domingo, 25 de julho de 2010

Crítica de quadrinhos: The Walking Dead 1 a 66 (Os Mortos Vivos 1 a 66)


Eu conheci o trabalho de Robert Kirkman, escritor de quadrinhos, quando fui apresentado à divertida série Marvel Zombies, de 2005, em que todos os heróis Marvel se transformam em zumbis. Apenas li a primeira série e a que faz um crossover com Army of Darkness, em que Ash, da trilogia Evil Dead, enfrenta os super-poderosos zumbis comedores de cérebros.


Esse ano, tendo ouvido falar bastante de The Walking Dead, comecei a pensar em comprar as revistas mas um fator que me atrasou um pouco foi a quantidade de volumes que já haviam sido lançados, já que é uma série mensal em preto-e-branco, da Image Comics, que começou em 2003. Mas foi aí que dei de cara com um compêndio de nada menos do que 1088 páginas por um preço ridículo. Claro que comprei na hora, para em seguida me arrepender de ter que carregar aquele calhamaço pesado na mala...

Esse compêndio reunia 48 números da revistas mensal e, apesar do tamanho, li vorazmente. Kirkman, pegando a deixa dos clássicos filmes de George A. Romero, criador do gênero, inventa um universo em que o mundo, basicamente da noite para o dia, foi transformado em lentos zumbis comedores dos poucos sobreviventes humanos. Nosso herói, o policial Rick Grimes, acorda de um coma em um hospital vazio, em uma cidade vazia e não entende nada que está acontecendo. Essa é a exata premissa do ótimo filme 28 Days Later, dirigido por Danny Boyle em 2002. Fica claro que Kirkman pegou emprestado essa premissa mas, a partir daí, construiu uma obra bem diferente, muito mais visceral.

É normal esperar de uma revista em quadrinhos mensal grandes altos e baixos em termos de roteiro e uma troca incessantes de escritores. The Walking Dead, no entanto, não é uma revista em quadrinhos normal. Kirkman escreveu do primeiro ao mais recente número (a série teve seu 75º número lançado semana passada) mantendo coesão na estória.


Para quem não leu, não vou estragar nada pode deixar, mas a estória se desenvolve em um ritmo alucinado, com a introdução de personagens de maneira constante e crível. Como quase todo material que lida com zumbis, Kirkman procurou fazer uma alegoria sobre a raça humana, mostrando o que aconteceria se uns poucos  humanos restassem depois de um cataclisma. Kirkman, porém, tenta fugir um pouco da crítica ao consumismo, comum nos filmes de Romero e ataca mais a natureza humana. Em seus quadrinhos, o maior problema de Rick Grimes e seu grupo de sobreviventes não é o fato de estarem todo tempo cercados de zumbis mas sim a reação dos seres humanos ao seu redor. Os maiores horrores são causados por outros sobreviventes, mostrando que somos nós os verdadeiros monstros.

E Robert Kirkman não deixa pedra sobre pedra. Ele nos brinda com situações envolvendo de vilões de clichê até criancinhas que ficam completamente insensíveis às mortes ao redor. E ele não deixa a peteca cair. Quando a situação está estabelecida e uma aparência de calma baixa sobre os personagens, Kirkman cria novas situações piores que as anteriores, para testar a força de seus personagens.

E, aliás, como são seus personagens? Grimes é o protótipo do líder relutante. Um policial honesto que, de repente, tem que lidar com situações indizíveis. Ao encontrar o primeiro grupo de sobreviventes, suas atuações acabam colocando-o como um verdadeiro guia, a quem todos vão perguntar o que fazer. No entanto, cada personagem tem personalidade própria, que é tratada em detalhes. Nós, leitores, somos levados a conhecer cada um dos componentes do grupo de Grimes e, obviamente, nos apegamos a alguns mas do que a outros.

Mas é aí que a serra elétrica de Kirkman entra e saculeja o status quo. Descobrimos, logo de início, que nenhum personagem - nenhum mesmo - é tão importante que não possa morrer, ser mutilado, abusado ou enlouquecer, dentre outras possibilidades. Kirkman nos choca com uma estória contínua de horror em que tudo que sabemos sobre a estória pode mudar de uma página para outra.

Essa série tão impressionante, que dos 75 números eu já li 66, será transformada em seriado de televisão em outubro próximo, pelas mãos de Frank Darabont, o excelente diretor que nos trouxe Um Sonho de Liberdade, À Espera de um Milagre e O Nevoeiro e Gale Anne Hurd, a super-produtora responsável pela franquia Exterminador do Futuro e pelos filmes Alien Nation, Tremors e O Segredo do Abismo. Será uma série da AMC, a mesma responsável pelo excelente seriado Mad Men. Posso estar enganado mas tenho para mim que o futuro de The Walking Dead na telinha será brilhante (vejam foto promocional da série logo abaixo).


Nota: 10 de 10

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