domingo, 28 de março de 2010

Crítica de quadrinhos: Fables vol. 12 - The Dark Ages (Fábulas vol. 12)

Como dá para notar em meus comentários aqui, sou fã dos quadrinhos Fables criados por Bill Willingham. Em brevíssimo resumo, a série conta a estória dos personagens de contos de fada (Branca de Neve, Lobo Mau, Cinderela e por aí vai) como se eles vivessem em nosso mundo, foragidos de suas terras natal pela invasão de um inimigo conhecido como Adversário. Os Fábulas que se confundem com os humanos vivem em Nova Iorque, em uma rua chamada Fabletown. Os Fábulas animais e monstros têm que viver em um fazenda, no interior do estado de Nova Iorque. Apesar da temática, a estória não é para crianças.

No último volume, a grande batalha entre os Fábulas e o Adversário acabou. Houve baixas para os dois lados mas os Fábulas saíram vitoriosos. O Adversário foi capturado e, agora, depois de uma anistia geral, passou a viver em Fabletown. Não vou contar a identidade dele pois descobrir é parte da diversão e isso acontece nos volumes anteriores. De toda forma, a estória começa bem divertida, com a reação de estranheza e preconceito por um assassino de milhões de Fábulas estar andando livre, leve e solto no meio de Fabletown. Esse começo é interessante, bem construído, especialmente a atitude superiora do Adversário em relação aos seus captores.

Mas aí a estória, que começa boa, começa a se arrastar tremendamente. Acaba que ela parece um extenso e muito previsível epílogo da grande guerra do volume 11, algo que poderia ter sido feito em algumas páginas apenas. Vemos o destino de Boy Blue, um dos grandes heróis da guerra e o aparecimento de um potencial novo inimigo, com enorme poder. Willingham definitivamente tinha um plano em mente ao desconstruir o império do Adversário, mostrando que talvez existisse um propósito para tamanha carnificina. Afinal, o novo inimigo que se avizinha, em pouco tempo cria um caos total na vida dos Fábulas de Nova Iorque, mudando, mais uma vez, toda a mecânica da estória. Ponto para o autor nesse sentido mas ele perde muitos outros ao ampliar, vagarosamente, o nouement da empolgante guerra que vimos no volume anterior.


O que vale mesmo nesse volume é ver que a estória continua, apesar desse pequeno, digamos, "soluço". Uma estória que está lá dentro e é muito interessante é a de Mogli (o menino lobo, lembram?) voltando para sua terra de conto de fadas para espionar o que está acontecendo depois da derrota do adversário. É a estória com melhor estrutura desse volume e merece muito ser lida. 


O próximo volume é um crossover entre essa série, a série spin-off Jack of Fables (nem de longe tão boa quanto a original) e uma minissérie curtíssima chamada The Literals. Já a tenho por aqui e pretendo em breve fazer meus comentários, juntamente com o primeiro arco do segundo spin-off, focado na Cinderela. 


Nota: 7 de 10

Crítica de videogame: Call of Duty 4: Modern Warfare

Modern Warfare 2 foi lançado em novembro de 2009 e muito em breve receberá um pacote de expansão. Aí vem a pergunta: e por que raios, então, você está escrevendo sobre o primeiro Modern Warfare, um jogo "antigo", de 2007?

A resposta é simples: eu não jogo videogames o tempo todo e estou realmente super atrasado em relação aos grandes lançamentos. Poderia ter jogado a parte 2 sem jogar a primeira mas tenho algum problema compulsivo qualquer que me impede de fazer isso. Assim, parti para Call of Duty 4: Modern Warfare.

Ah, e vale deixar algo bem claro. Apesar desse ser o quarto Call of Duty, como o nome deixa evidente, nunca nem joguei os outros três mas sei que se passam na Segunda Guerra Mundial. Resolvi, simplesmente, partir para as guerras modernas logo de uma vez, já que não tem muito tempo, joguei dois FPS desse período: Resistance: Fall of Man e Resistance 2.

Bom, CoD 4 é um jogo bem curto mas muito feroz. Você fica uns 2 minutos treinando e, depois, já é largado em missões interessantes, no Oriente Médio, na pele ora de um soldado das forças britânicas (S.A.S.), ora de um soldado americano (U.S. Marines). Esse revezamento é bacana e permite o uso de armas diferentes o tempo todo, de uma simples pistola até um lança mísseis anti-tanque que é sensacional. As missões têm um objetivo muito simples: botar abaixo uma célula terrorista comandada por um bandidão bem estereotipado.

O bacana do jogo é que ele tenta ser o mais realista possível em termos de combate. Não tem medidor de saúde mas sim uma vermelhidão cada vez mais constante na tela até você morrer (algo que teimava acontecer comigo a cada 3 ou 4 minutos). É claro que, de forma pouco realista, se ficar muito vermelho e você se esconder, sua saúde é restaurada. Mas isso é um videogame, não a vida real, ainda que, em determinadas missões, a coisa tenha sido tão intensa que deu para sentir um milionésimo de um micron do que esses combates podem ser.

Intenso é a palavra de ordem nesse jogo. Em campo, você tem que se abaixar - rastejar mesmo - para não ser morto em segundos pelas forças inimigas. E olha que eu jogo no modo normal apenas... Um tiro bem dado, nesse jogo, vai te matar, não interessa o quanto de saúde você tenha. Da mesma forma, porém, um tiro seu bem planejado, faz um bom estrago nas linhas inimigas. Sair correndo atirando, nesse jogo, é suicídio, com uma exceção, que tratarei mais à frente.

De forma bastante fluida e com uma estória simples de acompanhar, o jogo nos coloca também sob o comando de veículos, ou melhor, de armas de veículos, como metralhadoras montadas em jipes e armas enormes montadas em um Hércules C-130. Falando no C-130, a visão que temos é termal em preto-e-branco, lá de cima, e podemos ficar trocando entre três tipos de calibres, desde um "pequeno" calibre para tiros mais precisos até um enorme calibre para dizimar áreas e casas inteiras. Essa missão dá vontade de jogar sem parar de tão divertida que é (é a única que não dá para morrer e com munição infinita).

Em determinado momento, e de modo muito original, passamos a jogar em um flashback, como a versão mais jovem do capitão de nossa unidade da S.A.S. em uma absolutamente empolgante missão stealth, daquelas que você tem que ser invisível e utilizar rifles de longo alcance em posições de sniper. Em determinado momento, temos que acertar um alvo a quase 1 km de distância levando em consideração o vento e o efeito coriólis (rotação da Terra). Depois de cumprir a missão, o mundo basicamente desaba sobre você e, nesse momento, depois de morrer literalmente dezenas de vezes tentando escapar de forma estudada, calma e inteligente, resolvi largar tudo e sair correndo que nem um covarde histérico. Deu certo. Escapei ileso. Não me senti lá muito heróico mas paciência...

O jogo é sensacional e mal posso esperar para jogar a parte 2. Só tem um defeito: é curto demais. Quando as coisas estão esquentando, o jogo acaba mas acaba de maneira muito original e os programadores ainda nos brindam com uma missão bem curta mas muito bacana após os créditos. Um grande jogo e uma enorme diversão adulta.

Nota: 9,5 de 10

Club du Film - 5.35 - Les Enfants du Paradis (O Boulevard do Crime)

O Club du Film (mais sobre ele ao final desse post) completou 4 anos de existência no dia 29.12.2009, quando assistimos Rouge (A Fraternidade é Vermelha), o terceiro filme da Trilogia das Cores do diretor polonês Krzysztof Kieslowski.  Rouge foi, na verdade, o primeiro filme do 5º ano. Mas consideramos toda a trilogia como uma sessão apenas, para não fazer muita confusão na contagem de filmes. Assim, Les Enfants du Paradis (O Boulevard do Crime) foi o terceiro filme do 5º ano e o segundo do ano de 2010, pois o assistimos no dia 12.01.10.

Trata-se de um impressionante filme francês de 1994/1995, dirigido por Marcel Carné, quando a França ainda estava ocupada e a Europa tomada pelo caos da Segunda Guerra Mundial. Assistindo ao filme, não percebemos a importância dessa obra que nada fala da guerra, de nazistas, judeus ou coisas do gênero. Quando acabamos de ver, todos nós imediatamente demos nossas notas que, conforme as "regras" do Club du Film, não podem ser mudadas depois. No entanto, pela primeira fomos unânimes em concluir que fomos injustos com o filme e que ele mereceria uma nota ainda mais alta.

E por quê, vocês hão de perguntar. Para começar, o filme foi feito debaixo dos auspícios e com autorização dos nazistas, debaixo da administração Vichy na França, que impunha um limite de 90 minutos de duração para as produções cinematográficas. Les Enfants du Paradis, porém, tem 190, sendo lançado em duas partes auto-contidas, O Boulevard do Crime e O Homem de Branco. Juntas, as obras formam Les Enfants du Paradis e um dos filmes franceses mais importantes até hoje. 

A estória se passa pelos idos de 1830 em plena cena teatral francesa e o filme foca em Garance (vivida pela atriz Arletty), uma cortesã (nome chique para prostituta) e os quatro homens que se apaixonam por ela: Baptiste Debureau (vivido por Jean-Louis Barrault), um mímico; Frederick Lemaître (Pierre Brasseur), um ator; Lacenaire (Marcel Herrand), um ladrão e o Conde de Montray (Louis Salou), um aristocrata. Cada um tem sua personalidade.

Os dois atores competem não só por Garance mas, de certa forma, também na profissão. Baptiste é o sensível, o ator alternativo. Frederick é o ator que almeja ser o melhor, talvez até encenando uma peça de Shakespeare. O embate entre os dois é a gasolina que incendeia o filme e nos permite ver por longos minutos diversas das atuações dos dois ao longo dos anos em que esse filme se passa.  Nesse momento é que nos é explicada a razão do nome do filme o do primeiro "ato". Paraíso é o nome coloquial para o balcão dos teatros onde os homens comuns, humildes, reagiam de forma honesta ao que assistiam. Era para eles que os atores atuavam e esperavam os aplausos, não da aristocracia logo à frente e nos camarotes. Da mesma, Boulevard do Crime não faz referência a um local de criminosos mas sim ao fato de que muitas peças com crimes eram encenadas naquela rua. Esse ambiente e a relação entre atores e platéia é fascinante e toma um considerável tempo das duas partes do filme.

Lacenaire é uma espécie de Han Solo, um malandro que faz qualquer coisa para conseguir Garance e dinheiro, não exatamente nessa ordem. Ele serve como uma espécie de fio condutor da estória e de uma contra-partida ao Conde de Montray, o aristocrata que literalmente compra a fidelidade de Garance, para o desespero de todos.

As cenas de multidão nesse filme, notadamente a bela cena final, se tornam ainda mais impressionantes quando lembramos quando e sob que condições o filme foi feito. Marcel Carné devia ter sido um gênio da manobra política para ter conseguido colocar no celulóide cenas tão impressionantes. Reza a estória que ele teve que colocar lado-a-lado atores e extras judeus com atores e extras alemãs, tudo para conseguir fazer sua obra funcionar. Isso, por si só, é um feito digno de nota. Mas ele ainda conseguiu criar um filme com uma estória envolvente, personagens cativantes e cenas inesquecíveis como a memorável cena em que Baptiste nos é apresentado em pleno palco de rua, revelando um pequeno furto para a polícia sem dizer uma palavra. Simplesmente brilhante!

Garance é uma estória à parte. Normalmente, quando imaginamos uma cortesã  capaz de enlouquecer quatro homens ao mesmo tempo, pensamos em um estonteante e jovem atriz. No entanto, Arletty (nome artístico de Léonie Bathiat), em 1944, já tinha 46 anos. Não era um senhora idosa, longe disso, mas no imaginário de todos, é uma idade, digamos, avançada para todo esse magnetismo sexual que em tese transpiraria dela. Ainda por cima, não se pode dizer que Arletty era exatamente bela. O que fica para nós imaginarmos é que o atrativo dela venha exatamente de sua idade, de sua experiência. O que será que ela já não viu por aí, devia ser a pergunta quicando na cabeça de seus quatro pretendentes. De toda forma, Arletty já um show de sofisticação e de sutileza de atuação. É muito difícil, apenas olhando para ela, compreender exatamente seus sentimentos e esse mistério apenas contribui para o filme.

Em suma, Les Enfants du Paradis é uma obra imperdível que certamente merece notas muito mais altas do que demos abaixo. Portanto, aqueles que lerem essas palavras e não tiverem visto o filme, por favor trate de achá-lo e de assistí-lo já.


Sobre o Club du Film:

Há pouco mais de quatro anos, no dia 28 de dezembro de 2005, eu e alguns amigos decidimos assistir, semanalmente, grandes clássicos do cinema mundial. Esse encontro ficou jocosamente conhecido como "Club du Film". Como guia, buscamos o livro The Great Movies do famoso crítico de cinema norte-americano Roger Ebert, editado em 2003. Começamos com Raging Bull e acabamos de assistir a todos os filmes listados no livro (uns 117 no total) no dia 18.12.2008. Em 29.12.2008, iniciamos a lista contida no livro The Great Movies II do mesmo autor, editado em 2006. São mais 102 filmes. Dessa vez, porém, tentarei fazer um post para cada filme que assistirmos, com meus comentários e notas de cada membro do grupo.


Notas:

Minha: 7,5 de 10
Klaatu: 5 de 10
Barada: 6 de 10
Nikto: 6,5 de 10
Gort: 6 de 10

domingo, 14 de março de 2010

Crítica de filme: Alice in Wonderland (Alice no País das Maravilhas)


A mais nova criação de Tim Burton, Alice in Wonderland, foi lançada nos cinemas norte-americanos há duas semanas e vem se mostrando um estrondoso sucesso. Já soma mais de 200 milhões do dólares nos EUA o dobro disso mundialmente. No Brasil, o filme estréia dia 23 de abril mas eu tive a oportunidade de assistí-lo nos Estados Unidos.

Alice foi filmado para ser um filme comum, em 2D. No entanto, com o sucesso impressionante de Avatar, ele e mais vários outros filmes (como o vindouro Fúria de Titãs) foram convertidos em pós-produção para o 3D e lançado das duas maneiras. Não é, certamente, o melhor uso da tecnologia e tenho lido várias reclamações sobre a qualidade da conversão de Alice. Assim, não tive dúvidas ao pedir um ingresso para a sessão 2D, ou seja, para ver o filme da forma como Tim Burton originalmente o imaginou.

O filme é baseado nos livros de Lewis Carroll mas não é uma transposição para as telas do que ele escreveu. Ele funciona muito mais como uma  espécie de continuação direta do famoso desenho da Disney de mesmo nome, de 1951. A linguagem visual do filme se compara em muito à linguagem visual do amalucado e bem bacana desenho da Disney. Nós encontramos Alice (a surreal Mia Wasikowska) já crescida, com 19 anos, mas ainda sonhadora. Ela está prestes a ser pedida em casamento de surpresa, perante toda a realeza inglesa. Ela descobre o "segredo" e foge perseguindo o Coelho Branco e acaba, mais uma vez, chegando ao País das Maravilhas que ela, porém, não se lembra de já ter visitado. Lá, ela começa a se envolver com os personagens de sua primeira aventura e tem que lutar contra a Rainha Vermelha ao lado da Rainha Branca.

Mas, claro, apesar de não haver um distanciamento muito grande entre a linguagem visual do desenho e o filme, o toque de Tim Burton está presente. As bizarras criaturas criadas por Carroll e eficientemente transpostas para a tela pela própria Disney em 1951, ganharam contornos ainda mais interessantes. Não há nada no filme, em termos puramente visuais, que não vá agradar aos fãs de Tim Burton. A Rainha Branca (Anne Hathaway) é a caricatura de uma garota mimada. A Rainha de Copas (ou Rainha Vermelha) é um deleite de maldade exagerada. Helena Bonham Carter, que faz a rainha (famosa pelo "cortem-lhe a cabeça!") foi transformada por Tim Burton em um enorme cabeção ambulante, preso em um corpo de anão. Singular! Crispin Glover está excelente e quase que irreconhecível como o estranhíssimo Valete de Copas (Knave of Hearts). Alan Rickman empresta sua voz à Lagarta Azul (Blue Caterpillar), maravilhosamente recriada nesse filme. O mesmo acontece com o Coelho Branco (Michael Sheen), Dormouse (Barbara Windsor) e Tweedledee/Tweedledum (Matt Lucas).

Mas os grandes destaques em termos de personagens são mesmo o Cheshire Cat (Stephen Fry), um fantamagórico gato que sorri, desaparece e voa e, claro, o Chapeleiro Maluco (Johnny Depp). Tenho para mim, na verdade, que a grande motivação para se fazer esse filme foi Depp no papel do completamente doido Chapeleiro Maluco e Burton não economizou em sua caracterização e sua presença (bem constante) na estória. Não seria demais concluir que o Chapeleiro é o principal do filme, sendo Alice apenas uma desculpa para trazê-lo à tela grande mais uma vez. Enquanto que, no desenho de 1951, o Chapeleiro tem apenas um relativamente breve mas memorável cena, na recriação de Burton ele é onipresente. Desde quando Alice e o Coelho Branco o encontram na cabeceira da famosa mesa de chá, até quando ele luta ao lado dos heróis, Depp é um show. Ele conseguiu, de forma muito eficiente, misturar aquela voz engrolada que é a marca registrada de Jack Sparrow na série Piratas do Caribe com sua caracterização de personagens bizarros como Ed Wood, Ichabod Crane (Sleepy Hollow) e Sweeney Todd.

E a festa visual não acaba por aí. O exército da Rainha Vermelha, como todo mundo sabe, é formado por cartas ambulantes, que carregam lanças. Sem ser exatamente uma cópia do desenho de 1951, Burton conseguiu ser muito original na recriação. A batalha desses soldados com os da Rainha Branca, que são peças de xadrez, é sensacional, tudo, claro, dentro do estilo Burton de ser.

Não poderia deixar de dizer que há uma espécie de fixação de Burton com olhos. Desde a maquiagem meio "morta-viva" de Alice, com destaque aos seus olhos fantasmagóricos, passando pela espetada no olho da monstruosidade "canina" da Rainha Vermelha e terminando nos enlouquecedores olhos (que efeito brilhante!) do Chapeleiro, o tema "visão", de forma bastante torcida e corrompida, está presente a todo momento nesse filme.

Mas o filme tem defeitos que não permitem que ele seja alçado ao panteão de um dos melhores filmes de Burton. Para começar, os personagens, incluindo Alice, são muito mal desenvolvidos. São personagens em regra muito unidimensionais, bons ou maus, feios ou bonitos, tristes ou felizes. Não há meio termo, não há uma construção cuidadosa de suas personalidades. Isso acaba nos levando a não se preocupar verdadeiramente por eles, a não torcer para que escapem ou seja derrotados. A frieza impera e esse foi o maior erro de Burton. E é estranho que isso aconteça em Alice pois Burton nos fez sentir pelos mais variados e estranhos personagens, inclusive o assassino Sweeney Todd. Houve um distanciamento inexplicável do diretor em Alice, algo que não é ditado por eventuais exigências da estória.

O outro grande problema de Alice é o final. Sem estragar eventuais surpresas (ainda que elas sejam escassas ou, na verdade, inexistentes), Linda Woolverton (a roteirista) criou um fiz apressado, que não combina efetivamente com a estória. Ainda que seja uma estória de amadurecimento - isso fica claro - o final revela uma habilidade em Alice que não decorre naturalmente de tudo que aconteceu nos 100 minutos imediatamente anteriores. Fica parecendo uma enganação, uma vontade de dar um fim bacana a uma estória que não pede exatamente isso. Fora a situação fática que algo como o que acontece ao fim simplesmente não aconteceria na vida real da Inglaterra no século XIX.

O filme merece ser visto? Sem dúvida alguma e, pelo festival visual, até mais de uma vez (pelo menos por quem aprecia o estilo do diretor). No entanto, Alice não é o grande filme que eu esperava.

Nota: 7,5 de 10

segunda-feira, 8 de março de 2010

Oscar 2010 - ganhadores e comentários

Acabou de acabar a 82ª cerimônia de entrega do Oscar. Foi a noite de The Hurt Locker.

Dos 24 prêmios, previ corretamente 17 (minhas previsões estão marcadas com um asterisco). Nada mal.

Houve uma homenagem póstuma a John Hughes (falecido prematuramente em 2009), diretor de clássicos como Ferris Bueller's Day Off e Esqueceram de Mim. Bacana a homenagem e acho que inédita no Oscar. Não entendi o porquê de depois a Demi Moore apresentar James Taylor em homenagem aos demais falecidos. E esqueceram Farah Fawcett na lista!

O ruim dessa cerimônia foi a quantidade de apresentador jovem que colocaram. Fica ridículo colocar gente como o Lobisomem de Twilight entregando prêmios importantes.

Steve Martin e Alec Baldwin até que fizeram uma boa apresentação (no pouco que apareceram). A piada com Christoph Waltz no começo, sobre a caçada aos judeus e indicando que era só caçar os membros da Academia, foi excelente.

O "placar" ficou assim:

The Hurt Locker - 6 
Avatar - 3
Precious - 2
Up - 2
Crazy Heart - 2
Inglourious Basterds - 1
Star Trek - 1
The Young Victoria - 1
The Blind Side -1

Indiquei os ganhadores em negrito e fiz meus comentários ao fim da categoria.

Filme


A Academia premiou o filme pequeno, independente. Mas esqueceram Tarantino novamente!

Ator

Jeff Bridges por Crazy Heart (Coração Louco) *
Colin Firth por A Single Man (Direito de Amar) **
Morgan Freeman por Invictus

Na quinta indicação, Jeff Bridges finalmente ganhou o prêmio. Muito merecido não só por esse filme mas também pelo conjunto da obra (ainda preferia Colin Firth mas Bridges realmente tinha que ganhar). E foi aplaudido de pé! Bacana também trazerem cinco atores com quem os indicados contracenaram para cada um falar sobre seu respectivo colega.

Atriz 

Sandra Bullock por The Blind Side (Um Sonho Possível) *  **
Helen Mirren por The Last Station
Carey Mulligan por An Education (Educação)
Meryl Streep por Julie & Julia

Bom, o que eu queria mesmo era que Meryl Streep não ganhasse. 

Ator Coadjuvante

Matt Damon por Invictus
Woody Harrelson por The Messenger (O Mensageiro)
Christopher Plummer por The Last Station
Stanley Tucci por The Lovely Bones (Um Olhar do Paraíso)
Christoph Waltz por Inglourious Basterds (Bastardos Inglórios) *  **

Essa era a certeza absoluta da noite. E o Oscar é efetivamente merecido. O cara é brilhante até agradecendo!

Atriz Coadjuvante

Penélope Cruz por Nine
Maggie Gyllenhaal por Crazy Heart (Coração Louco)

Era a favorita desde o começo e, de fato, que atuação! Mo'Nique é comediante e conseguiu fazer uma das maiores vilãs do cinema.

Direção

Kathryn Bigelow por The Hurt Locker (Guerra ao Terror) *
James Cameron por Avatar

É, foi, definitivamente, a noite de Hurt Locker. Mais uma vez, jogaram Tarantino para escanteio.

Roteiro original

The Messenger (O Mensageiro)

Para mim foi uma surpresa Hurt Locker ganhar. Não é merecido. O filme tem defeitos em termos de narrativa como, por exemplo, o fato de personagens diferentes serem introduzidos apenas para morrerem. Os Bastardos deveriam ter sido vitoriosos. 

Roteiro adaptado


Outra surpresa em roteiro. O favorito Up in the Air deu lugar a Precious. 

Fotografia


Era de se esperar a vitória de Avatar mas A Fita Branca tem a melhor fotografia de 2009, sem dúvida alguma.

Edição

Avatar *  **

Hurt Locker leva mais um prêmio técnico que todos achavam que ia para Avatar.

Direção de Arte

The Imaginarium of Doctor Parnassus (O Imaginário do Dr. Parnassus) **
The Young Victoria

Era de se esperar mesmo esse prêmio.

Figurino

Bright Star
The Imaginarium of Doctor Parnassus (O Imaginário do Dr. Parnassus) **
The Young Victoria

Não vi Young Victoria. Pena que Imaginarium acabou ficando sem prêmio algum.

Maquiagem

Il divo
Star Trek *  ** 
The Young Victoria

A maquiagem em Star Trek é tão mínima que nem entendi a indicação. Mas, já que o filme fez sucesso, levou o prêmio.

Trilha Sonora


Boa trilha mas eu não consigo comprá-la em CD!

Canção original

Crazy Heart (Coração Louco): "The Weary Kind" *  **
Faubourg 36 (Paris 36): "Loin de Paname"
Nine: "Take It All"

De fato, The Weary Kind é a melhor música de todas, apesar de eu não gostar muito de country. Nenhuma surpresa aqui.

Mixagem de Som

Avatar *  **

Pensei que todos os prêmios técnicos iriam para Avatar. Acho que errei...

Edição de Som

Avatar *  **

Outro prêmio técnico para Hurt Locker. Sinceramente, Avatar deveria ter levado.

Efeitos Visuais

Avatar *  **

Não tinha para ninguém aqui...

Filme Animado


Outra barbada, assim como no caso de ator coadjuvante. Afinal de contas, um desenho que concorre na categoria de Melhor Filme nunca poderia deixar de ganhar na categoria de Melhor Filme Animado. Prêmio absolutamente merecido.

Filme estrangeiro

Ajami (Israel)
El secreto de sus ojos (O Segredo de seus Olhos) (Argentina)
Un prophète (Um Profeta) (França)

Por essa ninguém esperava. Foi realmente surpresa. Mais uma razão para correr atrás desse filme agora.

Documentário Longa Metragem

Burma VJ: Reporter i et lukket land
The Cove *  
Food, Inc.
The Most Dangerous Man in America: Daniel Ellsberg and the Pentagon Papers
Which Way Home

The Cove era mesmo o favorito e, com sua mensagem ecológica (caça de golfinhos) tinha realmente todas as chances de ganhar.

Documentário Curta Metragem

China's Unnatural Disaster: The Tears of Sichuan Province
The Last Campaign of Governor Booth Gardner
The Last Truck: Closing of a GM Plant
Królik po berlinsku
Music by Prudence *

Curta Metragem - Animação

French Roast
Granny O'Grimm's Sleeping Beauty
La dama y la muerte
Logorama *
Wallace and Gromit in 'A Matter of Loaf and Death'

Já queria muito ver esse curta, agora estou desesperado!

Curta Metragem

The Door *
Istället för abrakadabra
Kavi
Miracle Fish
The New Tenants