sábado, 23 de janeiro de 2010

Crítica de filme: Up In The Air (Amor Sem Escalas)


Jason Reitman é diretor de ótimos filmes. Fez o excelente Thank you for Smoking (Obrigado por Fumar), sendo autor também do roteiro. Depois, fez o aclamado e simpático Juno, com roteiro de Diablo Cody. Agora, Reitman nos apresenta com a direção e o roteiro de Up In The Air, outro triunfo.

O filme nos mostra a vida de Ryan Bingham (George Clooney), um executivo cuja função é viajar por todo os Estados Unidos demitindo pessoas de diversas empresas cujos chefes não tem a coragem de cumprir essa função. Ele tem toda uma técnica, com respostas para as mais diversas situações, desde a calma quando a notícia é contada até o desespero total. Viajando 320 dias por ano, Bingham é basicamente um nômade, cuja casa é uma combinação de aviões com aeroportos e hotéis. Ele tem vários cartões de milhas e, com o tempo, se tornou um colecionador delas. Não as usa, apenas as guarda para alcançar um objetivo inalcançável em termos de números de milhas acumuladas. Ele não gasta um centavo em dinheiro. Sempre usa os serviços de concierge das companhias aéreas (American Airlines), locadoras de automóvel (Hertz) e hotéis (Hilton).

Nessa sua vida regrada, ele apenas carrega uma mala de mão, tudo que tem na vida e faz, ocasionalmente, palestras motivacionais sobre a necessidade de se desprender dos bens materiais e, principalmente, das pessoas, incluindo família e amigos. Ele é um solitário por convicção.

Tudo começa a mudar quando Bingham conhece Alex Goran (Vera Farmiga) sua versão feminina. Já no contato inicial, os dois partem para comparar quantos cartões de milhas têm e os serviços oferecidos por cada companhia. É a vida de lobby de aeroporto elevada à décima potência. Alex e Ryan começam a se ver com certa freqüência, sempre que os dois estão no mesmo aeroporto. O passo seguinte da mudança de Ryan é a entrada de Natalie Keener (Anna Kendrick), nova funcionária da empresa em que trabalha e mentora de um programa que objetiva gastar menos com viagens e fazer todas as demissões via vídeo conferência (não podia ter algo mais cruel que isso, não?). Ryan fica desesperado e, depois de uma discussão, Natalie passa a acompanhá-lo em suas viagens para aprender a demitir.

Natalie é o oposto de Ryan. Por ser nova, ela é romântica, acredita em casamento e relacionamentos em geral. Ryan é um cínico que nunca nem visita sua família para evitar laços mais fortes. Mas começamos a ver, também, que Ryan talvez tenha é se acomodado a um estilo de vida cruel que o forçou a ser o que é. Ao penetrarmos na mente do personagem, percebemos que talvez ele não seja aquele solitário convicto que nos é apresentado no começo. Sua humanidade - sua normalidade - começa a imperar e testemunhamos um processo de mudança muito interessante, que o leva a questionar se ele quer realmente uma vida como a que ele vem pregando a vida toda.

Essa transformação se dá em meio a diálogos sensacionais, espertos, inteligentes e que merecem todos os elogios que vêm recebendo por aí (ganhou o Globo de Ouro de melhor roteiro, vale lembrar). Uma cena memorável é quando, na primeira demissão em dupla, Ryan pede para Natalie apenas observar mas ela acaba interropendo e criando uma enorme confusão. Ryan, super profissional, consegue convencer a pessoa sendo demitida depois de décadas de dedicação ao trabalho, que era hora dele investir naquilo que ele sempre quis fazer: cozinhar. Ryan mostra que leu o histórico da pessoa e que se importa com ela, algo que pode ser visto apesar da carapaça protetora que ele mesmo criou ao longo dos anos. Natalie percebe isso assim como nós espectadores também percebemos.

É um ótimo filme, na linha das obras anteriores de Jason Reitman.

Nota: 8,5 de 10

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