quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Crítica de filme: Albert Nobbs

Baseado em um conto do autor irlandês George Moore, Albert Nobbs é a estória do personagem título que, na verdade, é uma mulher. Na sociedade machista irlandesa do século XIX, Albert (Glenn Close - nunca sabemos seu nome verdadeiro antes de ser Albert) assume uma persona masculina para conseguir emprego e passa a ser reconhecido por sua extrema dedicação ao trabalho. Quando o filme abre, vemos Albert como o mordomo de um hotel de Dublin que meticulosamente toma conta da arrumação de mesas de jantar.


Mas Albert Nobbs, longe de ser um filme perfeito, é, porém, muito mais do que um filme sobre troca de sexo, uma espécie de Tootsie do século XIX. Albert Nobbs é uma mulher sem identidade, alguém que apenas se reconhece em seu mecânico trabalho, com roupas e voz de homem. Mas Nobbs não é alguém completamente sem ambição pois ela (ou seria ele?) quer abrir uma tabacaria e, para isso, guarda cada centavo que ganha com seu trabalho, escondendo sua "fortuna" embaixo de uma tábua no chão de seu quarto no hotel.

Nesse ponto, a atuação de Glenn Close é imperdível. Ela se mantém contida não só para esconder seu segredo mas, também, talvez, por ainda restar no personagem um resquício da repressão que as mulheres sofriam naquela época. Ela tem a liberdade de um homem mas a moral presa pelos ditames da sociedade da época em relação às mulheres. Glenn Close consegue passar tudo isso com apenas um olhar, um trejeito. E, apesar de usar maquiagem, a atriz está quase ao natural e mesmo assim se passa convincentemente como homem. Não que não achemos que há algo estranho. Vemos Glenn Close no filme o tempo todo e é difícil - impossível eu diria - abstrair-se desse aspecto. Mas, na verdade, isso pouco importa.

Quando o personagem Hubert Page entra no filme, vemos um pouco da nossa capacidade de acreditar na ficção desmoronar um pouco. Não é que Janet McTeer esteja mal no papel no papel de outra mulher que se disfarça de homem para conseguir emprego. Ao contrário. Assim como Close, McTeer está muito bem. No entanto, é difícil aceitar duas trocas de sexo no mesmo filme e, mais ainda, no mesmo hotel. Coincidência? Isso era comum no século XIX na Irlanda? Bom, fato é que nenhuma das duas explicações é razoável ou, mesmo que se considere que é, qualquer uma delas exige demais da chamada "suspensão da descrença".

Além disso, o filme, assim como seu personagem principal, é pouco ambicioso e intimista demais, não mostrando a que veio a não ser servir de veículo para as já citadas ótimas atuações de Glenn Close e Janet McTeer. Se formos um pouco além disso, não conseguimos ver muito mais. Apesar da competente direção de Rodrigo García, o roteiro co-escrito por Glenn Close não nos oferece nada para nos prender à tela. Sim, tudo é muito bonito e sim, o filme não tem emoções baratas mas falta aquele "algo mais" para ele se distanciar de outras obras do mesmo naipe.

Albert Nobbs concorre a três Oscar: Melhor Atriz (Glenn Close), Melhor Atriz Coadjuvante (Janet McTeer) e Melhor Maquiagem.

Mais sobre o filme: IMDB, Rotten Tomatoes, Box Office Mojo e Filmow.

Nota: 6 de 10

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