semanas antes. Mesmo para aqueles que não são fãs do Rei do Pop, fica claro que o espetáculo seria algo do outro mundo, extravagante, bem ensaiado, perfeito, exatamente como a obra e o legado de Michael Jackson.

This Is It é uma sucessão de números musicais começando com Wanna Be Startin' Somethin' e encerrando com Man In The Mirror. As imagens, às vezes, são entrecortadas com Michael dando instruções para seus músicos e dançarinos e, em outros momentos, para imagens de clipes que seriam usados no show efetivamente.

O que mais me impressionou foram as imagens de Michael descrevendo ao diretor musical e aos músicos em geral o que exatamente ele queria. São esses momentos que deixam evidentes a qualidade técnica e o profissionalismo de MJ. É impressionante como ele percebe notas que não o agradam e exige pausas em determinados momentos. O cara pode ser infantil e louco fora do palco mas, no palco, ele se demonstra como um ser integrado em seu habitat, vivendo a vida que nasceu para viver.

É uma pena, porém, que Kenny Ortega  se concentra mais nos números musicais no que essas demonstrações do brilhantismo do astro. Eu, particularmente, não reclamaria se algumas músicas como a chata The Earth Song tivesse sido eliminada e, em seu lugar, fôssemos brindados com Michael dando aulas de música à sua equipe. Teria sido interessante, também, entrar no processo criativo dos passos de dança, algo que não é mostrado.

O filme vai muito bem até e incluindo Smooth Criminal em que Ortega consegue mais ou menos mostrar aquilo que aconteceria no palco: Michael entrando no mundo de Gilda e de Humphrey Bogart, interagindo com os personagens. Depois, segue uma sequência de números menos empolgantes, talvez pela falta de material de Kenny Ortega. Até Thriller ficou fraco pois o clássico foi meio que descaracterizado. Mais para o final, porém, vem Billie Jean e a demonstração suprema do controle absoluto de Michael sobre sua técnica: ele canta e dança, sem backup, sozinho no palco, do começo ao fim. É impressionante ver esse momento, sabendo que, afinal, vem de um homem de 50 anos. Algo semelhante ocorre com Man In The Mirror logo em seguida.

This Is It, como um extra de DVD, é sensacional, brilhante. Como um filme, tem seus defeitos, como longos momentos pouco empolgantes e pouca demonstração do que é MJ, o profissional, trabalhando na música. Assim como temos que separar a imagem que temos do homem particular Michael Jackson do homem público Michael Jackson, o primeiro com graves problemas e o segundo um gênio, também temos que separar o ardor de fã pelo artista e a qualidade de um filme feito com cenas que não tinham o objetivo de serem montadas em formato de filme para cinema. O resultado é bacana, uma grande homenagem aos fãs e ao astro, que nos deixa tristes por ele ter morrido assim de forma tão abrupta e nos faz querer continuar ouvindo sua obra logo ao sair do cinema.

Nota: 7 de 10

Crítica de videogame: Resistance: Fall of Man



Aqueles que conhecem videogame sabem que Resistance foi lançado junto com o Playstation 3, em novembro de 2006. Dessa forma, não faz nenhum sentido comentários sobre esse jogo que já em 2007 não era mais novidade. De toda forma, só consegui jogá-lo recentemente e devo dizer que adorei a experiência, mesmo três anos atrasada.

Resistance se passa na década de 50 na Inglaterra. O mundo está em guerra, mas não a guerra que conhecemos. Um vírus de origem desconhecida atingiu a União Soviética e se espalhou pelo país, que foi cercado em quarentena. Tempos depois, a quarentena ruiu e a Europa foi infestada pelo vírus, batizado de Chimera. Seu efeito não poderia ser outro: transforma as pessoas em seres horrendos que atuam em conjunto, como abelhas em uma colméia. Você é o sargento Nathan Hale, soldado das forças americanas que desembarca na Inglaterra para ajudar os ingleses a resistir aos monstrengos. Logo no começo do jogo suas forças são dizimadas e Nathan é infectado pelo vírus mas não cai em coma como os demais. Algo em seu DNA é diferente e isso o faz se tornar um híbrido de humano e Chimera, o que é péssimo para os monstrengos. Armado com armas que lembram muito as armas da Segunda Guerra Mundial mas com alguma tecnologia extra ou com armas completamente estranhas e variadas (de granadas a lança mísseis), seu objetivo é dizimar as forças inimigas, tudo isso em "primeira pessoa".

A jogabilidade é sensacional. É bem verdade que demorei um pouco para me acostumar com os controles e, por isso, tomei muito tiro e morri várias vezes ainda no começo da primeira fase. Não há tutorial. O jogo já começa no fogo cruzado e minha inexperiência com videogames ficou evidente.

Mas, mesmo assim, perseverei e comecei a me acostumar a estourar os cérebros dos bicharocos que iam aparecendo. Na medida que eu progredia, ia conseguindo armas mais interessantes, especialmente um rifle "sniper" com lente telescópica e a habilidade de colocar tudo em "câmera lenta", de forma a facilitar aquele tiro perfeito. Esses momentos foram de extremo prazer e minha reclamação maior é que o jogo dá relativamente poucas oportunidades de se usar esse rifle. A maioria do tempo é mesmo com os dois rifles principais, um de tecnologia normal e outro de tecnologia Chimera. É apertar o gatilho e sair matando mas não de forma completamente irracional. Há que haver um mínimo de bom senso. Só sair atirando como em Halo, por exemplo, resultará na morte do sargento, por mais resistente que ele seja. Mas, com algum planejamento e umas granadas bem colocadas, não tem monstro que você não consiga destruir.

Isso tudo sem falar nos veículos. Nathan consegue pilotar um jipe, um andador do tipo AT-ST de Star Wars e um tanque de guerra. São poucos esses momentos mas todos eles muito lindos, de emocionar de tão devastador que é.

Os chefes de fase são variados e do jeito que eu gosto: não muito difíceis. Jogo, para mim, tem que ser divertido acima de tudo e não ridiculamente complicados, exigindo reflexos milimétricos e treinamento constante. Esse jogo oferece tudo na medida certa, sem ser muito fácil ou muito difícil (pelo menos no modo "normal" que joguei).

O grande problema desse jogo é que, como estou acostumado com o treme-treme do controle para me avisar quando estou apanhando, tive sérios problemas para me ajustar. É que Resistance não tem o rumble já que o controle lançado junto com o PS3 em 2006 absurdamente não tinha esse acessório (algo que a Sony alterou nas versões posteriores do console).  Mas, depois de umas 50 mortes eu comecei a me acostumar...

Fiquei tão empolgado que comprei Resistance 2 recentemente mas ele vai ficar fechadinho até eu acabar o maravilhoso Batman: Arkham Asylum que estou jogando agora e, para variar, apanhando muito.

Nota: 8,5 de 10