terça-feira, 27 de março de 2012

Crítica de filme: A Dangerous Method (Um Método Perigoso - Festival do Rio 2011 - Parte 9)

David Cronenberg sempre teve seu nome associado a filmes nojentos e/ou cheios de sangue. Mas essa sempre foi uma visão reducionista demais da capacidade desse grande diretor. Sim, sem dúvida ele esteve envolvido em clássicos do horror nojento e sanguinolento (vide Rabid, Scanners - Sua Mente Pode Destruir, Videodrome, A Mosca e vários outros) e sim, sem dúvida são esses os filmes que marcam sua carreira e o torna um ícone desse tipo de obra. No entanto, nenhum dos grandes filmes de Cronenberg pode ser somente visto em sua superfície pois sua qualidades vão muito além das aparências. Eles tratam de violência, sexo, morte, horror psicológico e vários outros temas duro que são extremamente bem trabalhados, isso se você conseguir resistir às cenas que fazem alguns torcerem narizes.


Assim, não foi com muita surpresa quando Cronenberg começou a mudar seu estilo para tratar - pelo menos na superfície - de assuntos diferentes. Vieram, então, Spider - Desafie Sua Mente, Marcas da Violência, Senhores do Crime e, agora, Um Método Perigoso. Aliás, os três mais recentes filmes marcam a parceria do diretor com Viggo Mortensen, estrela dos três. Esse filmes, culminando com Um Método Perigoso, meio que invertem a lógica clássica de Cronenberg: são obras que até contém violência mas que não extrapolam os limites de nojeira e sanguinolência como víamos em suas obras mais antigas. Mas, não se enganem: as temáticas clássicas permaneceram intocadas.

Um Método Perigoso talvez seja o filme mais diferente de Cronenberg mas, novamente, só na superfície. Ele trata da estória verdadeira do embate intelectual entre Sigmund Freud (Viggo Mortensen) e Carl Jung (Michael Fassbender), o primeiro conhecido como o pai da psicanálise e, o segundo, considerado como o primeiro psiquiatra. Unindo - ou desunindo - os dois, temos Sabina Spielrein (Keyra Knightley), uma paciente de Jung.

A colaboração de Jung e de Freud é tratada de forma suficientemente didática para leigos como eu entenderem o que está acontecendo e apreciarem os pontos de divergência que levam meio que à separação dos dois. A aparentemente superficialidade de como assuntos complexos são tratados acaba favorecendo o filme mas pode desagradar aqueles que entendem do assunto. Considerando a aridez do assunto, achei que Cronenberg soube expor o tema na medida certa, até mesmo sacrificando o sequenciamento do filme.

Mortensen e Fassbender estão sensacionais no filme e as cenas em que os dois estão juntos, confabulando (como o famoso episódio em que os dois ficaram 12 ou 13 horas conversando sem parar), é realmente incrível. Tudo funciona bem: o tom das vozes, os gestos, o diálogo afiado.

Keyra Knightley, porém, foi muito mal escalada por Cronenberg. A atriz até se esforça mas ela não tem a profundidade dramática para contracenar com nenhum desses grandes atores e ela acaba fazendo uma caricatura débil e até irritante da paciente que se torna psiquiatra. Os momentos em que ela está presente em cena, seja tendo ataques psiquiátricos seja contracenando normalmente com os demais atores são quase desconcertantes e fazem o filme cambalear fortemente.

Mas as temáticas de violência, sexo e morte que marcam a carreira de Cronenberg estão lá firmes e fortes, debaixo da aparente normalidade do filme, pelo menos para os padrões "cronenberguianos". Apenas a já citada atuação e a necessidade de muito diálogo expositivo acaba derrubando a progressão do filme, tornando-o um pouco enfadonho, apesar de sua curta duração (99 minutos).

Mais sobre o filme: IMDB, Rotten Tomatoes, Box Office Mojo e Filmow.

Nota: 7 de 10

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