segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Crítica de filme: The Town (Atração Perigosa)

Vou começar registrando minha reclamação: que título é esse em português? Atração Perigosa, jura? Quem foi o gênio que, depois de pensar por horas, chegou a esse portentoso título que faz o filme parecer uma trasheira B de horror?

Bom, dito isso, Atração Perigosa é um bom filme de Ben Afleck, cuja carreira como diretor e roteirista é bem mais promissora que sua carreira como ator, ainda que ele não esteja de todo mal nesse filme.


Afleck dirigiu apenas um outro longa, o ótimo Medo da Verdade, em que seu irmão mais novo, Casey Afleck, atuou (e bem, por sinal), Em Medo da Verdade, Afleck - o Ben, para ficar claro - mostrou pulso seguro e veia de diretor, algo que se confirma agora em Atração Perigosa.

Ben Afleck também co-escreveu o roteiro de Atração Perigosa e vocês todos devem lembrar que ele, juntamente com Matt Damon, surgiram no mundo de Hollywood justamente em razão de um roteiro devidamente oscarizado para o filme Gênio Indomável. Em Atração Perigosa, Afleck repete a dose, dessa vez trazendo a estória mais para próximo de suas raízes irlandesas.

Criado em Cambridge - do ladinho de Boston - Afleck fez um filme sobre as novas gerações irlandesas na região ao mesmo tempo que criou um ótimo "filme de assalto", cheio de tramas mirabolantes como é característico desse sub-gênero dos filmes policiais e de ação. Não estou falando aqui de coisas absurdas como na série Onze Homens e um Segredo, mas sim assaltos mais próximos da realidade e com conseqüências nefastas.

O filme começa com um desses assaltos a banco, por quatro mascarados. Tudo é feito de forma extremamente rígida e cronometrada, sob a clara liderança de um dos mascarados. Em determinado momento, porém, um dos outros mascarados se mostra um cara mais esquentado e ele acaba fazendo besteira, ao ponto de terem que levar a gerente (Claire Keesey, vivida por Rebecca Hall) como refém, algo que nunca antes haviam feito. Ela é logo solta mas o trauma fica.

Os quatro assaltantes logo se revelam para nós. Afleck é Doug MacRay, segunda geração de assaltante (seu pai está preso) e o cérebro do grupo. Jeremy Renner vive James Coughlin, o tal esquentadinho. Vê-se claramente que são amigos de infância mas com personalidades completamente diferentes. Afleck é mais frio e calculista, como devem ser os líderes e Renner é o doido varrido, com "bandido" escrito na testa em letras garrafais, tanto que acabou de sair da prisão e não titubeou em mergulhar no crime novamente.

Preocupados com o que eventualmente a refém tenha aprendido sobre eles, o grupo decide que ela deve ser seguida por um tempo. Obviamente, a tal da "atração perigosa" do título cretino em português acontece e Doug acaba apaixonando-se pela ex-prisioneira, em uma espécie de inversão da Síndrome de Estocolmo. Atrás deles, entra o implacável agente do FBI Adam Frawley (Jon Hamm, o Don Draper da excelente série Mad Men)

A construção do filme é muito boa mas Afleck acaba preso ao clichê do gênero ao contrapor dois membros da gangue com personalidades opostas e ao não conseguir escapar da necessidade de se dar um último golpe, algo que nunca havia sido tentado antes. Ah, e não se esqueçam do herói que quer se aposentar mas não consegue por circunstâncias alheias à sua vontade e o policial inteligente que não desiste nunca de perseguir os bandidos. Diferentemente de Gênio Indomável, Afleck começa bem mas somente é capaz de apresentar situações que estamos acostumados a esperar em filmes como esse.

Mas isso não quer dizer que o filme seja ruim. Ele é bom, apenas não merece o destaque que teve por diversos críticos (vejam a cotação no Rotten Tomatoes), com a cogitação até de concorrer ao Oscar de melhor filme esse ano (o que acabou não ocorrendo, ainda que seja melhor que Inverno da Alma e 127 Horas). Jeremy Renner, no entanto, concorre a Melhor Ator Coadjuvante por seu papel nesse filme mas sua atuação não passa de correta, com apenas uma cena memorável, que ocorre no cemitério.

De resto, Atração Perigosa é um filme correto e bem resolvido, ou seja, não nos entrega um final padrão Hollywood mas sim algo que pode se esperar de alguém que tem tudo para se firmar como grande roteirista e até mesmo diretor. Basta Afleck trabalhar menos como ator.

Mais sobre o filme: IMDB, Rotten Tomatoes, Box Office Mojo e Filmow.

Nota: 7,5 de 10

2 comentários:

  1. Teve muita gente que não gostou, mas eu, particularmente, adorei o filme! Funcionou muito bem comigo.

    http://cinelupinha.blogspot.com/

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  2. Ainda não assisti, mas recomendo um que foge bastante desses clichês do anti-heroi criminoso.

    "Heist" (O Assalto)
    direção e roteiro de David Mamet
    Com Gene Hackman, Danny DeVito e Sam Rockwell


    Felipe

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Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."