domingo, 12 de setembro de 2010

Club du Film - 5.51 - Picnic at Hanging Rock (Piquenique na Montanha Misteriosa)

Piquenique na Montanha Misteriosa é um filme australiano de 1975, dirigido por Peter Weir (que nos trouxe excelentes Gallipoli, O Ano em que Vivemos Perigosamente, A Testemunha, A Sociedade dos Poetas Mortos,  O Show de Truman e Mestre dos Mares) e foi visto pelo Club du Film (mais sobre o Club ao final do post) em 20.07.10.


"Piquenique" foi o primeiro grande sucesso australiano e o filme que revelou Peter Weir para o mundo. Como vocês podem notar da lista parcial de filmes acima, o diretor apresenta carreira quase que imaculada, já tendo sido indicado 5 vezes ao Oscar de melhor diretor.

O filme é misterioso e fascinante. Conta a estória - tratada como verdadeira - do desaparecimento de três alunas e de uma professora de uma escola conservadora para mulheres no ano de 1900 no interior da Austrália. A turma, ao partir para uma excursão até Hanging Rock, uma enorme formação rochosa, se divide entre aqueles que sobem mais ainda pelas entranhas da montanha e as que ficam. Antes, porém, vemos a rigidez da escola e as alunas que são favorecidas e desfavorecidas pela truculenta diretora. Isso, de certa maneira, reflete em quem acaba desaparecendo.

Weir cria imagens oníricas, enevoadas, assombradas e trabalha com uma trilha sonora perfeita, tirada de músicas tradicionais romenas tocadas na flauta por Gheorghe Zamfir e no órgão pelo suíço Marcel Cellier. A escolha da música por Weir é um dos grandes achados do filme e é impressionante como a trilha nunca foi lançada comercialmente. Uma pena.

Outras escolhas excelentes de Weir foram as atrizes. O grupo central de meninas é encabeçado por Anne-Louise Lambert, que faz o papel de Miranda, uma lindíssima menina que tem um ar de mistério inato. Irma é vivida por Karen Robson, também belíssima (trivia: essa atriz desistiu da profissão e tornou-se advogada na indústria do entretenimento). Há ainda Rosamund (Ingrid Mason) e Sara (Margaret Nelson). É evidente que Sara nutre uma paixão enrustida por Miranda e, por isso, sofre consequências, ainda que nunca de maneira explícita.

Aliás, o sexo e a sexualidade permeiam o filme. É o crescimento de uma menina marcado pelo vestido vermelho ao longo de vários outros brancos; é a tensão maior que amizade existente entre Miranda e Sara; é a repressão de Mrs. Appleyard (Rachel Roberts) em cima de Sara, quase que de maneira ciumenta e por aí vai. Fora as cenas quase que sexualmente explícitas criadas por Weir com um bom gosto extremo, sem nunca recorrer à obviedades como nudez e o ato sexual. Tudo é muito sutil, mesmo quando não é.

O filme é muito mais interessante pela sua atmosfera do que pela investigação dos desaparecimentos em si. Aqueles que esperam um filme de mistério comum, não encontrarão isso em "Piquenique". Weir não se preocupa com a resolução, mas sim com a jornada e, principalmente, com as imagens, todas elas muito belas (no que foi ajudado em muito pela fotogenia das atrizes, devo confessar).

Há também uma questão muito interessante sobre o filme mas o que vem a seguir pode ser considerado como um SPOILER, pelo que, se vocês continuarem, estejam avisados. Ele foi baseado em obra de ficção de 1967 escrita por Joan Lindsay. Esse livro, originalmente, continha o capítulo 18, que efetivamente resolvia o mistério dos desaparecimentos mas o editor de Lindsay convenceu a autora de não publicá-lo, o que tornou o livro um grande sucesso. Em minha concepção, isso também ajudou em muito o filme. O capítulo 18, aliás, foi publicado em 1987, depois da morte da autora, e contava um final extremamente esquizofrênico para a estória e agradeço por Weir nunca tê-lo visto. Nada como um mistério sem resolução para tornar as coisas mais interessantes.

Outra curiosidade sobre esse filme é que Weir, em 1998, quando do relançamento cinematográfico de sua obra, resolveu fazer um corte do diretor e, surpreendentemente, reduziu 7 minutos do filme e é essa a versão que está facilmente disponível em DVD e a que acabamos assistindo no Club. No entanto, gostei tanto do filme que consegui caçá-lo na Inglaterra, em uma versão que contém tanto o corte do diretor atualmente disponível quanto o corte original. Há mudanças interessantes e, de certa forma, o original chega até a ser melhor, mas nada que mude muito a experiência.

Mais sobre o filme: IMDB e Rotten Tomatoes.


Sobre o Club du Film:

Há mais de quatro anos e meio, em 28 de dezembro de 2005, eu e alguns amigos decidimos assistir, semanalmente, grandes clássicos do cinema mundial. Esse encontro ficou jocosamente conhecido como "Club du Film". Como guia, buscamos o livro The Great Movies do famoso crítico de cinema norte-americano Roger Ebert, editado em 2003. Começamos com Raging Bull e acabamos de assistir a todos os filmes listados no livro (uns 117 no total) no dia 18.12.2008. Em 29.12.2008, iniciamos a lista contida no livro The Great Movies II, do mesmo autor, editado em 2006. São mais 102 filmes. Dessa vez, porém, farei um post para cada filme que assistirmos, para documentá-los com meus comentários e as notas de cada membro do grupo.

Notas:

Minha: 9 de 10
Klaatu: 7 de 10
Barada: 9 de 10
Gort: 9 de 10
Mickey: 7 de 10

4 comentários:

  1. Caro Ritter,
    Assisti à "Picnic" em um cinema que nem existe mais, na Barra (no Shopping Casa, ou algo parecido), em 1983. Eu tinha 20 anos, estava começando o último ano de jornalismo e fiquei hipnotizado pela atmosfera semi-lésbica/angelical/vitoriana em um cenário que parecia a nossa quente Floresta da Tijuca. Queria registrar que a plateia(que não era grande), pareceu não ter gostado do filme e saiu em um certo silêncio meio sonolento. Comprei o DVD no ano passado, mas ainda não tive tempo de assistir todo. Mas, hoje, me sinto um pioneiro no cult ao filme. Abraço! Ramon Fiori Fernandes Sobreira

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  2. E o mais engraçado,é que a bela atriz,Margaret Nelson que no filme fazia o papel da (Sara) literalmente sumiu do mapa. depois de Picnic at hanging rock,nunca mais se teve noticias da atriz. virei a internet de ponta cabeça para tentar achar alguma noticia “recente” da dita,mas não obtive sucesso. enfim.. gosto de quase tudo que vem da Austrália. ;) filmaço!!!

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  3. Este filme por incrível que pareça, fui assisti - lo somente agora, isso sendo um cinéfilo é um ato indecente, no entanto eu cresci nos anos 80 vendo algumas cópias nas locadoras e as mesmasem sua maioria eram em preto e branco, ou simplesmente estavam com as imagens ruins. Diante desta situação eu acabei por optar ve - lo anos depois e o achei fantástico, muito bem elaborado de bom tom. Cinema de verdade !

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  4. Eu achei este filme muito interessante, porém fiquei com uma dúvida persistente em minha cabeça: Por quê Irma voltou (foi encontrada)??? O que ela simbolizaria??? Alguém que assistiu ao filme por favor me ajude....

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Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."