quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Crítica de filme: Rabbit Hole (Reencontrando a Felicidade)

Não esperava nada de Rabbit Hole, especialmente em vista de sua premissa para lá de deprimente: casal tem que lidar com a perda de filho de quatro anos. Só isso já é suficiente para me afastar de qualquer filme pois, além do assunto já ser extremamente delicado, normalmente filmes dessa natureza tratam do assunto da maneira mais piegas possível, com o objetivo de arrancar lágrimas dos espectadores.


Mas Rabbit Hole não é assim. Ao contrário, o filme é, na verdade, uma pequena jóia escondida nessa temporada de Oscar onde somente se fala em reis gagos, Facebook, bailarinas loucas e aventureiros irresponsáveis. Os concorrentes são bons, não se enganem, mas talvez tenham esquecido Rabbit Hole.

Sem maiores rodeios, o filme aborda a vida de um casal, Becca (Nicole Kidman) e Howie (Aaron Eckhart), depois da trágica morte de seu filho de quatro anos por atropelamento, logo em frente de casa. Oito meses já se passaram do trágico incidente e somente agora o casal começa a efetivamente enfrentar o problema. Seus vizinhos não querem muito contato, convidando-os para um churrasco apenas por educação e esperando de dedos cruzados uma resposta negativa. Seus amigos se afastaram sem nem ligar para eles. O mundo ao redor do casal, como aliás é de se esperar, desabou completamente.

Mas o diretor John Cameron Mitchell, que poderia ter facilmente abordado o assunto de maneira pouco sutil, procura discutir a dor da perda e a tentativa de reconstrução de um semblante de normalidade dentro da maior realidade possível. A dor do casal é palpável nas pequenas ações, como tomar o café da manhã, observar o quarto do filho e visitar a família. Como na vida real, as pessoas reagem diferentemente às adversidades: Becca tenta apagar a existência do filho para ter algum conforto ao passo que Howie não consegue viver cada segundo pensando e vendo o menino. Na verdade, os dois clara e dolorosamente querem o menino de volta, querem a vida anterior de família "normal" de volta. Eles sabem que não podem mais ter isso mas, mesmo assim, procuram fingir e esconder sentimentos e desviar do assunto principal.

Em determinado momento, Becca conversa com sua mãe sobre perdas de entes queridos. Nat (Diane Wiest), perdeu seu filho (irmão de Becca) para as drogas há algum tempo quando ele já tinha trinta anos. Becca deixa claro em discussão anterior que não aceita a comparação mas a mãe, na conversa seguinte e com muita paciência, mostra que a perda de um filho é a perda de um filho, independentemente das circunstâncias. E, pior, Nat, de maneira dolorosa, revela que a dor nunca a deixou, apenas mudou. Becca, nesse momento, começa a ver que terá que viver com isso.

Ao mesmo tempo, Becca resolve enfrentar seus medos e vai conversar com o adolescente que atropelou seu filho. Da mesma maneira que tratou toda a temática anterior, o diretor não cria um confrontamento mas sim cenas tocantes e inesperadas de redenção e alívio.

Nicole Kidman merece concorrer ao Oscar de Melhor Atriz por esse filme. Ela nunca foi grande atriz, tendo injustamente ganho um Oscar nessa categoria em 2003 por seu trabalho em As Horas. Em Rabbit Hole, Kidman tirou (quase) todo o botox que a impedia de fazer qualquer flexão facial e faz um convicente papel de mãe devastada. O mesmo acontece com Eckhart, sendo que a química dos dois em cena é perfeita.

Rabbit Hole é um filme difícil de ver, que "desce quadrado" pela garganta e deixa um ar de pesar enorme quando acaba. Mas o trabalho de direção, a atuação dos três atores principais e o perfeito final compensam a dureza temática e faz do filme uma preciosidade que merece ser apreciada.

Ah, e só para deixar registrado: o título em português é mais um que entrará para a lista de títulos idiotas. Parabéns aos tradutores...

Mais sobre o filme: IMDB, Rotten Tomatoes, Box Office Mojo e Filmow.

Nota: 9 de 10

4 comentários:

  1. bailarinas loucas!!!
    deves ser 1 grande atrasado mental.

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  2. Parabéns por seu inteligente comentário!

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  3. "Mas Rabbit Hole não é assim. Ao contrário, o filme é, na verdade, uma pequena jóia escondida nessa temporada de Oscar onde somente se fala em reis gagos, Facebook, bailarinas loucas e aventureiros irresponsáveis. Os concorrentes são bons, não se enganem, mas talvez tenham esquecido Rabbit Hole."

    Haha. Completa razão. O universo hollywoodiano está bem limitado.

    "reis gagos, Facebook, bailarinas loucas e aventureiros irresponsáveis"

    haha, quisera meus amigos gostassem de cinema para entender. Obrigado pela diversão.


    Felipe

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  4. "Em Rabbit Hole, Kidman tirou (quase) todo o botox que a impedia de fazer qualquer flexão facial e faz um convicente papel de mãe devastada. O mesmo acontece com Eckhart, sendo que a química dos dois em cena é perfeita."

    Eckhart não usa tanto botox, neh? XD

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Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."