sábado, 9 de abril de 2011

Crítica de show: Iron Maiden no Rio de Janeiro (HSBC Arena em 28 de março)


Antes de falar do show em si, não posso me furtar de comentar a odisséia que foi ver o Iron Maiden no Rio de Janeiro. Quem quiser ler sobre o show apenas, desça um pouco mais e pule minhas reclamações.

Como carioca, posso dizer: não dá para mais para ver shows na minha cidade. É bem mais civilizado assistir em São Paulo ou outra cidade do Brasil pois o Rio, definitivamente, não tem essa estrutura. Receio muito a vindoura Copa do Mundo e, mais ainda, as Olimpíadas.

Afinal, se não conseguimos lidar de maneira decente com um show de 12 mil pessoas, o que dizer da organização de um evento que pode atrair, simultaneamente, milhões para a cidade?


Em termos de odisséia, na verdade, acho que a epopéia de Ulisses voltando para sua amada Ítaca depois da Guerra de Tróia não foi tão complicada como o ocorrido nas minhas idas para a Barra assistir o Iron Maiden. Pelo menos, no meio do caminho, ainda que Ulisses tenha se atracado com o cíclope Polifemo, ele ao menos teve a chance de ver e ouvir o belo canto das sereias e de passar um tempo com a bela Calypso. Comigo, foi só trânsito, frustração, fumaça e mais trânsito.

Meu irmão chegou ao HSBC Arena umas duas horas antes do show, deixado por sua namorada que queria se livrar dele logo para ver jogo de futebol. De lá, ele me ligou dizendo que a fila para entrar era a representação do inferno na Terra, o que me fez prontamente sair de casa. No meio do caminho - era um domingo, dia 27 de março - meu irmão ia me ligando para me atualizar sobre a fila e ele basicamente me disse que a fila não andava e que a aglomeração de gente vestida de preto (como eu) somente aumentava. Mas ele, ao mesmo tempo, me deu uma boa notícia: quem vinha de carro podia entrar de carro direto, sem pegar fila.

Chegando lá, encontrei-me com meu irmão do lado de fora e nos dirigimos ao estacionamento, dando até carona para um casal desesperado que estava há horas na fila. Lá dentro, carro parado, foi questão de poucos minutos para estarmos na fila da Pista Premium. Sim, fila. Os organizadores não conseguiam nem mesmo fazer a fila dessa pista especial - cara pra burro mas eu já sou velho demais para aturar pista normal em show - andar de maneira razoável. Mas, uma vez dentro da Arena, tudo transcorreu bem até o primeiro minuto da primeira música.

Nesse momento, a barreira de proteção entre a pista e o palco ruiu. E foi mesmo no primeiro minuto e olha que nem tinha tanta gente assim fazendo pressão. Já estive em mais de uma centena de shows em minha vida, a maioria muito mais cheios que esse, e nunca vi algo assim acontecer. Patético.

Com a grade desabada, Bruce Dickinson pediu, educadamente, para a galera ir para trás, o que acabou acontecendo. No entanto, mostrando novamente total incompetência, os organizadores não conseguiram re-erguer a barreira. Resultado: o show foi adiado para o dia seguinte. Saímos irritados mas imaginando que, na verdade, como moradores do Rio de Janeiro, estávamos até bem diante de outros que vieram de fora da cidade, muitos sem hotel ou pousada reservados e com planos de voltar para sua cidade na mesma madrugada para trabalhar no dia seguinte. Havia gente que tinha vindo de ônibus e avião de Goiás, Minas Gerais, Bahia, fãs ardorosos que provavelmente ou voltaram muito irritados para casa ou acamparam em volta da Arena para o dia seguinte.

E, no dia seguinte, uma segunda-feira, a UFRJ em Botafogo pegou fogo. Resultado: trânsito caótico em toda a Zona Sul. Solução: ir de moto com o meu irmão. Em 45 minutos estávamos na Arena novamente mas eu estava encharcado de suor pela mera concentração de estar na garupa sem lugar para segurar (não, não vou abraçar a cintura do meu irmão antes que me perguntem) e tendo que desviar os joelhos de todos os espelhos retrovisores do mundo... Viagem tensa, certamente muito pior do que passar sete anos como escravo sexual da ninfa Calypso na ilha de Ogygia...

Sobre o show:

Mas o show aconteceu finalmente, com Bruce Dickinson arrasando no vocal, apesar de seus 52 anos. O último show do Iron Maiden no Brasil foi em 2009 e, àquela época, eles se concentraram em clássicos apenas, resultando em um show inesquecível. Em 2011, como era esperado, a turnê The Final Frontier é de promoção do mais novo álbum de mesmo nome. De todos os álbuns da volta do Iron mais do que completo, esse foi o que menos me empolgou, especialmente as músicas que abrem o disco e que também foram usadas para abrir o show: "Satellite 15... The Final Frontier" e "El Dorado".

No entanto, 2 Minutes for Midnight veio logo em seguida, enlouquecendo a galera. A ela, duas músicas do álbum novo se seguiram, The Talisman - muito boa mas longa demais para esse momento do show - e a excelente Coming Home.

Dance of Death, música título do disco anterior a A Matter of Life and Death empolgou a galera e Bruce engatou com a super-clássica The Trooper e as empolgantes The Wicker Man e Blood Brothers, ambas de Brave New World, o disco de retomada da banda. Blood Brothers, aliás, foi usada em homenagem às vítimas no Japão e também aos brasileiros e fãs do Iron no mundo. Bacana.

Em seguida, uma volta à The Final Frontier, com When the Wind Blows e, depois, uma sequência de clássicos: The Evil that Men Do, trazendo o tradicional Eddie articulado que até brincou de tocar guitarra, Fear of the Dark, destruidora e Iron Maiden trazendo o Eddie gigantesco do álbum novo, para o delírio da galera. Uma paradinha e, no bis, vieram The Number of the Beast, Hallowed be thy name e Running Free, essa última eu não ouvia em shows deles há tempos.

Enfim, Bruce mostra que continua em forma. O mesmo se pode dizer do carismático e mais do que eficiente Steve Harris no baixo, e a trinca de guitarristas, Dave Murray, Adrian Smith e Janick Gers. Fechando, o genial baterista Nicko McBrain.

Infelizmente, porém, apesar do bom equilíbrio entre clássicos e músicas recentes, o show sofreu bastante com a qualidade oscilante do som, que fez com que Bruce por diversas vezes saísse do palco (durante os solos) para conversar - ou dar esporro, não sei - no técnico de som. Por vezes o baixo se fazia presente de maneira ensurdecedora e, por outras, as guitarras abafavam tudo. Não foi uma desgraça total mas não dá para perdoar já que eles tiveram um bom tempo para passar o som com o adiamento do show.

Mesmo descontando a odisséia, foi um show menos que perfeito mas ainda sim imperdível. Na próxima vez, porém, sairei do Rio para ver o Iron.

Nota: 8,5 de 10

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