terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Crítica de filme: Tron: Legacy (Tron - O Legado)

Quando voltei da sessão de Tron - O Legado no cinema, li a crítica da sempre ótima Isabela Boscov na Veja desse final de semana. Tinha um pensamento em mente e ela o resumiu com muito mais propriedade do que eu seria capaz e faço a citação: "Pois a falha que atinge Tron - O Legado é de ordem estrutural: a idéia de pessoas extraviadas em um programa de computador era avançada em 1982 - mas é antiquada para empolgar em 2010, a despeito do desvelo e da inspiração com que Kosinski reimagina o mundo de Tron."


Tron - O Legado é visualmente deslumbrante. O diretor estreante Joseph Kosinski vendeu a idéia de uma continuação de Tron à Disney, fez uma espécie de trailer falso para mostrar do que ele era capaz e a empresa pagou para ver. Vale dizer que, mais uma vez, a Disney teve atitude corajosa. Na verdade, mais corajosa ainda do que na primeira vez pois o primeiro filme também foi largado na mão de um diretor estreante só que o segundo foi feito depois de "meros" 28 anos depois do fracasso que foi o primeiro e custou para lá de 170 milhões de dólares (e mais essa mesma quantia só para publicidade, muito provavelmente).

Mas consigo ver perfeitamente o que a Disney viu em Kosinski: apuro visual, apuro visual e apuro visual. Isso e mais o fato que faz todo o sentido fazer um remake ou uma continuação de um filme como Tron hoje em dia, já que vivemos em um mundo semi-digital.

No entanto, aí está o maior pecado de Tron - O Legado: enquanto seu predecessor era muito além de seu tempo, ele é muito aquém de seu tempo, exatamente como coloca Isabela Boscov. Tron - O Legado bem que tenta ser um novo Avatar mas falha miseravelmente.

Em primeiro lugar, assim como Avatar, a estória de Tron - O Legado, é bem fraca. Basicamente há uma repetição da linha narrativa do primeiro filme: Sam Flynn (Garrett Hedlund), filho de Kevin Flynn (Jeff Bridges) entra por acidente no mundo virtual do primeiro filme, apenas para encontrá-lo dominado por Clu (Jeff Bridges também), o programa de computador criado por seu pai há 25 anos. Ele se envolve, então, em lutas gladiatoriais e escapa graças à ajuda de Quorra (Olivia Wilde) que o leva até seu pai que estava preso no programa.

Da mesma forma que Avatar, o ator que faz o personagem principal do novo filme é péssimo. Hedlund faz caretas que são engraçadas quando deveriam ser sérias e cara de cachorro pidão quando tem que mostrar personalidade.

Jeff Bridges é sempre um prazer de se ver mas, dessa vez, ele não faz muita coisa. Basicamente ele canaliza "The Dude" de O Grande Lebowski e segue em frente. Olivia Wilde é bonita e não passa muito disso.

Assim como Avatar, Tron - O Legado é longo demais, com uma boa dose de diálogos de exposição. Diria que Tron tem, na verdade, muito mais diálogos explicativos que Avatar. Talvez, nesse quesito, ele iguale-se a A Origem. Acontece que, no filme de Christopher Nolan, as explicações são fluidas e se integram muito bem à estória que está sendo contada. Em Tron - O Legado, as explicações são forçadas, a começar pela desconcertante frase de Quorra quando escapa pela primeira vez com Sam: "tudo que você quiser saber, será explicado". E, realmente, tudo é muito explicado, meio que "goela a baixo" e, mesmo assim, as coisas não se encaixam bem.

Muito provavelmente, então, vocês perguntarão porque eu dei nota 9 para Avatar. E a pergunta faz sentido mas a explicação é singela: Avatar oferece muito mais em termos visuais do que Tron - O Legado, tornando-se uma experiência muito mais completa e satisfatória. O mundo criado por Cameron tem uma riqueza de detalhes impressionante e o uso de avatares se dá de maneira bem mais interessante do que a premissa de Tron. Além disso, apesar de a estória de Avatar ser fraca, ela faz perfeito sentido. Ela é fraca mais pelo fato de ser comum e batida do que por ser ruim em si. Tron, infelizmente, tem roteiro capenga, bastando para isso - sem SPOILERS, podem ficar tranquilos - ver o final completamente anti-climático, aleatório e sem sentido. Um típico momento "What the fuck?".

Outra falha de Tron - O Legado é a queda de ritmo no terço final. Enquanto os dois terços iniciais são agitados, sendo o primeiro então vertiginoso, o terceiro freia completamente o filme para mais explicações um tanto desnecessárias sobre coisas que não fazem lá muito sentido. Um corte de 20 minutos nesse momento teria feito bem ao filme.

Mas Tron - O Legado tem momentos muito bons, dignos de nota.

A corrida com os lightcycles é sensacional, de tirar o fôlego. O mesmo pode ser dito da batalha com os discos. É uma pena que Kosinski dedique pouco tempo para essas brigas iniciais.

Os outros veículos e, em linhas gerais, o design do mundo virtual do primeiro filme elevado à enésima potência pelo diretor nesse filme são deslumbrantes. Um tanto quanto escuros e às vezes unidimensionais mas, mesmo assim, lindo de se ver.

Outro destaque vai para a trilha sonora: a dupla Daft Punk arrasa com a trilha de batida eletrônica, que se encaixa com perfeição ao ritmo do filme. A melhor cena do filme para mim foi a com Zuse (o ótimo Michael Sheen), em seu bar/boate, em que a presença física e musical do Daft Punk é vista/ouvida. É uma cena exagerada do começo ao fim mas que marca presença no filme não só pela ação em si mas pela trilha bem presente.

E, por fim, temos o polêmico uso de computação gráfica para rejuvenescer Jeff Bridges de forma que ele pudesse fazer o papel de Kevin Flynn mais novo, ainda com seu filho pequeno e o de Clu. Muita gente achou o uso de computação gráfica ali algo irreal, com os "olhos mortos" que caracterizam bem esse uso. Eu, particularmente, fiquei impressionado. Ainda que, claro, seja mais difícil aceitarmos o personagem digital no mundo real, um pequeno detalhe de pouca importância pois a cena demora alguns segundos, não consigo imaginar melhor forma de representar Clu dentro do mundo digital. Ele é um ser digital e construìdo por Kevin Flynn à sua imagem à época da criação do programa. Ele tinha que ser novo e tinha que ter uma aura digital.

Finalmente, o uso do 3D tem a mesma qualidade de Avatar. Tendo sido filmado em 3D nativo, e não convertido em pós-produção, um sacrilégio que deveria levar os produtores à fogueira, Kosinski cria incríveis sensações de profundidade sem jogar nada na cara do espectador. Faz o uso inteligente e sutil, da mesma escola que James Cameron e da Pixar em Up e Toy Story 3.

Tron - O Legado deixa claro seu potencial, é melhor que seu antecessor mas sofre de diversos problemas que o impedem de ser o grande filme que dá para enxergar que seria se tivermos boa vontade. Ele avança sobre os pontos fracos do filme oitentista mas acaba caindo na armadilha pregada pelo própria época em que nasceu: avançada demais para seu próprio bem.

Mais sobre o filme: IMDB, Rotten Tomatoes, Box Office Mojo e Filmow.

Nota: 7 de 10

Um comentário:

  1. péssima crítica!
    parei quando li ''hitória muito fraca, COMO A DE AVATAR''
    AVATAR TEM UMA HISTÓRIA FRACA??!!!
    Pelo jeito, meu caro, você não sabe nada de História(matéria).Avatar tem uma história fantástica em que o mundo ''desenvolvido'' entra em choque com uma civilização ainda não colonizada...estude um pouco mais de história, ficará maravilhado com a principal idéia do filme.

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Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."