sábado, 29 de maio de 2010

Crítica de filme: Kick-Ass (Kick-Ass: Quebrando Tudo)

Com a promessa de que Kick-Ass estreará no Brasil no dia 11 de junho e sabendo que não estarei aqui nesse dia e na semana seguinte, resolvi me virar para ver o filme na minha mais recente viagem aos EUA. Encontrei uma sessão apenas em um cinema na cidade que estava mas foi o suficiente.

Para quem não sabe, Kick-Ass é um filme baseado em quadrinhos do mesmo nome, comentados aqui, e conta a estória de um adolescente completamente normal, leitor de quadrinhos (ok, não tão normal assim então...) que resolve, da noite para o dia, por puro tédio, vestir uma roupa de mergulho verde e amarela e sair por aí ajudando terceiros. Nos quadrinhos, criados por Mark Millar, o cara "do momento" nessa indústria, tudo que é politicamente incorreto acontece, especialmente com o foco quase que integralmente mudando para Hit Girl, uma garota de 9 anos que sabe empunhar as armas mais letais com a mesma agilidade que uma menina da mesma idade brinca de Barbie.

O filme mantém a mesma premissa, até mesmo quando começa a dar atenção à menina. As cenas de ação com ela são memoráveis. A atriz, Chloe Moretz (de 500 Days of Summer) é um achado em termos de "coolness" e de caretas. Os diálogos dela, repletos de palavrões que fariam Tarantino chorar, são impagáveis e os pontos altos do filme. Kick-Ass, o herói, é vivido de forma bem competente pelo "cara de nerd" Aaron Johnson e Red Mist, seu "Robin", é vivido de forma hilária por Christopher Mintz-Plasse.

Os adultos, porém, não ficam muito atrás. O já sagrado como vilão, Mark Strong (afinal, o cara fez os vilões em  Sherlock Holmes e Robin Hood), está ótimo como  o chefão da máfia Frank D'Amico. Nicolas Cage, depois do fraco Motoqueiro Fantasma, finalmente faz um herói à altura como Big Daddy.

Eu não sou um desses caras que fica reclamando que a adaptação cinematográfica de alguma obra que gostei tem que ser literal. Ao contrário. Sou defensor que cada meio de comunicação tem a sua própria fórmula para funcionar e que um livro jamais poderia ser transposto da maneira como foi escrito para as telas. A mesma coisa  acontece com os quadrinhos pois adaptações muito literais ficariam ridículas na tela grande. Imaginem, por exemplo, se o Homem-Aranha tivesse lançadores de teia artificiais ou se os X-Men aparecessem fantasiados com aquelas roupas coloridas? Tudo tem que ser mudado, inclusive passagens inteiras das estórias, apenas para permitir a maior fluidez do filme, permitindo que a "suspensão da descrença" funcione.

No entanto, em Kick-Ass, são exatamente essas alterações que impedem que o filme seja classificado como muito bom. Ainda que as cenas de luta protagonizadas por Hit Girl e Big Dadday sejam irretocáveis e que a caracterização de Kick-Ass e de Red Mist sejam muito boas, o roteiro foi alterado de forma a tornar o filme mais palatável em termos hollywoodianos.

Por exemplo, nos quadrinhos, a "origem" de Big Daddy é demonstrada como uma grande farsa, tornando-o um personagem muito mais próximo de Kick-Ass do que ele parece ser em um primeiro momento. Isso gera uma humanização impressionante do personagem, algo que não vemos no filme, já que sua origem, também modificada, o sagra como uma verdadeiro Batman. Isso simplesmente não é compatível com o tema desse filme pois o próprio Kick-Ass brinca com isso no começo, ao mostrar que os heróis não precisam de eventos dramáticos para surgirem.

Em outro ponto, mais para o final, uma tal "arma secreta" de Big Daddy e Hit Girl, que somente é mostrada pela reação no rosto das pessoas que a vêem, é utilizada por Kick-Ass. Desculpe, minha gente, mas não contive a gargalhada. E não foi uma gargalhada no sentido bom da palavra e sim no sentido de "que coisa mais pateticamente ridícula". O aparelho é tão extravagante (apesar de, em tese, possível) que retira toda a "suspensão da descrença" que o filme exigia. Ele nos faz ver que o filme é um filme de super-heróis, não muito diferente de Batman. Não que isso seja ruim mas certamente não era a proposta de Mark Millar quando escreveu os quadrinhos. Outro ponto problemático é a mudança na natureza mais ou menos pacífica de Kick-Ass. Usando a tal "arma secreta", ele comete atos que não condizem com sua natureza, mesmo após de tudo que ele passa. E isso sem falar no que acontece entre o garoto e sua suposta namorada na escola. Água com açúcar é pouco...

O filme deveria ter sido modificado em relação aos quadrinhos? Certamente. Há momentos que exigiram fortes adaptações. O que foi feito ficou direito? A resposta é um categórico não. O poder dos quadrinhos foi completamente diluído pelo roteiro desastrado de Matthew Vaughn, que também dirige o filme. A direção, aliás, é bem firme e nã tira o mérito do cara que, afinal de contas, vai dirigir X-Men: First Class em futuro próximo. No entanto, por favor, afastem-no dos roteiros...

No final das contas, Kick-Ass vale por seus 40 minutos iniciais que conta a origem do personagem título e por todas as sensacionais cenas de luta com Hit Girl. Esses pontos até, de certa forma, me fazem perdoar um pouco os tropeços do roteiros já que eu sei que quero ver a menina ceifar vidas mais algumas vezes em um futuro Blu-Ray (vocês podem reparar o quanto gostei dela pela escolha do poster acima).

Nota: 7 de 10

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