quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Crítica de filme: War Horse (Cavalo de Guerra)

Eu sou fã de carteirinha de Steven Spielberg. Ele é um diretor que marcou e ainda marca época, com filmes inesquecíveis como Caçadores da Arca Perdida, Tubarão, Contatos Imediatos de Terceiro Grau, E.T. e A Lista de Schindler. E esses exemplos só arranham a superfície pois há incontáveis outros grandes filmes, além de seu incansável trabalho como produtor de cinema e televisão. Mas nem mesmo diretores da categoria de Spielberg são à prova de filmes fracos, ruins mesmo Para o meu gosto, seus dois piores filmes são 1941 e A Cor Púrpura.

Mas não estou aqui para falar do passado de Spielberg. O assunto é Cavalo de Guerra, seu mais recente filme que conta a estória do  jovem Albert Narracott (Jeremy Irvine) que cria um cavalo de corrida (Joey) com grande amor e dedicação, somente para vê-lo vendido pelo pai ao exército britânico, no início da Primeira Guerra Mundial. O filme, então, aborda várias estórias sob o ponto de vista do cavalo, até fechar o círculo com a estória do próprio jovem atrás de seu animal de estimação.

Cavalo de Guerra é, para mim, o terceiro erro feio de Spielberg. Não chega ao nível de ruindade de A Cor Púrpura mas eu arriscaria dizer que está quase lá.

Todo mundo sabe e espera que Spielberg manipule sua audiência, criando situações extremamente melodramáticas com o fim de arrancar lágrimas - ou ao menos mexer fortemente com as emoções - de quem assiste seus filmes. Veja A Lista de Schindler por exemplo. O filme é belíssimo, com atuações e estória incríveis, uma fotografia preto-e-branco invejável. Mas a marca mais forte de Spielberg no filme é a garotinha de vestido vermelho. Seguir a garotinha é sofrer com o personagem, especialmente em vista de seu destino terrível. O mesmo acontece, por exemplo, em O Resgate do Soldado Ryan. O filme tem uma das melhores sequências de abertura na história do cinema mas, mesmo assim, temos que ver Tom Hanks fazer aquele enorme discurso meloso - e redudante - ao Ryan, já mais para o final. Até mesmo A Guerra dos Mundos carrega esses elementos sentimentais exagerados (você se lembra do final desse filme?). E por aí vai. É uma das marcas do diretor que eu aprendi a aceitar e, com uma certa hesitação, a gostar.

No entanto, em Cavalo de Guerra, Spielberg extrapolou todos os limites. Por ter visto a peça de teatro, eu já sabia que a carga dramática desse filme seria enorme. Aliás, isso fica claro ainda no trailer. Mas, aqui, a manipulação "spielberguiana" vai a limites inimagináveis.

Não satisfeito em contar uma estória, a do garoto que perde seu cavalo de estimação e vai atrás dele no meio de uma das mais terríveis guerras já travadas, Steven Spielberg, usando o roteiro de Lee Hall e Richard Curtis (que, por sua vez, foi baseado em livro infantil de Michael Morpurgo e também na peça de teatro), conta diversas estórias, cada uma delas com gigantesca carga melodramática, sem, contudo, conseguir realmente tornar os personagens relevantes ao público a ponto do filme funcionar. Explico: quando Joey é vendido a um oficial britânico (o Capitão Nicholls, vivido por Tom Hiddleston), Spielberg muda completamente o tom do filme, esquecendo-se de Albert e focando no capitão. Em seguida, quando esse momento acaba, Joey (junto com Topthorn, outro cavalo do exército britânico e seu "amigo") é capturado pelo exército alemão e imediatamente adotado por dois irmãos que servem juntos, sendo que um irmão jurou para a mãe que faria de tudo para cuidar do mais jovem (sacou o chororô potencial?). Em seguida temos a estória de uma menina francesa doente (ela é doente, hein?) que mora sozinha com o avô. E por aí vai.

São todas estórias relativamente rápidas, quase que vinhetas mesmo, destacando, talvez, o momento mais importante de todas essas vidas, conforme vistas por Joey. No entanto, como tudo é muito rápido, é difícil nos identificarmos com cada um desses personagens que são introduzidos e desenvolvidos em termos de minutos. Até mesmo a passagem de tempo fica estranha em Cavalo de Guerra pois o que se parece com um ou dois dias, na verdade, podem ser meses ou até anos.

O único momento genuinamente sentimental do filme - e também de uma beleza que só Spielberg poderia transpor para as telas - é o que ocorre na chamada "terra de ninguém", ou seja, o território arrasado que fica entre duas trincheiras inimigas. Lá, é possível ver o propósito do filme e, talvez, o que tenha encantado o diretor para adaptá-lo às telas (vou deixar enigmático para não estragar o momento para ninguém). No entanto, essa cena, sozinha, não carrega o filme. Não que ela seja a única boa do filme, há outras como a belíssima cena em que o exército britânico monta nos cavalos em plena plantação de trigo e o fantástico embate entre animal e fera de aço (um tanque de guerra) mais já para o final do filme, mas acontece que o pouco que vemos é esparso e curto demais em um filme de longos 146 minutos.

As atuações também não ajudam. Jeremy Irvine é apenas um rostinho bonito e nada mais, com suas caras e bocas de galã. Ele não cria empatia suficiente com o público. Tom Hiddleston (o Loki em Thor) está bem mas não faz mais do que uma ponta. Benedict Cumberbatch (o Sherlock Holmes na série Sherlock da BBC), que também só faz uma ponta (aliás, o filme, com exceção de Joey, é uma sucessão de pontas...), está terrivelmente afetado como outro oficial britânico. Emily Watson e Peter Mullen (Rose e Ted Narracott, os pais de Albert) atuam de forma competente mas nada que mereça destaque especial. No final das contas, a melhor atuação fica por conta de Joey que, sob as lentes de Spielberg, consegue de maneira muito eficiente transmitir sentimentos (no livro, podemos ler os pensamentos de Joey e fico muito feliz por Spielberg não ter escolhido esse caminho).    

Outra coisa que me incomodou no filme foi a maneira que Spielberg constrói as cenas de tensão. São todas iguais e dolorosamente lentas, a ponto de destruir a tensão por completo. As perguntas "será que fulano morre?", "será que ele vai atirar?" e "será que ele consegue?" são basicamente respondidas ou telegrafadas de imediato pela forma como as cenas são lentamente montadas. A música de John Williams - e eu achei que nunca iria falar mal de algum trabalho dele - atrapalha em Cavalo de Guerra pois ela acompanha e aumenta o efeito melodramático. Nessas cenas de tensão, então, a música basicamente conta o que vai acontecer em seguida.

E sobre o horror da guerra, tenho para mim que Spielberg, por estar adaptando um livro para crianças, resolveu também ser menos contundente. O horror está lá mas de maneira leve, sem sangue, sem mortes na tela. É uma versão, digamos, "higienizada" e mais curta (as cenas de guerra têm cinco minutos no total, se tanto) de O Resgate do Soldado Ryan, o que apenas contribui para que o filme perca o impacto.

Até a fotografia parece estranha e o melhor exemplo disso é a cena final, que tem um por do sol extremamente vermelho. Por um lado, isso lembra os filmes de cowboy clássicos, mais notadamente, talvez, os de John Ford e acho até que foi o objetivo fazer alguma homenagem mas, aqui, Spielberg exagerou tanto que ficou parecendo que os atores estão em Marte...

No final das contas, Cavalo de Guerra tem alguns bons momentos (e um momento excelente) mas, infelizmente, parece até uma paródia de um filme de Steven Spielberg.

Mais sobre o filme: IMDB, Rotten Tomatoes, Box Office Mojo e Filmow.

Nota: 4 de 10

7 comentários:

  1. Quem é voce para falar do Spilberg. Ele é o mais genial dos diretores e produtores. O crítico é um indivíduo que acha que sabe tudo, mas no fundo boa parte é frustrada.

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  2. O Spielberg é um bom diretor sim, mas superestimado e muito infantilizado, mas fez bons filmes. Existe uma centena de diretores muito superiores ao Spielberg, mas somente pessoas que possuem um conhecimento mais apurado e refinado para entender.

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  3. Não gostei muito também, achei mediano pra caramba. E eu era um dos poucos que havia gostado do trailer! Acho o Spielberg ótimo - nenhum gênio -, mas aqui ele pesou a mão no melodrama barato! A música de John Williams, como disse, é óbvia e só serve para escancarar o que você deve sentir em tal momento. Não precisa disso, né? Enfim, filme sem foco e com narrativa ruim, uma pena!

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  4. Eu amo os filmes do Spielberg (mesmo com toda a cafonice as vezes), mas neste fiquei com vergonha alheia. Os problemas de direção são nítidos (exemplo: Emily Watson sub-aproveitada), atores caricatos, fotografia duvidosa, roteiro fraco e uma sequência infindável de clichês. Achei muito boas as cenas de guerra (principalmente as da cavalaria), mas o filme é fraco e longo. Fiquei pensando que os cavalos certamente eram os melhores atores ali. E o que foi aquela cena final, meio Gone With the Wind? Resumindo: o filme consegue ser ruim E deprimente ao mesmo tempo. :p

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  5. o cavalo faz uma cena fantastica na com o o arame farpado e pra compensar faz outras cenas ridículas, hilárias. O filme no todo é fraquinho.

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  6. REALMENTE nao é o melhor filme do Spielberg, mas so a cena em que ele enfrenta o tanque a sequencia que segue finalizando com ele preso no arame farpado, ja valem o filme, e o final realmente a cor laranja berra mas o menino voltando vivo da guerra junto com seu cavalo é um final lindo e muito poético, gostei! :)

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  7. REALMENTE nao é o melhor filme do Spielberg, mas so a cena em que ele enfrenta o tanque a sequencia que segue finalizando com ele preso no arame farpado, ja valem o filme, e o final realmente a cor laranja berra mas o menino voltando vivo da guerra junto com seu cavalo é um final lindo e muito poético, gostei! :)

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Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."