sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Crítica de quadrinhos: Sweet Tooth - volumes 1 e 2

"Bambi encontra Mad Max". Essa foi a melhor descrição que achei por aí dessa nova série da Vertigo, o excelente selo "independente" da DC Comics.

De fato, a revista, escrita e desenhada por Jeff Lemire com enorme constância (ele não atrasa um número e a revista começou em setembro de 2009 e já está no 15º número), nos conta a estória de Gus, um menino de 9 anos que vive recluso com seu pai em uma cabana no meio da floresta. Estamos falando de um mundo pós-apocalíptico e Gus parece ter sido o resultado de modificações genéticas resultantes do que quer que tenha levado o mundo ao apocalipse, pois ele tem chifres, sendo um híbrido de humano com animal.


Logo no começo, seu pai morre e ele é achado por  Tommy Jepperd, um andarilho grandalhão e violento que quer levar Gus até a "Reserva", onde ele estará seguro. Evidentemente, logo de cara fica a dúvida se Jeperd está mesmo falando a verdade ou se quer apenas se aproveitar de Gus já que as crianças híbridas, aparentemente, são valiosas no mercado negro (não é nada sexual, gente com mente suja...).

O cenários pós-apocalíptico é bastante, digamos, genérico, do tipo que dá vontade de nem ler a estória só por causa da premissa. Mas seria um erro dispensar Sweet Tooth sem tentar ler a estória. Apesar do genérico apocalipse, há substância no que Lemire escreve e desenha. Gus é um garoto que não conhece o mundo exterior e relutantemente dá um passo nessa direção (daí o nome do primeiro volume ser Out of the Woods, colecionando os 5 números iniciais). Ele é profundamente religioso, por causa do pai, e tem uma visão - até por sua tenra idade - absolutamente inocente do mundo. Mas, trata-se de uma estória de amadurecimento e crescimento. Assim, Gus é logo apresentado à crueldade humana e é forçado a andar com as próprias pernas.

Jepperd é outro personagem fascinante, talvez até mais que Gus. Trata-se de um homem atormentado cuja moral ora está de um lado, ora está de outro. Ele parece genuinamente gostar de Gus ou ele realmente tem uma agenda escondida? Pouco é revelado sobre ele nesse primeiro volume.

Em In Captivity, nome do segundo volume (números 6 a 11), Gus está preso e encontra outros seres parecidos com ele. Ficamos sabendo um pouco mais do que aconteceu no mundo e descobrimos que Gus é realmente especial. No entanto, In Captivity é uma estória sobre Jepperd. Vemos seu passado e descobrimos a razão de seu semblante sombrio e triste. Vemos, também, de certa forma, uma tomada de decisão por parte dele em relação a Gus. Abre-se, no final do segundo volume, uma imensa porta para um excelente terceiro volume.

A arte de Lemire, em minha opinião, exige um pouco de costume. Nas primeiras páginas, tive uma certa dificuldade de aceitar os traços simples, quase caricaturais impostos pelo autor. No entanto, ao avançar com a estória, comecei a ver que tais traços e cores (essas muito mudas, em tons de cinza) apenas amplificam o sentimento de desespero da situação em que se encontram os personagens principais, cada qual por sua razão muito particular. Não é um traço que eu possa dizer que goste mas posso afirmar sem medo que ele combina muito com a atmosfera da estória.

De toda forma, Sweet Tooth ainda está tentando andar sem cambalear. O começo é lento e a temática é simples, ainda que seja mais enganosamente simples do que meramente simples. O primeiro volume avança pouco na estória mas o segundo, escrito no presente e em flashbacks, dá um ótimo sabor à obra de Lemire.

O futuro é promissor (para nós leitores, não exatamente para Gus ou Jepperd).

Nota do volume 1: 7,5 de 10

Nota do volume 2: 8,5 de 10

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Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."