quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Crítica de filme: Let Me In (Deixe-me Entrar)

Definitivamente, eu tenho que deixar de ser preconceituoso e assistir a tudo que passar pela minha frente, mesmo que a sinopse, aparência, atores, diretor e tudo mais criem em minha mente um grande sinal de "perigo, lixo radioativo". Digo isso pois sou o primeiro a afirmar que refilmagens são uma praga em Hollywood.

E Deixe-me Entrar é uma refilmagem do filme sueco Deixe Ela Entrar que, por sua vez, foi baseado em uma obra literária sueca de mesmo nome.


Acontece que Deixe Ela Entrar é recente, apenas de 2008 e foi refilmado apenas por que o público americano não gosta de ler legendas. Tudo bem se Deixe Ela Entrar fosse uma porcaria mas, como vocês podem ver da minha crítica, eu o considero o melhor filme de horror da última década.

Mas eu estava nos EUA quando passei em frente de um cinema em que estava passando a refilmagem e acabei entrando. Mordi a língua e peço que vocês dêem uma chance à essa refilmagem. Quem gostou do original e não é um cara chato do tipo que acha que mudar a cor do cabelo do personagem é inaceitável, vai gostar também da refilmagem e quem não viu o original precisa ver esse (mas procure o original também em locadoras!).

O diretor Matt Reeves (que fez Cloverfield) fez questão de dizer, antes das filmagens, que sua versão seria uma refilmagem do filme anterior, não uma nova adaptação do livro. Por incrível que pareça, ele conseguiu transpor as desventuras de Oskar e Eli da desolação dos subúrbios de Estocolmo na Suécia para a mesma desolação dos gélidos subúrbios da Albuquerque, no Novo México. É bem verdade, porém, que Matt Reeves não inovou muito, preferindo mesmo ater-se à linha do original quase que cena a cena.

No entanto, ele não fez como Gus Van Sant que refilmou Psicose do mestre Hitchcock literalmente quadro a quadro só que colorido (em um sacrílego exercício de desperdício de tempo, celulóide e minha paciência...). Reeves conseguiu imprimir sua marca e criar um filme que - atrevo-me a dizer - é tão bom quanto o original. O que ele não fez é exatamente o que eu esperava: ele não emburreceu o filme para a audiência americana, mantendo o mesmo nível do original.

Para quem não conhece a estória, o filme nos apresenta a Owen (Kodi Smit-McPhee), um garoto solitário que é atazanado por valentões de sua escola e cujos pais são ausentes. Em determinado dia, mudam-se para seu condomínio um senhor (Richard Jenkins) e uma menina chamada Abby (Chloe Moretz, de Kick-Ass). Muito relutantemente, Owen vai se aproximando da misteriosa menina, que parece não sentir frio. Ela vive em um apartamento cujas janelas foram tampadas e nunca sai durante o dia, encontrando-o apenas de noite no playground.

O guardião de Abby já está mais velho e descuidado e Abby acaba tendo problemas com isso, o que a leva a se aprofundar na relação com Owen. Vou parar de contar mais sobre o filme pois não quero estragar nada para ninguém.

Apenas para os preciosistas que dirão que o filme americano não trata de um dos segredos mais importantes da estória envolvendo Abby (não vou relevar aqui, podem deixar): vocês estão errados. Está tudo lá intacto e até de maneira mais sutil e discreta do que no original sueco. Dêem uma chance ao filme e façam a comparação vocês mesmos.

É claro que, na nova versão, como não poderia deixar de ser, Matt Reeves insere algumas cenas mais gráficas e até usa uma computação gráfica bem estranha para os ataques de Abby. Coisas desnecessárias mas que, conhecendo o público americano, não me surpreenderam. De toda forma, são momentos breves que não atrapalham o filme de verdade. Há até uma cena automobilística envolvendo o guardião de Abby que é sensacional e não está presente no filme original, substituindo a cena do vestiário de maneira bem mais eletrizante.

Tudo em Deixe-me Entrar funciona bem: a atmosfera, a estória e os atores. Aliás, sobre atores, tenho que tirar o chapéu para Chloe Moretz. Sua Abby não é tão fantasmagórica quanto a Eli do original mas a garota sabe atuar. Em determinados momentos, como ela tem um rostinho bem inocente, seu lado negro chega a dar calafrios. Uma excelente escolha de elenco e um grande futuro para essa garota.

Um último detalhe pessoal que certamente contribuiu para eu gostar ainda mais do filme: não me assusto com filmes de horror mas vi esse filme em um cineplex americano vazio, em uma sala de cinema completamente vazia, em uma cidade estranha no meio-oeste americano, à meia-noite. Devo confessar: fiquei com um pouco de medo...

Com tudo isso, tenho que reconhecer que nem todas as refilmagens são condenáveis e que as minhas 10 regras nem sempre precisam ser obedecidas. Por outro lado, talvez Deixe-me Entrar seja a exceção que apenas confirma a regra...

Mais sobre o filme: IMDB, Rotten Tomatoes, Box Office Mojo e Filmow.

Nota: 9 de 10

2 comentários:

  1. Oi Ritter Fan, como vai?

    A respeito do filme "Deixe-me Entrar", a versão norte-americana, com respeito ao seu comentário:("Apenas para os preciosistas que dirão que o filme americano não trata de um dos segredos mais importantes da estória envolvendo Abby (não vou relevar aqui, podem deixar): vocês estão errados. Está tudo lá intacto e até de maneira mais sutil e discreta do que no original sueco). Eu gostaria de saber em qual parte do filme que você percebe esta sutileza?

    Eu assisti ao original sueco e a parte a qual você refere é bem explícita ao final do filme (a cena do banho), contudo na versão norte-americana, que também gostei muito, não percebi isso

    Por gentileza, gostaria que me apontasse esse detalhe que considero muito sutil mesmo; fiquei muito curioso

    Um abraço!

    Sérgio Cardoso

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  2. Sérgio, acho que respondi sua pergunta quando você a fez no meu posto sobre o filme original. Mas aí vai novamente: essa cena em que Owen recolhe as roupas de Abby contém uma passagem muito rápida em que ele vê de relance a menina nua. Nós, espectadores, não vemos nada a não ser a reação nos olhos do garoto. O olhar de Owen não é o olhar de um garoto que vê pela primeira vez a nudez feminina mas sim o olhar de alguém que viu algo muito errado.

    Para mim, isso, somado com os comentários dela sobre se ele gostaria dela se não fosse uma garota, criam ambiguidade suficiente para nos deixar com a pulga atrás da orelha.

    Concordo que o filme não deixa claro mas eu gosto dessa dúvida. Mesmo no original, quando aparece a cena, eu acabei o filme ainda com um pingo de dúvida. No remake, a dúvida fica ainda maior e, talvez, ainda mais interessante.

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Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."