quinta-feira, 4 de março de 2010

Crítica de filme: Das Weisse Band (A Fita Branca ou The White Ribbon)

A Fita Branca é, no momento, o filme favorito para abocanhar o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Concorre, também, na categoria de Melhor Fotografia. Trata-se de um filme alemão dirigido pelo austríaco Michael Haneke dos dois Funny Games e de Caché.

Quem estiver esperando um filme com começo, meio e fim completos, com resolução lógica, no estilo hollywoodiano, pode esquecer. Aqueles que precisam de explicações detalhadas de tudo o que acontece em um filme devem ficar em casa ou procurar coisas óbvias como Um Sonho Possível (que estréia dia 19/03). Como mencionei, A Fita Branca é um filme europeu, bem europeu e, ainda por cima, dirigido por Michael Haneke que não é lá muito chegado a mastigar as coisas para a platéia como é regra em filmes dos Estados Unidos.

Acabei a sessão e a sensação foi ótima. Como Haneke optou por não usar música nos créditos, ficou aquele silêncio na sala, com alguns comentários do tipo "o que raios aconteceu?" ou "é só isso? ou, pior, "mas quem cometeu os crimes?".

A Fita Branca nos apresenta a um vilarejo minúsculo no norte da Alemanha pouco antes da Primeira Guerra Mundial. Estranhos acontecimentos se sucedem, começando com um acidente em que um cavalo com um médico em cima, tropeça em um misterioso fio esticado no meio do campo. Quem colocou o fio lá? Era uma armadilha? Outros intrigantes problemas vão ocorrendo mas um faz a população esquecer do anterior, surgindo alguma desconfiança de um padrão muito tempo depois, quando a guerra está batendo às portas do povoado.

Não se procura estabelecer um culpado mas sim tenta-se tratar da origem do mal que se avizinha, o Holocausto. Haneke não perdoa o povo alemão e apresenta a todos com sérios desvios de caráter. E quando digo todos, são todos mesmo, das crianças aos adultos, cada um com seus segredos e pecados. Nem mesmo o narrador do filme, um professor de 31 anos que se apaixona por uma garota de outro vilarejo, escapa incólume da estória costurada pelo diretor (que também escreveu o filme).

Não se fala de preconceito a judeus mas a presença do mal é palpável em todos os momentos e logo na narrativa inicial, há menção ao futuro próximo, quando as crianças que nos são apresentadas, todas reprimidas pela sociedade que as cerca, serão os adultos que ajudarão a construir (ou destruir) a História entre o final da década de 30 e o meio da década de 40.

O filme, nesse sentido, é de arrepiar os cabelos. A fita branca do título é o símbolo que um pastor utiliza para castrar psicologicamente seus dois filhos mais velhos. No entanto, ele mesmo, ao ser confrontado, mais ao final, sobre uma possível versão dos fatos, trata de reagir furiosamente, usando de tudo para esconder a possível verdade.

A fotografia é outro ponto alto desse filme e eu não me surpreenderia se ele levasse esse Oscar também. Para começar, Haneke elegeu filmar em preto e branco e eu sou extremamente parcial sobre o preto e branco. Para mim, é difícil uma fotografia assim sair ruim e Haneke se esmera, explorando muito bem o contraste entre o claro e o escuro, entre os interiores e os exteriores, entre a pureza e a maldade. Mas existe toda uma paleta de cinza entre os dois extremos que também é muito bem invocada pelo diretor. Vale especial destaque aos campos abertos com vegetação semi rasteira. São de cair o queixo de tão belos.

Mas aqui, assim como em vários outros filmes recentes, há um pecado mortal: a repetição ad nauseam de temas e o consequente alongamento do filme. São 144 minutos de filme que poderiam ser reduzidos. Haneke nos traz exemplos demais das maldades humanas, ao ponto de nos fazer dizer "ok, ok, já entendi, conclua logo isso". Mesmo a belíssima cena final em uma igreja quase que invocando uma parada do Terceiro Reich vem tarde demais, tornando-a menos efetiva do que poderia ser.

E vou encerrar meus comentários com as pontas soltas que Haneke deixa por todo o filme. Pelo que entendi, Haneke tenta explicar, racionalizar mesmo algo que em princípio é inexplicável ou, então, que está tão enraizado na mente coletiva de um povo, que faz parte de sua assinatura. No entanto, nada justifica não amarrar absolutamente nada, a não ser a vontade de deixar todo mundo com um ponto de interrogação sobre a cabeça. Fica evidente que não é um filme policial em que o culpado, o motivo e a arma têm que ser achados. Porém, personagens entram e saem sem explicação alguma de seu paradeiro e mesmo a relação amorosa principal fica no ar ao final. Achei um pouco demais, sem um verdadeiro propósito dentro do propósito do filme.

A Fita Branca é um filme provocativo, que faz pensar mas algumas equações poderiam ter sido resolvidas e em menos tempo.

Nota: 8 de 10

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