sábado, 26 de dezembro de 2009

Crítica de filme: The Hurt Locker (Guerra ao Terror)

Esse filme, produzido em 2008 passou batido no cinema americano quando estreou no meio de 2009 e, por aqui, nem mesmo estreou. Foi lançado direto em DVD. Sua bilheteria mundial foi de parcos 16 milhões de dólares.

No entanto, The Hurt Locker (o título em português é simplesmente ridículo demais: Guerra ao Terror) vem chamando a atenção de todo mundo. Primeiro, o site agregador de críticas RottenTomatoes indica que nada mais nada menos que 97% por cento das críticas que o filme recebeu são positivas. Esse é um número absurdamente alto pois é rara tamanha unanimidade entre críticos. Para se ter uma idéia, o espetacular Up - Altas Aventuras, recebeu 98%.

Em segundo lugar, o filme vem recebendo indicações atrás de indicações e algumas premiações. Ganhou o prêmio de melhor filme do Gotham Awards, do New York Film Critics Circle. Mais recentemente, foi indicado a três Globos de Ouro: melhor filme, direção e roteiro. E parece-me que essas indicações não pararão por aí pois tem muita gente já dizendo que o filme merece ser indicado ao Oscar, especialmente em 2010 que serão 10 indicações de melhor filme, abrindo espaço para diversificação.

Em terceiro lugar, o filme tem pedigree já de nascença. Sua diretora é Kathryn Bigelow. Quem é ela, alguns perguntarão. Bom, tudo bem que casamento não quer dizer muita coisa mas, para começar, ela é ex-mulher de James Cameron, o atual Rei do Mundo. Mas seu pedigree vem de suas poucas mas excelentes obras. Ela dirigiu Near Dark em 1987, o filme de vampiro que considero ser o melhor do gênero já feito; o já clássico PointBreak com Patrick Swayze e Keanu Reeves e o dramático K-19 com Harrison Ford, dentre outros.

Assim, com a indicação ao Globo de Ouro, cacei o filme em um locadora e o assisti. Posso dizer que compreendi muito bem o que os críticos tanto adoraram (quase idolatraram) nesse filme mas também posso dizer que não concordo com a nota quase perfeita que ele vem levando de todos.

O filme conta a estória de uma pequena unidade militar especializada em desativar bombas, situada no Iraque em 2004. Não podia haver pior lugar para ser especialista em desarmar bombas, não? Pois bem, quando o comandante da equipe vira carne moída, o Sargento William James (Jeremy Renner) é transferido para liderar a equipe. Diferente do líder anterior, James é, em uma primeira análise, um completo louco destemido, que pouco se preocupa com os protocolos militares e assume riscos impressionantes. Logo na primeira missão, no lugar de mandar o costumeiro robô para fazer a primeira investigação, ele se manda pessoalmente trajando uma roupa anti-bombas para ver do que se trata a bomba (no linguajar militar, essas bombas improvisadas são chamadas de IED, ou seja Improvised Explosive Devices). O filme conta os últimos 38 dias dessa equipe, antes que seus componentes sejam mandados de volta para casa (inteiros ou não...).

Mas o filme é muito mais do que isso. Ainda que encaremos James como um caipira valentão e completamente despreocupado com sua vida e com a de seus colegas, ele é muito mais do que isso. Talvez ele seja mesmo um gênio naquilo que faz e esteja no auge de sua forma técnica. Talvez e é isso que Bigelow faz questão de enfocar, ele seja um viciado em adrenalina, sempre procurando situações cada vez mais arriscadas para encarar. Sua vida parece ser o dia-a-dia de procurar e desarmar bombas. Seus colegas, Sanborn (Anthony Mackie) e Eldridge (Brian Geraghty) querem cumprir seus 38 dias e ir embora. James não tem exatamente essa preocupação. Sanborn é o especialista em segurança, quem dá cobertura para que James possa se expor para cuidar de algum IED. Ele segue todas as regras e protocolos do exército e a postura amalucada do novo líder os colocam em conflito logo de imediato. Eldridge tem horror à guerra. Não consegue se ajustar de forma alguma (e quem poderia culpá-lo?). Ele quer por que quer ir embora. Não é um  covarde mas quer o mínimo de problemas possível (como se isso fosse possível em uma unidade de desarmamento de bombas no Iraque).

Esse dia-a-dia da unidade é mostrada de forma semi-documental pela diretora, que preferiu emprestar realidade às situações com muita utilização de câmera na mão e ângulos baixos. Algumas cenas são impressionantemente memoráveis, como quando James acha as várias bombas em sua primeira missão (é a cena representada pela fotografia do poster acima) e como quando Sanborn e James ficam horas com rifle em punho para acabar com soldados inimigos a quase um quilômetro de distância.

Outro ponto que merece destaque é a atuação de Jeremy Renner (28 Weeks Later e The Assassination of Jesse James). A profundidade que ele empresta ao seu personagem é inacreditável. Ele nos faz acreditar que ele é um caipira valentão em um primeiro momento mas sem nos afastar do personagem. Ao longo do filme, ele consegue romper essa barreira inicial de antipatia e criar uma conexão enorme com o espectador, revelando, então, todas as suas nuances. Sem estragar o final (fiquem tranquilos), fiquei especialmente transtornado com sua atuação nos minutos finais. É de uma sinceridade e de uma tristeza que há muito não via.

O grande problema do filme é a obviedade dos eventos. Para um filme que respira tensão (e Bigelow manobra bem o espectador), em vários momentos ele telegrafa o que vai acontecer, retirando elementos importantes para a composição da cena. É difícil explicar sem entrar no terrenos dos spoilers mas basta dizer que sempre que Bigelow aborda a questão de maneira diferente, algo não esperado acontece. Ela exagera nessa técnica e acaba enfraquecendo o que, de outra forma, seria efetivamente um filme nota 10.

Mas todas as outras incríveis características desse filme realmente o colocam lá no alto, entre os melhores de 2009 sem dúvida. Se não vier Oscar para o filme, que ao menos Jeremy Renner seja lembrado.

Um último detalhe que não poderia deixar de dizer. A capa do DVD brasileiro é ridícula e enganadora. Quem fez deveria ter vergonha do trabalho. O filme tem pontas de três atores conhecidos e os nomes que aparecem na capa são APENAS desses três atores. O nome de Jeremy Renner não está lá e a foto de maior destaque é de um desses pontas, que literalmente tem duas falas no filme inteiro. É muito feio vender o filme dessa forma, especialmente escondendo o verdadeiro protagonista da película.

Nota: 9 de 10

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